Polícia detém novo chefe da máfia siciliana antes de este tomar posse

O italiano Settimo Mineo, de 80 anos, cumpriu já duas penas de prisão por associação mafiosa e outros crimes e foi designado como sucessor de Totò Riina.

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Settimo Mineo escoltado por dois polícias em Palermo, Sicília LUSA/IGOR PETYX

Settimo Mineo, um joalheiro de 80 anos que se crê que seja o novo chefe da Cosa Nostra, a máfia siciliana, foi detido esta terça-feira em Palermo, anunciaram as autoridades italianas. Além de Mineo, terão sido detidas pelo menos outras 45 pessoas.

Após a morte em 2017 do antigo líder da máfia Totò Riina – conhecido como o “chefe dos chefes” – enquanto cumpria 26 penas de prisão perpétua, a cúpula da máfia siciliana ter-se-á reunido a 29 de Maio deste ano para decidir quem lhe iria suceder. Avança o diário italiano La Repubblica que os membros já não se reuniam oficialmente desde 1993, altura em que Riina ainda estava no poder.

Com a polícia sob alerta, esta reunião terá sido fundamental para o desmantelamento dos mais altos escalões da máfia siciliana. Após colocarem sob escuta o telefone de Francesco Colletti, um dos dirigentes mais antigos da organização, as autoridades terão ouvido este a discutir detalhes da reunião de 29 de Maio com o seu motorista – nomeadamente, sobre as pessoas que estiveram presentes no encontro. 

A detenção de Settimo Mineo, segundo a polícia, acontece pouco antes de este tomar posse oficialmente enquanto líder máximo da Cosa Nostra, numa cerimónia que já estaria agendada. 

Segundo o procurador italiano Cafiero De Raho, citado pelo jornal Washington Post, a nomeação de Settimo Mineo é significativa e mostra que o centro de poder da máfia siciliana foi transferido da cidade de Corleone (a antiga sede da máfia, que deu nome à personagem principal do célebre romance de 1969 e posterior série cinematográfica O Padrinho) para Palermo, e que a organização pretendia reorganizar-se.

Já o procurador Francesco Lo Voi sublinhou que Mineo é o mais velho dos líderes locais, o que lhe confere um estatuto de respeito no seio da sociedade criminosa. “Este é um sinal de que a Cosa Nostra não abandona as suas regras”, disse Lo Voi em conferência de imprensa. “Apesar das condenações e apesar dos julgamentos, as pessoas importantes podem assumir os papéis mais importantes assim que voltarem ao jogo”, acrescentou o procurador referindo-se ao tempo que alguns membros passam afastados quando são presos.

“Este é um dos golpes mais duros já infligidos pelo Estado à máfia”, disse entretanto Luigi Di Maio, vice-primeiro-ministro e líder do Movimento 5 Estrelas. O ministro do Interior, Matteo Salvini, recorreu ao Twitter para elogiar a “intervenção extraordinária” levada a cabo pela polícia na capital da Sicília.

“Eu caí das nuvens”

Em 1984, Settimo Mineo foi condenado a cinco anos de prisão por associação mafiosa, tendo dito em tribunal “não sei de quem estão a falar, eu caí das nuvens”, recorda o La Repubblica. Em 2006, foi novamente condenado a 11 anos de prisão. Assim que saiu em liberdade, conta o mesmo jornal italianom, Mineo foi-se aproximando dos outros membros da máfia de forma discreta: não usava telefone e deslocava-se muitas vezes a pé, de forma a não levantar suspeitas. Porém, os esforços não terão sido suficientes para evitar uma nova detenção.

Os 46 detidos na operação policial desta semana são agora acusados de associação criminosa, extorsão, posse ilegal de armas e fogo posto, entre outros crimes. Segundo as autoridades, esta operação é o resultado de quatro investigações criminais distintas que levou ao desmantelamento dos mais altos escalões da máfia siciliana.

Hoje em dia, os principais negócios da máfia estão relacionados com o tráfico de drogas e as apostas online, assim como a cobrança de dívidas, negócios que rendem milhões de euros, segundo o La Repubblica. As imagens da detenção de Settimo Mineo, junto com dezenas de outros suspeitos, foram partilhadas na Internet pela polícia de Palermo.

Texto editado por Pedro Guerreiro

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