O amor e a crueldade, demonstrados por Mr. Percival, o pelicano

Baseado no livro de Colin Thiele, Storm Boy: The Game é uma obra destinada a um público infanto-juvenil. Mas falta-lhe longevidade para contar as vidas além do protagonista e da ave.

Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

Para  compreender Storm Boy: The Game enquanto videojogo ter-se-á sempre que ter em conta os escalões etários dos jogadores. Não podendo contrastar mais com Red Red Redemption 2, a obra da Blowfish Studios destina-se a um público infanto-juvenil, o que não significa que não tenha algo a dizer a todos.

Tendo como base o livro infantil de Colin Thiele publicado em 1964, a obra leva os jogadores até ao areal do sul Australiano, vestindo a pele de Storm Boy, um pequeno herói que dedica a sua existência a resgatar pelicanos, além de comungar com a vida afastada da cidade instigada pelo pai.

O arco narrativo começa a ganhar o afunilamento necessário para uma lição no final, quando um dos pelicanos resgatados por Storm Boy ganha nome: Mr. Percival. Mais do que uma ave, é um amigo, um companheiro de aventuras, a verdadeira força motriz que faz o protagonista explorar as dunas e até perceber a importância do dinheiro quando o pai lhe diz que um animal de estimação precisa de cuidados, alguns dos quais com um preço.

Como videojogo didático, Storm Boy: The Game ensina a tal lição valiosa no final: o quão cruel pode ser um humano no momento de satisfazer um capricho e o sublinhar de que a mesma espécie consegue manter na memória quem a marca de uma forma tal que a supressão do corpo não danifica irreparavelmente o que ficará.

É um final que alicerça a ponderação sobre os diferentes quadrantes do ser humano, disso não restam grandes dúvidas, tal como há a certeza que Storm Boy: The Game é um jogo muito, mas mesmo muito, curto. Certo que o preço também é reduzido, mas é uma adaptação de um livro que pode ser tranquilamente terminada em quarenta e cinco minutos. Fica a sensação que em vez de um livro tivemos oportunidade de jogar um capítulo: um capítulo que podia ser o último capítulo da obra de Thiele, mas que ainda assim deixa o pensamento de que ficou bastante por mostrar. 

Durante estes minutos, somos convidados a participar em vários mini-jogos, que vão desde desenhar na areia a alimentar outros pelicanos, passando por ajudar marinheiros – provavelmente o momento mais desafiante do ponto de vista da jogabilidade para uma criança – e até simplesmente sentir o prazer de voar ou mergulhar para ver o fundo do mar. É tudo muito simples e muito directo, ou seja, a dificuldade é nula. Novamente, é um videojogo que quer passar uma mensagem, começando pelos mais novos, pelo que os processos foram pensados para a infância.

É evidente que a Blowfish Studios quis que Storm Boy: The Game fosse uma estadia relaxada, algo que é sublinhado pelo aspecto gráfico. Optando por uma deslocação em cenários que se apresentam em duas dimensões falsas, ou seja, há uma profundidade dada aos cenários por onde se deslocam as personagens com uma modelagem que parece inspirada em ilustrações de um livro. Não esperem liberdade para explorar estas areias, pois a obra tem o jogador onde quer enquanto dura.

Isto não quer dizer que seja um departamento técnico mau. As cores e a plasticidade são apelativas, passando bem a sensação de que estas vidas estão isoladas no seu próprio mundo e, novamente, servindo também para ir construindo através da animação a relação entre Storm Boy e Mr. Percival. É pena que tais vidas não permitam uma maior interacção, ou seja, passando de livro a videojogo, é uma proposta que, excluindo os mini-jogos, se parece com uma leitura que coloca o jogador no papel de ouvinte.

Apontado a um público jovem, Storm Boy: The Game peca por ser demasiado curto e por essa escassez não lhe permitir uma afirmação mais vincada das personagens satélite. Mas conta bem a história entre o protagonista e o pelicano, mostrando o quão grande pode ser o coração de um humano.

Sugerir correcção
Comentar