Protagonistas e candidatos a sê-lo lutam pelo seu espaço no PSD

Pedro Duarte e Miguel Morgado lançaram movimentos com propósitos e formas diferentes: um reflecte com a sociedade civil, o outro quer agregar a direita. Outros, como Miguel Pinto Luz, defendem que o PSD não pode ser um partido com uma visão redutora e que cabem nele várias sensibilidades.

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Pedro Duarte Rui Gaudêncio
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Miguel Pinto Luz Nuno Ferreira Santos
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Miguel Morgado Nuno Ferreira Santos
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Paulo Rangel,Paulo Rangel Enric Vives-Rubio,Enric Vives-Rubio
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Pedro Rodrigues Enric Vives-Rubio
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Luís Montenegro Daniel Rocha

A dez meses das legislativas, o PSD mostra-se inquieto não só pelas perturbações internas mas também por causa dos movimentos que estão em marcha lançados por sociais-democratas que lutam pelo seu espaço político – como Pedro Duarte e Miguel Morgado. Há também os que não estão associados a nenhum movimento e que se estão a preparar para um dia serem candidatos à liderança do PSD – casos de Luís Montenegro e de Miguel Pinto Luz, os dois nomes que foram considerados peças-chave no futuro do partido por Miguel Relvas.

Mais discreto mas não descartável no futuro do PSD é Carlos Moedas. O comissário europeu, se não se mantiver no cargo, já se mostrou disponível para colaborar no partido – como afirmou ao Expresso na semana passada –, embora ainda seja cedo para se perceber como será esse regresso. O certo é que já se excluiu de candidato do PSD às europeias.

No PSD, a existência de movimentos de reflexão internos não é novidade. Só nos anos mais recentes conta-se a Plataforma de Crescimento Sustentável, fundada por Jorge Moreira, ex-vice-presidente do PSD, e o Movimento Portugal Não Pode Esperar, lançado por Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD. Aliás, o próprio Passos Coelho criou a Plataforma Construir Ideias antes de chegar à liderança do PSD, em 2010.

Pedro Duarte faz ligação à sociedade civil

Pedro Duarte, que foi director de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2016, foi o mais taxativo a desafiar, no Verão passado, Rui Rio para sair da liderança do PSD. Depois fundou um movimento que reúne só pessoas de fora do PSD. “Eu sou a única ligação ao PSD, não escolhi ninguém do PSD, apesar de haver muita gente válida no partido. O objectivo é mesmo ouvir a sociedade civil”, afirmou ao PÚBLICO o antigo líder da JSD. Com o Manifesto X, o objectivo é criar um programa alternativo de Governo, mas Pedro Duarte admite que o movimento pode servir como “fonte de inspiração”, caso se concretize uma candidatura.

Pedro Duarte considera que o nascimento de vários movimentos dentro do PSD ou protagonizados por sociais-democratas, como o seu, tem a ver com o desencanto com o sistema tradicional. “As pessoas não se revêem na linguagem política dos partidos. Há uma discrepância entre o debate e as propostas e a realidade”, justifica.

A colaboração de António Saraiva, presidente da CIP, foi a última novidade divulgada da equipa do Manifesto X, dividida por várias áreas, da qual fazem parte Nuno Garoupa, professor na Universidade de Washington e ex-presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, como responsável pela pasta da Justiça, e Francisco Ramos, que dirige o movimento “Porto, Nosso Movimento” – de Rui Moreira – que coordena o Território. Depois de um primeiro debate (online) sobre Cultura, o movimento vai organizar outro no dia 12, sobre Felicidade – como construir um Portugal mais feliz.

Pinto Luz prepara-se com descrição

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais e ex-líder da distrital de Lisboa, admite vir a ser candidato à liderança do PSD. Não tem um movimento associado a si mas tem um peso-pesado do PSD ao seu lado: Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais. Os dois estão alinhados. No dia 25 de Novembro, o presidente da Câmara de Cascais publicou simbolicamente na sua página de Facebook um manifesto em que desafia “os reformistas e moderados confrontarem os revolucionários e reaccionários”. No mesmo dia, o vice-presidente da autarquia publica um artigo no PÚBLICO em que defende que os moderados (grupo em que se auto-inclui) de centro-direita ou de centro-esquerda precisam de “lutar e recuperar o monopólio da realidade”.

