Braga. Quarteirão romano das Carvalheiras vai ser recuperado em 2020

Com ruínas de vários períodos históricos, entre os séculos I a.C. e VII, o espaço vai-se tornar num núcleo museológico. A requalificação vai custar, no mínimo, dois milhões de euros.

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LUIS EFIGENIO / nFACTOS

A antiga urbe de Bracara Augusta, construída há mais de dois milénios, vai estar próxima dos cidadãos do século XXI dentro de dois anos, na sequência de um projecto de requalificação que vai transformar a denominada Ínsula das Carvalheiras, classificada como Imóvel de Interesse Público, num espaço aberto ao público, com um núcleo museológico, um centro interpretativo daqueles antigos quarteirões romanos e uma área de fruição, com o aproveitamento do espaço verde que circunda as pedras erigidas há séculos.

O projecto, viabilizado por um protocolo assinado nesta segunda-feira entre a Câmara Municipal de Braga e a Universidade do Minho (UMinho), entidade responsável pela investigação até agora realizada sobre as ruínas das Carvalheiras, não está ainda elaborado, mas Ricardo Rio assumiu a vontade de o ver concretizado em 2020, com um custo nunca inferior a dois milhões de euros, independentemente de beneficiar ou não de fundos comunitários. “Iremos submeter o projecto a financiamento comunitário, mas não está em causa o projecto. A Câmara assumi-lo-á a expensas próprias, se não conseguir financiamento comunitário”, esclareceu.

Numa cerimónia em que também marcaram presença o reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, e o presidente da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN), António Ponte, a historiadora e arqueóloga Manuela Martins, autora de livros e estudos sobre Bracara Augusta, revelou que o pré-projecto arquitectónico para o espaço vai ser apresentado em Junho ou Julho de 2019.

A também vice-reitora da UMinho explicou, porém, as funcionalidades que vão ser atribuídas ao quarteirão com cerca de 2.000 metros quadrados. A musealização inclui a criação de circuitos de visita em conformidade com as “cotas de circulação romana” e a instalação de uma cobertura adequada às dimensões das ruínas. Já o centro interpretativo vai ser instalado numa das ruas que circundam a Ínsula das Carvalheiras (Rua da Cruz de Pedra), num imóvel da autarquia, e utilizado como porta de entrada para o núcleo museológico. “Esse centro vai contar a história das Carvalheiras, com recurso a novas tecnologias. O visitante já chega às ruínas com informação importante”, salientou. O quarteirão vai dispor também de uma área de fruição ao ar livre, que vai implicar a demolição do ringue de jogos aí situado.

A recuperação das Carvalheiras, salientou, por seu turno, Ricardo Rio, é mais um passo para a valorização do “património arqueológico romano” de Braga, um “recurso único” que distingue a cidade, e prova o compromisso da autarquia para com a candidatura a Capital Europeia da Cultura, que vai decorrer em Portugal, em 2027.

Ruínas com histórias de oito séculos

Os vestígios da Ínsula das Carvalheiras dão conta de uma ocupação humana que se estendeu do século I a.C até ao século VII d.C, adiantou Manuela Martins. O quarteirão integralmente a descoberto, realçou, tem cerca de 160 metros quadrados e um ordenamento quadrado, demonstrativo da organização urbana de Bracara Augusta. A urbe romana foi planeada no século I a.C. e a primeira estrutura a surgir nas, hoje, Carvalheiras até foi uma domus – casas destinadas às elites de então, ao contrário das ínsulas, destinadas aos mais pobres. “Seria uma casa luxuosa, de arco e peristilo”, disse.

A arqueóloga e historiadora disse, porém, que a maior parte dos vestígios data dos séculos I e II a.C., altura em que parte da domus é transformada numa “área pública com balneário” e a “zona envolvente é alterada”. O que hoje se conhece de Ínsula das Carvalheiras, acrescentou Manuela Martins, foi descoberto entre 1983 e 2001, pelo trabalho da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM), e conta histórias não apenas sobre a arquitectura da época, mas também sobre os modos de vida das pessoas de então e até sobre um fenómeno como a especulação imobiliária, que marca a actualidade.

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