Ministro diz que atitude dos bombeiros põe em causa segurança dos portugueses. Liga desmente

O ministro da Administração Interna apela a que todas as informações sobre ocorrências sejam enviadas pelo 112 para garantir "coordenação de meios". O presidente da Liga dos Bombeiros, Marta Soares, acusa ministro de estar a mentir.

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LUSA/ANDRÉ KOSTERS

O ministro da Administração Interna considerou esta manhã "absolutamente irresponsável" a atitude da Liga dos Bombeiros Portugueses dizendo que a falta de comunicação dos bombeiros aos Comandos Distritais de Protecção Civil (CDOS) "põe em causa a segurança dos portugueses". Eduardo Cabrita falava esta manhã na sede da Autoridade Nacional de Protecção Civil onde apelou à "responsabilidade" dos bombeiros, pedindo que todas as informações sobre ocorrências sejam feitas através do 112.

"É muito surpreendente a declaração de ontem à noite [da Liga dos Bombeiros]. Queria dizer-vos que é absolutamente irresponsável e põe em causa a segurança dos portugueses", disse o ministro numa declaração aos jornalistas. 

Para o ministro, a decisão dos bombeiros de não reportarem informações aos CDOS “põe em causa a coordenação de meios” e, por isso, a única opção agora é a de que o reporte de ocorrências se faça a partir do 112.

Em resposta, o presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, garantiu em declarações à RTP que a decisão não põe em causa a segurança das populações e acusa o ministro de mentir quando diz que as negociações ainda estavam a decorrer: “O senhor ministro sabe que não é verdade, sabe que nós dissemos que não nos voltaríamos a sentar à mesa se não nos enviasse respostas aos nossos documentos. Não teve uma palavra connosco. Já lá vão mais de 15 dias. Não é verdade, senhor ministro? O senhor sabe que esteve a mentir, não sabe?

Jaime Marta Soares responsabiliza Eduardo Cabrita e o Governo “por tudo o que se está a passar”, dizendo que falta ao ministro “sentido de responsabilidade de Estado”, ainda mais porque tem “humilhado e desrespeitado” os bombeiros.

Eduardo Cabrita refere que "é ilegal" o não reporte de informações e que daí "retirará todas as consequências". Tal como o PÚBLICO escreveu este domingo, o presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil tinha feito chegar um ofício onde escrevia que esta decisão não respeitava os princípios escritos no Sistema de Gestão de Operações. Na resposta a esta missiva de Mourato Nunes, a Liga voltou a enviar um ofício aos bombeiros onde garantia que assumiria "integralmente a responsabilidade destas decisões" e que os "despachos do presidente da ANPC não têm qualquer sustentação legal e como tal devem ser totalmente ignorados".

Na conversa com os jornalistas, o ministro não quis fazer um balanço sobre o número de bombeiros ou ocorrências que não tenham sido reportadas à estrutura de comando da Protecção Civil, por ser cedo para o fazer. Eduardo Cabrita quis no entanto salientar que recebeu informações de muitas entidades que lhe comunicaram que não iriam deixar de informar o comando porque não perceberam "a excitação" da Liga dos Bombeiros. 

Eduardo Cabrita foi bastante crítico da acção da Liga dos Bombeiros repetindo vezes sem conta que "ninguém percebeu" a comunicação do presidente da Liga, Marta Soares, que anunciou no sábado o corte com a Protecção Civil. 

Em causa nesta guerra entre a Liga dos Bombeiros e o Governo está a alteração à lei orgânica da Protecção Civil. A lei foi aprovada na generalidade em Conselho de Ministros no dia 25 de Outubro e ainda não viu a luz do dia. O prazo para as várias entidades se pronunciarem terminou no dia 21 de Novembro, mas até agora ainda não foi de novo aprovada pelo Governo. 

Foi com base nesta não aprovação que o ministro disse não perceber "a excitação" nem "o tom" da Liga. "É destituído de fundamento o tom em que fala quando o processo de diálogo está a decorrer", disse, uma vez que os diplomas ainda estão "em discussão pública". Aliás, na conversa com os jornalistas, o governante referiu que a nova legislação vai ao encontro as pretensões da Liga, criando um comando dos bombeiros com orçamento autónomo.

Garantiu o governante que "estes diplomas contemplam aquilo que é uma participação jamais existente da estrutura de bombeiros na Protecção Civil" que são, referiu "a coluna vertebral do sistema em transformação".

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