Qatar anuncia saída da OPEP em dia de alta do preço do petróleo

Mercados animam com possível acordo entre russos e sauditas. Preço do barril em máximos desde Junho. Doha vai focar-se no gás natural liquefeito.

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O ministro de Energia do país, Saad Al-Kaabi Reuters/Naseem Zeitoon

O Qatar vai deixar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Janeiro, anunciou o ministro de Energia nesta segunda-feira.

Membro da OPEP desde 1961, Doha é um dos mais pequenos produtores da organização de 15 países, fundada em 1960. Em 2018, segundo o relatório de Novembro, produziu uma média de cerca de 600 mil barris por dia (a Arábia Saudita produz 11 milhões por dia), a quinta menor produção do universo da OPEP e a menor de entre os membros oriundos do Golfo Pérsico.

Em vez do petróleo, o reino vai focar-se na produção do gás natural liquefeito, disse o ministro Saad Al-KaabiChakib Khelil. O chairman da OPEP, o argelino, diz que esta saída terá um "impacto psicológico" por causa do confronto político entre Doha e os vizinhos, podendo servir "de exemplo a ser seguido por outros membros, face a decisões unilaterais da Arábia Saudita". "O momento pode tornar-se um ponto de viragem da OPEP em direcção à Rússia, à Arábia Saudita e os EUA", acrescentou. Estes três países são os três maiores produtores mundiais de petróleo, responsáveis por cerca de um terço da produção mundial.

"Não temos muito potencial [em petróleo], somos muito realistas, o nosso potencial é o gás", alegou o mesmo governante, cujo executivo está isolado por um boicote comercial, que afecta bens e pessoas, posto em marcha em 2017 pelos três países vizinhos, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e ainda o Egipto. O Qatar é o maior exportador mundial de gás natural líquido, produzindo 77 milhões de toneladas por ano. O objectivo é expandir essa produção para 110 milhões de toneladas por ano até 2024.

O ministro garantiu que a decisão de deixar a OPEP "não tem nada que ver com o bloqueio económico" árabe. "Muita gente vai politizar esta questão. Asseguro que é uma decisão puramente guiada por aquilo que é melhor para o Qatar no longo prazo. É uma decisão estratégica", disse o ministro, citado pela Reuters.

A inesperada decisão surge no mesmo dia em que o crude regista a maior subida desde o Verão – o que mostra que o mercado está a ignorar a saída do Qatar. O preço do Brent, negociado em Londres e que serve de referência para Portugal, registou a maior subida diária desde Junho. Às 10h30, o barril cotava a 61,85 dólares, traduzindo uma subida de 4,02%. Em Nova Iorque, o preço do West Texas Intermediate subia 4,48% para 53,21 dólares, depois de ter tocado num aumento de 5,7%.

Na base destes aumentos estão os cortes de produção anunciados pela principal região de Alberta, principal produtora do Canadá, e sobretudo o possível acordo entre Rússia e Arábia Saudita para 2019. O entendimento foi anunciado no fim-de-semana por Vladimir Putin, à margem da cimeira do G20 realizada na Argentina, mas nem Moscovo nem Riad confirmaram até agora o acordo.

"Não há decisão final sobre volumes, mas vamos tomá-la em conjunto em conjunto com a Arábia Saudita", disse Putin, aos jornalistas, em Buenos Aires. O mercado de futuros reagiu em alta, esperando que a novidade dada por Putin se traduza num acordo a anunciar esta semana, quando os membros da OPEP se reunirem na próxima quinta-feira, em Viena, sede da organização. Em cima da mesa está um eventual corte na produção da OPEP e da Rússia (a chamada OPEP+), para impulsionar a subida do preço das matérias-primas.

Outra nota positiva que está a animar os mercados é a trégua de 90 dias entre os EUA e a China no que toca à guerra de taxas aduaneiras

No Canadá, quinto maior produtor mundial, a província de Alberta estima cortar a produção em 325 mil barris por dia, menos 8,7%, a partir de Janeiro. O corte deverá manter-se até que os barris acumulados em stock sejam escoados. Os canadianos tentam assim pôr fim a uma crise provocada pela queda dos preços, em Novembro – a maior em dez anos –, que levou o crude canadiano a negociar 50 dólares abaixo do barril nos EUA.

Notícia corrigida acerca da subida diária do preço do Brent, que registou o maior ganho diário desde Junho e não o seu valor máximo desde Junho (em Outubro negociou acima dos 85 dólares por barril)

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