Empresa que facturou 16 milhões tinha sede num casebre sem electricidade

A Pérolas em Movimento terá sido criada para emitir facturas falsas para uma empresa exportadora de ouro usado.

Chama-se Pérolas em Movimento e facturou 16 milhões de euros a uma outra empresa – Goldropa, uma exportadora de ouro –, mas a sua sede era um minúsculo casebre, no concelho de Mira, que não tem nem água nem luz há duas décadas. O Ministério Público acusou recentemente de fraude fiscal a Goldropa, que tem sede no Porto e instalações em Gondomar.

A sede da empresa é visível no Google Earth

Apesar de nunca ter entregado qualquer declaração de IVA ou IRC, a Pérolas em Movimento terá emitido facturas no valor de 16.330.260 euros a esta empresa exportadora de ouro, segundo adiantou esta segunda-feira o Jornal de Notícias. O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) acusou a Goldropa de receber facturas falsas com o objectivo de reduzir os impostos a pagar ao Estado, conseguir reembolsos do IVA indevidos ou encobrir compras de ouro feitas sem recibo.

A Goldropa terá contado com a colaboração de um ourives de Lisboa que, segundo a investigação das Finanças, criou três empresas. Entre 2011 e 2012, estas emitiram perto de 34 milhões de euros em facturas. A Pérolas em Movimento seria uma dessas firmas. A Goldropa exportava ouro usado para Espanha, Itália e Bélgica.

A casa utilizada como sede da empresa era um pequeno casebre, em Mira. O dono da casa, que é descrito como um alcoólico, terá aceitado receber a correspondência da empresa em troca de 150 euros. "Esta casa não tem água nem luz há pelo menos 20 anos. Viviam lá duas pessoas, mãe e filho, que já faleceram. Ela há bastante tempo e ele há cerca de dois anos. Nunca tiveram uma empresa de ouro”, garante o vizinho Rafael Silva ao jornal.

Para além dessa firma, o ourives terá constituído outra empresa, a Oxipartículas, onde terá usado a documentação de uma cidadã brasileira para a registar em Braga. A mulher, que o ourives terá conhecido num bar, não tem qualquer património em Portugal e não apresentava declaração de rendimentos de IRS desde 2009. Apesar disso, a empresa chegou a emitir 17 milhões de euros em facturas.

Obrigado a pagar uma caução de 400 mil euros para sair em liberdade, o ourives está ainda proibido de sair do país e de exercer qualquer actividade relacionada com o sector do ouro. A investigação do Fisco à Goldropa abrangeu o período entre 2009 e 2012.

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