Comissão de Tancos vai ouvir pelo menos 63 personalidades, Costa incluído

PCP sugere presença de Rui Rio, por este ter afirmado que sabia mais do que o que podia dizer sobre a investigação ao furto de equipamento militar.

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A comissão de inquérito é presidida pelo socialista Filipe Neto Brandão Daniel Rocha

Todos os requerimentos de pedidos de audiência e de documentação foram aprovados nesta quarta-feira pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao furto de equipamento militar nos Paióis Nacionais de Tancos, detectado em finais de Junho do ano passado. 

Assim, a CPI vai ouvir até Maio do próximo ano um grupo de pelo menos 63 personalidades, que inclui actuais e antigas chefias militares, actuais e ex-ministros, magistrados e investigadores. Até o primeiro-ministro vai ser chamado. A audição de António Costa foi a única a gerar alguma polémica, não porque houvesse discórdia quanto a ouvi-lo, mas pelos termos do requerimento do PS.

Os socialistas pedem especificamente que Costa seja ouvido por escrito, quando PSD e CDS entendem que, como diz a lei, lhe cabe decidir se quer ser ouvido por escrito ou presencialmente. “A requisição do PS quer obrigar o primeiro-ministro a assumir uma acção que a ele cabe decidir. Se o primeiro-ministro quiser depor presencialmente, nós vamos impedi-lo?", questionou Carlos Peixoto, do PSD. Depor presencialmente "pode ser do interesse do primeiro-ministro", acrescentou Telmo Correia, do CDS, assumindo contudo que duvida que Costa o faça.

Ascenso Simões, do PS, argumentou com a prática seguida em anteriores comissões de inquérito, em que os primeiros-ministros, sempre que chamados, responderam por escrito. E lembrou as palavras do presidente do PSD, Rui Rio, que afirmou que pedir a presença de Costa “era ir atrás do foguetório”. O PS não recuou e PSD e CDS acabaram por se abster na votação do requerimento do PS.

Mas o nome de Rui Rio já tinha vindo à conversa pela voz do PCP. O deputado Jorge Machado lembrou que o seu partido não “pediu deliberadamente” a presença do líder do PSD, mas sugeriu que ele se apresentasse por iniciativa própria, uma vez que, antes de se saber do encobrimento no achamento do material de Tancos, Rio tinha afirmado por duas vezes que sabia mais do que o que podia dizer. E depois de se saber do encobrimento disse que não estava surpreendido.

Berta Cabral, do PSD, disse que a lista de audições não estava fechada, mas lembrou que as declarações de Rio já tinham sido explicadas. O líder do PSD tinha feito essas afirmações por “dedução lógica”.

Na próxima quarta-feira a comissão volta a reunir-se para aprovar a lista e a sequência das audições. A CPI tem o prazo de 180 dias, até Maio de 2019, prorrogável por mais 90, para chegar a conclusões.

Insultos na Comissão de Defesa

Também relativa a Tancos, a reunião, da parte da manhã, da comissão parlamentar de Defesa foi bem mais confusa, com deputados do PS e CDS-PP envolveram-se numa acesa troca de insultos por causa dos documentos sobre o furto do material militar.

Ascenso Simões (PS) e António Carlos Monteiro (CDS), relatou a Lusa, protagonizaram o episódio, pouco usual na comissão: o deputado centrista disse que Ascenso Simões era “um arruaceiro” e o socialista respondeu-lhe: “Fascista! O senhor não é dono do Parlamento!”.

Com a crispação e a vozearia entre os dois deputados a aumentar de tom, e falhadas as tentativas de acalmar a situação, alguns deputados começaram a abandonar a sala. Os trabalhos recomeçaram alguns minutos depois, já depois de serenados os ânimos, que aqueceram quando Monteiro se queixou de estar a ser constantemente  interrompido por Simões.

“Falou por cima de mim, falou, e enquanto o presidente não me retirar a palavra, o senhor não fala”, insurgiu-se António Carlos Monteiro. E o diálogo prosseguiu: “Mas o CDS acha que é o dono do Parlamento?”

A troca de insultos atingiu um pico de irritação mútua quando Ascenso Simões exclamou: “E mais: o senhor é um fascista!” E António Carlos Monteiro devolveu: “Fascista é quem não deixa falar os outros!”

Os deputados estavam a decidir o que fazer aos documentos sobre o furto de Tancos enviados pela Procuradoria-Geral da República à comissão de Defesa, na sequência de um requerimento do CDS. Como alguns dos documentos estavam em segredo de justiça, o presidente da comissão parlamentar, Marco António Costa, propôs que, caso a comissão de inquérito ao furto de material militar de Tancos venha a pedi-los, a comissão de Defesa pergunte à PGR se os pode disponibilizar à comissão de inquérito e em que termos. com Lusa

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