Mercado de capitais em Portugal: declínio inevitável?

Quem investiu no PSI20 após 1998 e manteve o investimento até à atualidade terá, em média, registado perdas.

O mercado de capitais apresenta um papel essencial no crescimento económico, criação de emprego e redução dos níveis de pobreza. Na realidade, corresponde a uma infraestrutura central no funcionamento das economias, uma vez que permite, nomeadamente, colocar em contacto os agentes que possuem poupanças com aqueles que apresentam necessidades de financiamento; disponibilizar fundos de longo prazo para investimentos de maior risco; e melhorar o governo societário das empresas que se financiam através de instrumentos de dívida ou de capital.

Apesar da sua importância, o certo é que em Portugal o mercado de capitais apresenta uma trajetória decrescente, com o número de empresas com ações cotadas em bolsa a cair de 147 em 1997 para 57 em 2018. De igual forma, a capitalização bolsista apresenta valores abaixo dos registados no ano 2000, quer em termos nominais (62.470 milhões de euros em final de 2017 face aos 65.732 milhões de euros em final de 2000), quer em percentagem do PIB (34,8% do PIB em final de 2017 face aos 39,4% em final de 2000).

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Se o mercado de capitais em Portugal parece ser cada vez menos atrativo como plataforma de financiamento para as empresas portuguesas, em contraciclo com algumas das economias mais desenvolvidas, para os investidores o retorno obtido com a aplicação de fundos no mercado de capitais português também tem sido dececionante.    

Com efeito, utilizando como “proxy” de rendibilidade do investimento no mercado acionista português o índice PSI20, constatamos que quem investiu no PSI20 após 1998 e manteve o investimento até à atualidade terá, em média, registado perdas, as quais se situam muito acima do observado na generalidade dos mercados europeus (por exemplo, quem investiu 100 euros no PSI20 em janeiro de 1999 terá hoje 43,3 euros, excluindo eventuais dividendos).

Em sentido inverso, regista-se o comportamento do mercado norte-americano, com uma trajetória no mesmo período claramente positiva (por exemplo, quem investiu 100 euros no S&P500 em janeiro de 1999 terá hoje 213,8 euros).

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Para além da fraca performance (ou associada a ela), o mercado acionista português regista uma fraca liquidez na generalidade dos títulos cotados. Para ilustrar esta situação, observe-se o comportamento das ações do Sport Lisboa e Benfica (SLB), Sporting Clube de Portugal (SCP) e do Futebol Clube do Porto (FCP). Na semana de 26 a 30 de outubro de 2018, o número de ações e o turnover registado em bolsa para as ações do SLB, SCP e FCP foi de, respetivamente, 3289 ações (5585,4 euros), 3172 ações (2311,7 euros) e 1360 ações (882,9 euros).

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O “definhar” do mercado de capitais em Portugal é talvez um indicador avançado da (in)capacidade da economia crescer e desenvolver-se no futuro próximo.

Infelizmente, sobre esta matéria o Orçamento do Estado para 2019 nada diz e o que se discute são touradas em que, como diria Fernando Tordo, “entram vacas depois dos forcados que não pegam nada” e onde “só ficam os peões de brega cuja profissão não pega”.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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