O PS de Costa é a estrela no PSE, um partido em luta para não ser irrelevante

O primeiro-ministro português ainda não falou, nem precisou disso, para ser o exemplo que serve de base à estratégia dos socialistas europeus.

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Jeremy Corbyn
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Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia e candidato dos socialistas à sucessão de Jean-Claude Juncker; Sergei Stanishev, presidente do PSE; António Costa; e Fernando Medina

Não será por acaso que os socialistas europeus se juntam pela segunda vez consecutiva em Lisboa. Também não será por acaso que Fernando Medina sugeriu que a contabilização da influência socialista na Europa se fizesse em presidentes de câmara, e não em primeiros-ministros - é que o número destes, apenas seis, é o espelho das dificuldades dos socialistas europeus na conquista do eleitorados e a acção de três desses governantes também não orgulha o partido. Nesta reunião dos socialistas europeus percebe-se que o partido tenta definir uma estratégia para combater o populismo, primeiro; os “conservadores”, depois; e, sobretudo, percebe-se que o Partido Socialista Europeu (PSE) luta, antes de tudo, para não se tornar irrelevante, depois das eleições europeias que ameaçam dar uma machadada na bancada parlamentar da Aliança Progressista dos Socialistas & Democratas (S&D).

O PSE encolheu nos últimos anos e receia tornar-se ainda menor nas eleições europeias de 26 de Maio de 2016. Uns após outros, responsáveis do partido foram desfilando pelo palco no ISCTE a defender que esta é uma batalha para a qual têm de ter uma nova abordagem - “radical”, defenderam alguns; sem “ambiguidades”, diria mais tarde Augusto Santos Silva.

Para portugueses e estrangeiros, o inimigo principal é o “populismo” que nos discursos aparece com vários nomes, como “nacionalismo”, “extrema-direita” ou aqueles que não defendem o Estado de direito. O Governo de Costa é exaltado, Jeremy Corbyn é o esperado, logo ele que é líder dos trabalhistas do primeiro país que à beira de sair da União Europeia. Talvez por isso seja o melhor exemplo para as centenas de delegados de vários países que se reuniram em Lisboa para definir a estratégia para as eleições europeias. Essa, defendeu Corbyn no seu discurso de 25 minutos, tem de mostrar os erros da austeridade que levou muitos a voltarem costas aos socialistas e sociais-democratas, com “danos na sua credibilidade”, e a votarem ao lado de populistas ou em soluções como o "Brexit", “porque estavam zangados”.

O diagnóstico está feito e a cura passa por “políticas progressistas” como aquelas que foram levada a cabo em Portugal, que mostraram que “há um caminho melhor”, defendeu o inglês, e por rejeitar a “ortodoxia” económica, leia-se dos novos liberais. Um caminho que tem de ser “para muitos, e não para alguns”, repetiu.

O chavão mais usado pelos socialistas europeus é uma palavra que dificilmente pode ser usada em cartazes. Ser “progressista” não entra nos ouvidos dos eleitores, apesar de dizer muito a estes delegados que em Lisboa defenderam a necessidade de “abrir as portas e janelas”, disse Udo Bullmann, membro do SPD alemão, que se bateu por uma política migratória inclusiva e não “antimigrantes”, ou pela necessidade de adoptar políticas amigas do ambiente, políticas equitativas entre homens e mulheres e respeitadoras dos direitos humanos. António Guterres, aliás, foi um dos portugueses mais referidos, ou não se celebrasse na segunda-feira o 70.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem. A proclamação de valores, mais do que de soluções ou de políticas, ocupou o espaço do congresso deste que foi um dos maiores partidos europeus que agora luta para não ir ao fundo.

No campo da política, o inimigo número um dos do PSE tem várias caras. “Não é legítimo que os socialistas democráticos sejam ambíguos no que tem de ser a sua luta básica contra populismos, xenofobia e nacionalismos”, defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Mas não é qualquer populismo ou autoritarismo. São todos. “Não podemos ser ambíguos para com regimes autoritários, venham da direita ou esquerda, sejam da Europa, América Latina, África ou asiáticos. Nós somos socialistas, por isso somos pelas democracias liberais. Temos de lutar contra toda a forma de regimes autoritários”, defendeu o governante numa curta intervenção durante a tarde.

Esta luta será, na opinião de Carlos Zorrinho, uma luta de dois combates. “Vão ser travados dois combates fundamentais que não se confundem. O primeiro combate é o da sobrevivência do projecto europeu e dos seus valores, é vencer os anti-europeus. E o segundo combate é mostrar que, dentro dos que defendem a Europa, há uma alternativa”. “Temos de vencer os anti-europeus, consolidar a maioria pró-europeia” e isso será feito se os socialistas conseguirem captar o “voto útil”. “Não haverá voto mais útil do que aqueles votos que forem canalizados para os socialistas e sociais-democratas, e para o PS em Portugal. É o voto útil que serve para salvar o projecto europeu de radicalismos”, disse Zorrinho.

Pela mesma bitola alinhou o secretário-geral do PSE, o alemão Achim Post, que defendeu que as eleições de Maio do próximo ano serão uma “escolha entre conservadores e socialistas”.

Esta sexta-feira foi o primeiro dia da reunião dos socialistas, que consagrou o holandês Frans Timmermans como o candidato do PSE à Comissão Europeia, uma escolha feita antes da chegada à reunião em Lisboa. Este sábado será a vez de subirem ao palco três primeiros-ministros socialistas, António Costa, o espanhol Pedro Sanchéz e Joseph Muscat, de Malta.

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