Os novos deslocados fogem da seca ou da subida dos níveis do mar

Há anos que os especialistas avisam que as alterações climáticas vão estar na origem de fluxos mais complicados de gerir do que as vagas em fuga de guerras e perseguições.

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Campo de população deslocada devido à seca em Baidoa, na Somália FEISAL OMAR/Reuters

Actualmente, há pelo menos 258 milhões de pessoas em todo o mundo a viver fora dos seus países de origem. O Pacto Global da ONU para as Migrações Seguras, Ordeiras e Regulares (assinado estas segunda-feira em Marrocos) parte do princípio que este é um número que vai continuar a aumentar: os efeitos das alterações climáticas, que em 2018 já tinham levado 25 milhões de pessoas (reconhecidas oficialmente como refugiadas) a abandonar as suas casas são um dos motivos.

O aumento da população, as desigualdades crescentes ou os desequilíbrios demográficos são outras razões para sabermos que haverá mais gente a tentar mudar de região ou de país. Há anos que os especialistas em migrações avisam que as alterações climáticas – e, indirectamente, a poluição – vão estar na origem de fluxos mais complicados de gerir do que as vagas de pessoas em fuga de guerras e perseguições (que nunca foram tão grandes desde a II Guerra Mundial).

Como já se observa, as mudanças no clima fazem subir as temperaturas e transformam campos agrícolas em baldios, reduzindo ao mínimo os recursos hídricos, destruindo a forma de viver de milhões – sempre aconteceu, mas o aquecimento global dos nossos tempos vai agravar muito esta dinâmica. A maioria dos estudos que trataram este fenómeno aponta para uns 200 milhões de deslocados até 2050, mas há estimativas que chegam aos 1.200 milhões, lembra o diário online infoLibre, num texto sobre o Congresso Internacional de Jornalismo de Migrações, realizado em Mérida a semana passada.

Estes novos imigrantes ou refugiados (já existem mas são quase invisíveis) ocupam parte do ponto 2 do Pacto Global da ONU para as Migrações, dedicado a “minimizar os motores adversos e os factores estruturais que levam as pessoas a deixar o seu país de origem”. Para isso, propõe-se que os países partilhem dados para melhorar “o conhecimento e a antecipação dos movimentos migratórios provocados por desastres naturais e efeitos adversos das mudanças climáticas e degradação ambiental, como a desertificação, a degradação da terra, a seca e a subida dos níveis do mar”. Só assim, escreve-se, será possível aos signatários “desenvolver estratégias de adaptação e resiliência” tendo como prioridade promover “a adaptação [dos afectados] no país de origem”.

“Quando maior é o impacto das alterações climáticas, maior é a pobreza, maior é a desigualdade e, por isso, maior será a migração e as deslocações”, disse no encontro de Mérida Inma Alonso, da organização Ajuda em Acção. “Esta equação é assim em qualquer país do mundo. As mudanças climáticas são um desafio global.” 

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