Estão os guarda-redes mais perto de agarrar a Bola de Ouro?

A lista dos 30 melhores jogadores do mundo para a revista France Football contou com quatro guarda-redes e podiam ter entrado outros tantos. O PÚBLICO foi tentar saber porquê.

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Reuters/SERGIO PEREZ

Sem grandes surpresas, Luka Modric venceu a Bola de Ouro 2018. Trata-se de um médio criativo, que embora não tenha tanto impacto como Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi no momento da finalização, anda com regularidade perto das balizas adversárias, onde há sempre um guarda-redes a tentar frustar-lhe as intenções. Ao longo dos últimos anos, a classificação final que determina a atribuição do prémio da revista France Football tem traduzido um maior protagonismo dos guardiões. E, nesse aspecto, esta edição foi particularmente produtiva. 

Neste ano, figuraram quatro guarda-redes no top 30: Thibaut Courtois (Chelsea/Bélgica), Alisson Becker (Liverpool/Brasil), Jan Oblak (Atlético Madrid/Eslovénia) e Hugo Lloris (Tottenham/França). Um valor recorde no presente século e que, mesmo assim, deixa de fora alguns pesos-pesados da posição. "Não estão Neuer, Ter Stegen, Buffon ou De Gea. Isto diz muito da qualidade que temos hoje em dia e da importância dos guardiões no futebol actual”, aponta Gonçalo Xavier, fundador e editor do site sobre guarda-redes A Última Barreira.

Só um guarda-redes conseguiu levantar este prémio na história do futebol: o russo Lev Yashin, um dos melhores e dos mais carismáticos de sempre na posição, em 1963. No entanto, o papel do guarda-redes está a tornar-se “cada vez mais fundamental e decisivo”, avalia Quim, em declarações ao PÚBLICO. “Há guarda-redes a lutarem com jogadores que fazem golos. Têm mais decisão num jogo de futebol, tanto para quem marca, como para quem defende”, destaca o ex-jogador da selecção portuguesa.

É seguindo esta linha de raciocínio que Gonçalo Xavier acredita que há razões fundadas para acreditar que Yashin pode vir a ter um sucessor no futuro. Até porque a alternância entre Ronaldo e Messi no topo da hierarquia já dá sinais de abrandar. “Se Modric conseguiu, quebrando a hegemonia de 10 anos de dois dos melhores de sempre, porque não [um guarda-redes]?”, questiona.

A esse respeito, Gonçalo Xavier destaca a importância do alemão Manuel Neuer, terceiro classificado da Bola de Ouro de 2014. “Ainda estamos a colher os frutos do que Neuer fez no Mundial 2014 [no Brasil], onde foi campeão mundial. Aquela forma de abordar os lances, o resultado que dava à equipa e a novidade, entre aspas, no futebol na altura marcou um momento de viragem. Buffon e outros já faziam isso antes, de serem os primeiros construtores de jogo e limparem na profundidade. Mas Neuer deu ao mundo a valorização de técnicas que, em rendimento e enquadrado nos devidos contextos, dão resultados e valorizam o guarda-redes e o seu papel num jogo”, defende.

Mesmo tendo em conta que o jogo de pés é hoje crucial, para Quim, o italiano Gianluigi Buffon continua a ser um dos guardiões mais influentes da nova geração e “mantém-se lá mesmo com idade mais avançada”. “O futebol tem de mudar e os treinadores vêem nos guarda-redes não só um elemento para defender, mas como o início de um ataque. Para um guarda-redes é importante sentir isso quando continua a ser trabalhado para estas novas estratégias”, diz o antigo guardião de Benfica, Sp. Braga e Desportivo das Aves.

Estas qualidades reflectem-se também no inflacionado mercado de transferências, faz notar Gonçalo Xavier: “Os preços super-elevados já entraram nas balizas e os exemplos de Kepa (80 milhões de euros) e Alisson (75) estão aí. Isto diz muito da importância de um guarda-redes na actualidade. Eles marcam a diferença. A valorização e o reconhecimento geral são apenas uma consequência”.

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