A senhora de rosa da Coreia do Norte vai dar lugar a uma geração neón

Responsável pela confirmação de lançamento de mísseis ou pela comunicação emotiva das mortes dos líderes do regime, Ri Chun-hee foi durante décadas umas das caras mais conhecidas da Coreia do Norte. Vai reformar-se.

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Comunicou a morte de Kim Il-sung, fundador da Coreia do Norte, em 1994 em lágrimas. Fê-lo novamente para comunicar a morte do filho, Kim Jong-il, em 2011. Mais recentemente, voltou a aparecer de cor-de-rosa para anunciar com orgulho e entusiasmo o lançamento de um míssil balístico. Agora, Ri Chun-hee, a apresentadora da Coreia do Norte vai ser substituída.

A pivô do canal estatal KCTV, que durante décadas foi a cara deste país isolado para o mundo, vai ser substituída por uma geração mais jovem. A estratégia do líder norte-coreano Kim Jong-un é modernizar a comunicação para projectar a imagem de um país moderno e tecnológico.

No lugar do fato tradicional coreano — o hanbok — cor-de-rosa, que lhe valeu a alcunha de “senhora de rosa”, deverão agora surgir cores néon, antecipa o Telegraph.  

"O principal lema da nova era de Kim Jong-un é alcançar as tendências do novo século. Poderíamos dizer que a mudança de direcção foi reflectida nas produções dos programas", explicou Kang Dong-wan, professor da universidade sul-coreana Dong-A em Seul, em declarações ao canal norte-americano ABC News.

É expectável que a nova geração surja em cenários mais modernos e não leia as notícias a partir de um papel, como fazia Ri Chun-hee.

Os novos formatos deverão incluir conteúdos mais diversos, focados nas conquistas do país, mas mantendo as entrevistas à população, que deve expressar a sua gratidão ao líder norte-coreano.

Ri Chun-hee já se tinha afastado do canal em 2012, mas continuava a ser ainda a pessoa escolhida para aparecer nas televisões quando o Estado tinha grandes notícias para dar ao povo, entre os quais as dezenas de lançamentos de mísseis, incluindo intercontinentais. Os seus relatos eram extremamente emotivos e mereceram um elogio do Presidente Donald Trump, aquando o seu encontro com o líder norte-coreano, que afirmou que a pivô devia arranjar um emprego nos EUA. 

"A voz dela passou a ser tão apelativa que, sempre que dá as notícias, os espectadores ficam emocionados", lê-se num perfil publicado na revista estatal da Coreia do Norte Chosun Monthly, em 2009. "Quando Ri anuncia reportagens e comunicados, os inimigos tremem com medo", cita a Reuters.

Acredita-se que Chun-hee tenha nascido em 1943, no seio de uma família pobre em Tongchong. Estudou artes performativas na Universidade de Teatro de Pyongyang. Em 1971, começou a trabalhar na KCTV e, em pouco tempo, o seu estilo ao ler as notícias colocou-a a trabalhar como pivô. A colocação de voz, o dramatismo com que lia notícias e a assertividade com que defendia o líder do regime eram marcas da “senhora de rosa”.

“Ela tem uma voz agressiva. Uma voz que, como os norte-coreanos dizem, enche o televisor”, descrevia um desertor da Coreia do Norte, Kim Jong, em 2009. “Quando cheguei à Coreia do Sul e ouvia os pivôs parecia que estava a ouvir uma conversa entre os meus pais. Às vezes enganavam-se nas palavras, coisa que na Coreia do Norte jamais seria permitido. Se se enganassem eram despedidos”, contava Kim Jong.

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