Novo director do Museu de Serralves será escolhido por convite

Rui Vilar substitui Luís Braga da Cruz na presidência do Conselho de Fundadores, que ontem teve a sua reunião anual. Recondução de Ana Pinho à frente da administração deverá ser confirmada em breve.

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Rui Moreira ontem à chegada à reunião do Conselho de Fundadores: apenas o presidente da Câmara do Porto falou no final aos jornalistas NELSON GARRIDO

A administração da Fundação de Serralves está a recorrer a uma empresa internacional da especialidade para a ajudar a encontrar o próximo director artístico do Museu de Arte Contemporânea, que será escolhido por convite, e não através de um concurso internacional, como sucedeu com João Ribas.

A informação foi prestada esta noite, após a reunião do Conselho de Fundadores (CF), pelo presidente da Câmara do Porto, que disse também aos jornalistas que o sucessor de Luís Braga da Cruz na presidência do CF será Rui Vilar. Segundo Rui Moreira, o nome do ex-presidente da Gulbenkian (entre 2002 e 2012), que foi proposto por ele próprio e por João Marques Pinto, António Gomes de Pinho, Teresa Gouveia, Artur Santos Silva, Valente de Oliveira e Paulo Azevedo, entre outros, foi aprovado por aclamação.

Nem Rui Vilar nem nenhum membro da actual administração se disponibilizou para falar com os jornalistas, mas a fundação enviaria depois um comunicado, no qual confirmava a eleição unânime de Rui Vilar e adiantava a lista de 19 novos fundadores, entre os quais estão as câmaras municipais de Vila Nova de Gaia e Mirandela, e várias empresas e escritórios de advogados.

O comunicado não faz qualquer referência à solução encontrada para a escolha do novo director artístico nem adianta quaisquer informações relativas à recomposição da administração. Sabe-se apenas que o gestor Pedro Pina será substituído pelo patologista e investigador Manuel Sobrinho Simões, mas não foram ainda anunciados os nomes dos administradores que substituirão o advogado Manuel Cavaleiro Brandão e a gestora Vera Pires Coelho, que terminam agora o seu terceiro mandato.

Também não ficou formalmente decidida nesta reunião a recondução da actual presidente, Ana Pinho, já que caberá à nova administração escolher internamente quem a presidirá no próximo triénio. Mas não parecem existir dúvidas de que Ana Pinho se manterá em funções. “Depreendo que não haverá grandes alterações na administração”, disse Rui Moreira à saída, adiantando que foi a este encontro reafirmar o que já dissera em Setembro, quando, na sequência da polémica desencadeada pela exposição de Robert Mapplethorpe e pela demissão de João Ribas, propôs uma reunião extraordinária dos fundadores, que o presidente agora cessante, Luís Braga da Cruz, se recusou a convocar.

“Serralves teve sempre programas e projectos curatoriais claramente autorais, assumindo os gostos, a identidade e as visões artísticas dos seus sucessivos directores, reservando-se ao conselho de administração as funções de gestão dos recursos necessários para a sua correcta concretização”, lembrou o autarca na sua intervenção perante o CF, defendendo que “esta separação de poderes constitui a pedra basilar de uma fundação desta natureza, em Portugal ou em qualquer sociedade informada no mundo”.

Princípio que poderá ter sido posto em causa, argumentou Moreira, “com a recente polémica (...), porque exacerbou a exótica realidade de termos um projecto de fundação da dimensão e importância de Serralves a funcionar sem as principais figuras de direcção”.

Defendendo, já na conversa com os jornalistas, que “muito do ruído de fundo se poderia ter evitado se os fundadores tivessem vindo dizer em Setembro o que agora vieram dizer”, Moreira acrescentou que dois outros fundadores, António Gomes de Pinho, ex-presidente da administração de Serralves e do próprio CF, e Paulo Azevedo, da Sonae, também sublinharam que “é preciso manter o modelo de separação de poderes”.

O presidente da Câmara do porto elogiou, no entanto, a intervenção de Ana Pinho no encontro e diz que as garantias que esta deu de que está já a correr o processo de escolha de um novo director artístico “dão razões para estarmos menos preocupados e mais expectantes”.

O encontro serviu também, como é habitual, para a apresentação formal aos fundadores do plano de actividades para 2019. Como é habitual, a reunião terminou com a apresentação dos novos fundadores, um momento geralmente aberto à imprensa, mas que desta vez decorreu também à porta fechada.

De resto, e a julgar por esta reunião, a estratégia de Serralves para o relacionamento com a imprensa parece estar a distanciar-se dos padrões que sempre foram sendo mantidos desde que a fundação foi criada. Os jornalistas que esta quarta-feira chegaram ao Museu de Serralves à hora prevista para o início da reunião, pelas 18h00, tiveram de esperar duas horas e meia sem saber se alguém falaria no final ou se iria ser distribuído algum comunicado, ignorância que se manteve até depois de o encontro ter terminado, quando finalmente lhes foi dito que nenhum membro da administração se mostrara “disponível para falar”.

Para não mencionar o momento um pouco exótico em que uma jornalista teve de sair e ir a um café porque lhe foi vedado o acesso às instalações sanitárias – aparentemente ficavam demasiado próximas do auditório onde decorria o encontro –, interdição depois suavizada: quem quisesse podia ir ao quarto de banho desde que acompanhado por uma funcionária.

Notícia corrigida dia 6/12/2018: esclarece que a lista de proponentes de Rui Vilar foi encabeçada por Rui Moreira.

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