Até o momento de a disputa interna acontecer Miguel Pinto Luz opta por dar tréguas públicas a Rui Rio e admite até fazer campanha pelo PSD nas eleições de 2019. Ao que o PÚBLICO apurou, Pinto Luz tem feito contactos dentro do partido, com parcimónia, para preparar uma eventual candidatura à liderança, mas para já recusa-se a apresentar como alternativa ao actual líder quando não há disputa eleitoral marcada. O seu papel é, no entanto, visto de outra forma pela linha oficial do partido: o vice-presidente David Justino apontou Carlos Carreiras e Miguel Pinto Luz como alguns dos responsáveis pela guerrilha interna contra Rui Rio.

O autarca olha com preocupação para o actual PSD que considera estar a afunilar as suas várias tendências, o que sempre foi a riqueza do partido. "Tanto o PSD como o país estão a viver momentos de incerteza e ambos têm de voltar às suas origens. O PSD, na sua origem, é uma multiplicidade de visões e de formas de perspectivar a sociedade e o mundo. Líderes que querem reduzir o PSD a uma única visão do país reduzem o potencial do PSD de ser esse partido transformador da sociedade", afirmou Miguel Pinto Luz ao PÚBLICO.

Morgado quer reorganizar a direita

Assumindo que a direita vive uma das priores crises desde 1978, Miguel Morgado propõe-se liderar um movimento para reconstruir e agregar as direitas, assumindo-se contra um PSD que se veja apenas como partido social-democrata. O ex-assessor político de Passos Coelho defende que o PSD deve alargar a sua base eleitoral e insurge-se contra a “pureza ideológica que o PSD nunca teve, nunca quis ter e para a qual não se pode reivindicar o legado de Sá Carneiro, que era o contrário desse estreitamento”.

O think thank que está a ser construído não se cinge ao PSD. Miguel Morgado refere que tem falado com pessoas do PSD, do CDS e com outros que não têm filiação partidária. “Só não vou incluir ninguém da esquerda”, afirmou ao PÚBLICO. O movimento ainda está em preparação, não tem nome nem data para ser apresentado. Mas servirá para “falar ao país de várias maneiras sem que haja ruído de fundo”, explica o deputado, que dá o tom do espaço de reflexão não socialista: “acabar com o politicamente correcto”.

O deputado garante que este movimento não está relacionado com uma sua eventual candidatura à liderança do partido. Em entrevista ao Observador publicada na passada semana, Miguel Morgado admitiu ter sido um “erro” não ter avançado como candidato à liderança do PSD há um ano, na sequência da saída de Passos Coelho. E defendeu que se devem candidatar todos aqueles que “têm responsabilidades políticas e que têm um contributo a dar”. Uma tese que contraria a de Miguel Relvas que, há algumas semanas, alertou no Expresso para o risco da “sportinguização” do partido na próxima disputa eleitoral interna.

Montenegro gere silêncios e críticas

O ex-líder parlamentar do PSD marcou o terreno logo no congresso de consagração de Rui Rio, em Fevereiro, e dois meses depois renunciou ao mandato no Parlamento. Luís Montenegro deixou a bancada, mas não o espaço mediático. Tem rubricas fixas na rádio e na televisão nas quais aproveita para criticar o Governo, mas sem deixar de fazer reparos à direcção de Rui Rio. Tem feito uma gestão de silêncios sobre o actual estado do PSD para não ser acusado de fazer guerrilha interna. Sem nenhum movimento de reflexão associado, Montenegro reúne muitos dos apoios internos para ser candidato à liderança do PSD. No partido há quem o critique por ter escolhido esperar pelo momento certo para avançar e ter recuado há um ano. Agora, tudo aponta para o pós-legislativas de 2019.

Até lá há ainda eleições europeias, nas quais ainda não há certezas sobre se Rio mantém Paulo Rangel como cabeça de lista. O eurodeputado é também um nome que poderá ganhar nova força na futura disputa eleitoral interna. Esse é o momento que no PSD ainda ninguém aponta a data com certezas absolutas: na direcção sugere-se que o mandato de Rio vai até ao fim, mesmo em caso de derrota eleitoral; já os mais críticos não descartam um congresso após as europeias. A corda parece esticada. Mas não se sabe quando se partirá. 

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