População em vigília pela remoção de resíduos perigosos de São Pedro da Cova

Início dos trabalhos já esteve previsto por duas vezes, mas uma "acção judicial" terá suspendido o processo. Esta sexta-feira a população junta-se para não cair no esquecimento: ainda há 125 toneladas de resíduos perigosos nos escombros das antigas minas

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Foram retiradas 105 mil toneladas de resíduos, mas faltam ainda 125 mil Adriano Miranda
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Minas de São Pedro da Cova deixaram de laborar há quase 50 anos Adriano Miranda
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Resíduos foram depositados nas escombreiras das minas entre 2001 e 2002 Adriano Miranda

Na pequena vila a uns vinte quilómetros do Porto habita há duas décadas “um problema ambiental gravíssimo”. Os resíduos industriais perigosos, depositados pela Siderurgia Nacional nas escombreiras das minas de São Pedro da Cova entre 2001 e 2002, condenaram ao medo a população da terra mineira. “Não se vêem nem se sentem”, mas são sombra constante e ponto de interrogação no futuro das gentes da vila, diz Pedro Miguel Vieira, presidente da junta de freguesia de São Pedro da Cova e Fânzeres. “Não sabemos ao certo que consequências isto terá. Mas os lençóis freáticos e contaminação das águas são reais e o problema não é só da vila mas de Gondomar inteiro.” É por essa inquietação e para contestar os “sucessivos adiamentos” da remoção dos resíduos que a população se vai juntar numa vigília esta sexta-feira, às 18h30, junto ao centro de saúde local.

A resolução do problema teve início em Outubro de 2014: durante oito meses foram retiradas 105 mil toneladas de metais pesados das antigas minas. Mas não seria o fim da história. Tempos depois, descobriu-se que ainda havia vestígios do material ali depositado pela empresa industrial Siderurgia Nacional, que trabalhou na Maia entre 1976 e 1996. As 125 toneladas excedentes motivaram a abertura de novo concurso público internacional e em 2017 o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, anunciava o fim do imbróglio para o ano seguinte. Mas em Abril deste ano as datas eram corrigidas: o início da remoção estava previsto para esse ano e 2019 marcaria o desfecho do assunto. Até agora, nada aconteceu.

Desta vez, justifica o Ministério do Ambiente em resposta ao PÚBLICO, “foi intentada uma acção judicial que, por ter, nos termos da lei, efeito suspensivo imediato, impede o início dos trabalhos de remoção”. Previsões de fumo branco não existem: "A CCDR-Norte, responsável pela obra, aguarda a decisão judicial para dar início às obras”, explica o gabinete de comunicação, acrescentando que os trabalhos podem começar “logo que haja decisão judicial.”

Para a junta de freguesia local o adiamento é incompreensível: “Há dinheiro e uma empresa que ganhou o concurso. O Ministério [do Ambiente] empurra responsabilidades para o tribunal e não se percebe o que leva a este impasse”, lamentou o autarca Pedro Miguel Vieira. “Está em causa o superior interesse público, o problema tem de ser ultrapassado.”

O caso tem carácter urgente, garante o Ministério, apresentando como “prova” desse empenho o facto de ter providenciado “os recursos necessários para a empreitada da remoção dos resíduos, alocando uma verba de 12 milhões de euros a essa obra, financiada através do Fundo Ambiental”. Para a população da vila que chegou a ser considerada um motor do Norte do país e onde as minas deixaram de laborar há quase 50 anos, a demora é angustiante. “O Governo garante que não caiu nem cairá [em esquecimento].” Na vigília desta sexta-feira volta a pôr-se luz sobre o assunto.

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