Estado põe comida na mesa de 73 mil pessoas

Programa financiado pelo Fundo de Auxílio Europeu às Pessoas mais Carenciada foi pensado para substituir rede de Cantinas Sociais.

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enric vives rubio

O objectivo era pôr comida na mesa de 60 mil pessoas. Volvido um ano, os novos cabazes alimentares do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas — que há um ano começou a substituir, de forma gradual, a Rede Solidária de Cantinas Sociais — entram na casa de mais de 73 mil pessoas.

Há muita gente de fora. Consultando instituições que acompanham quem vive na pobreza extrema percebe-se a distância entre a oferta e a procura. A Agência de Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro, por exemplo, sinalizou cerca de 400 famílias e viu nove serem contempladas com este apoio.

O ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Vieira da Silva, lembra que “este é um programa comunitário que tem um orçamento próprio”. Vieram 70 milhões de euros do Fundo de Auxílio Europeu às Pessoas mais Carenciadas para 2018 e 2019. “Poderia dirigir-se ao triplo das pessoas, mas com níveis de apoio muito mais baixos, mas isso não modificaria a situação das pessoas”, defende, lembrando que há outras medidas de apoio e que os Bancos Alimentares contra a Fome continuam a fazer um trabalho paralelo (curiosamente, o número de pessoas apoiadas por essas estruturas está a cair, tendo passado de 436 mil em 2015 para 370 mil em 2017).

O programa arrancou com um ano e meio de atraso. “Teve uma alteração muito profunda”, recorda Vieira da Silva. “No passado, os apoios eram mais ou menos casuísticos. O que nós fizemos, em colaboração com o Ministério da Saúde, foi definir um cabaz que corresponde a 50% das necessidades nutricionais das famílias”, recorda.

Além de arroz, massa, feijão, grão-de-bico, cereais de pequeno-almoço, atum em lata, sardinhas em lata, leite ultrapasteurizado, tomate pelado, azeite e marmelada, o cabaz traz congelados (frango, pescada, mistura de vegetais, espinafres e brócolos) e refrigerados (queijo e margarina). Até 23 de Outubro, tinham sido entregues 10.066 toneladas de bens alimentares a um total de 27.702 famílias.

No início, as organizações mostraram reservas. Era preciso montar uma rede capaz de conservar alimentos congelados. E a logística é intrincada. Cabe ao Instituto de Segurança Social receber os alimentos dos fornecedores. Todos os meses, tem de os entregar às associações que coordenam os 135 territórios em que o país foi dividido. Essas, por sua vez, distribuem-nos pelas várias entidades que trabalham a nível local. Daí é que seguem para as famílias.

A acção não se resume à entrega de alimentos. Além de distribuir os alimentos secos e não perecíveis uma vez por mês e os refrigerados e congelados uma vez por semana, as equipas devem acompanhar os destinatários. A ideia é ajudá-las a melhor fazer a gestão da vida doméstica.

 “É um novo programa com uma nova ambição e está com as dificuldades que as coisas novas têm, mas as avaliações que temos tido são positivas relativamente as mudanças que provocou na vida das pessoas”, garante Vieira da Silva. “Está a modificar os níveis de privação e a garantir a autonomia das pessoas na resposta a outras necessidades.”

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que a taxa de privação material está a descer. Ainda assim, tendo em conta os rendimentos de 2017, 2,4% da população portuguesa não tinha capacidade para ter uma refeição de carne, peixe ou equivalente vegetariano pelo menos de dois em dois dias.

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