Fim de operações em Borba: foi “feito tudo aquilo que podia e devia ser feito”

Após 13 dias de buscas foi retirada da pedreira a última e quinta vítima e a operação de resgate foi "encerrada".

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Foram 13 dias de buscas. Acabaram neste sábado, com os corpos das cinco vítimas retirados da pedreira em Borba, distrito de Évora. A Protecção Civil dá agora a operação como “encerrada”. Foi “feito tudo aquilo que podia e devia ser feito”, disse o presidente da Protecção Civil, Mourato Nunes, numa conferência de imprensa no quartel dos Bombeiros de Borba.

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Foram 13 dias de buscas. Acabaram neste sábado, com os corpos das cinco vítimas retirados da pedreira em Borba, distrito de Évora. A Protecção Civil dá agora a operação como “encerrada”. Foi “feito tudo aquilo que podia e devia ser feito”, disse o presidente da Protecção Civil, Mourato Nunes, numa conferência de imprensa no quartel dos Bombeiros de Borba.

Os olhos estavam postos naquela cidade alentejana desde que um troço da estrada nº 155, uma estrada centenária que servia de ligação entre Borba e Vila Viçosa, ruiu. “Foram 13 dias de trabalho profícuo, de trabalho em rede com a Protecção Civil” numa operação extremamente complexa e de “dimensão ciclópica”, classifica o tenente-general Mourato Nunes.

Neste momento é “praticamente impossível” haver mais vítimas, mesmo nos planos de água mais profundos. Mas, salvaguarda o tenente-general: “Garantias absolutas não existem.”

"O que há é a probabilidade elevadíssima de que recolhemos todos os corpos, todas as vítimas que estavam na pedreira, face às descrições que temos, que não são muitas, mas são as possíveis, face ao conhecimento que existe na autarquia e nas juntas de freguesia das pessoas da área desaparecidas e face aos conhecimentos que as forças de segurança têm dos desaparecidos naquela data" em que ocorreu o acidente, frisou.

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De quem é a responsabilidade?

Findas as operações de busca, resta apurar responsabilidades. O Ministério Público abriu um inquérito no dia a seguir a tragédia “para apurar as circunstâncias” do acidente. Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, também deixou garantias de que seria aberta uma investigação ao sucedido. Do Ministério do Ambiente chegaram certezas de que seria ordenada uma inspecção ao licenciamento, exploração, fiscalização e suspensão de operação das pedreiras situadas na zona de Borba.

Afinal, e conforme viria a apurar o PÚBLICO, as entidades responsáveis foram avisadas pelo menos cinco vezes para as fragilidades da estrada n.º 155. O troço de estrada que ruiu situava-se entre duas pedreiras, uma autêntica ponte erguida sobre dois abismos com pelo menos 50 metros de altura e 30 metros submersos. Ainda assim, nada foi feito e a estrada acabou por ruir. 

Ao estado de degradação da estrada juntam-se as denúncias, sob investigação da Polícia Judiciária, que davam conta de várias explosões na pedreira ouvidas poucas horas antes do desabamento. Essa pode ter sido uma das causas para o aluimento, avança fonte da PJ ao Expresso

As teses avançadas anteriormente apontavam a trepidação dos veículos que passavam por ali naquele final de tarde e a chuva – que caiu durante quase todo o dia – como causas prováveis para a derrocada.

Não era a primeira vez que António Anselmo, presidente da Câmara de Borba tomou conhecimento do estado da estrada. Desde 2014 que o conhecia e ainda assim optou por não fechar aquele troço. Mas não se demitiu. “O acidente deu-se a 19 de Novembro, dia trágico para a minha terra, dia trágico para aquelas famílias que perderam os familiares, dia trágico para aquelas pessoas que ainda não recuperaram os corpos, portanto seria uma falta de vergonha da minha parte se eu abandonasse”, disse o autarca, em declarações aos jornalistas.

Apenas um membro do Governo foi a Borba

José Artur Neves, secretário de Estado da Protecção Civil, foi o único governante a visitar o local. Dirigiu-se a Borba na noite da tragédia e esteve ao lado dos operacionais da Protecção Civil nas conferências de imprensa.

Também Marcelo Rebelo de Sousa visitou Borba um dia depois do acidente para uma visita-relâmpago que durou apenas 15 minutos – e sem direito a perguntas por parte dos jornalistas. Regressaria a Lisboa no mesmo dia.

O silêncio de António Costa prolongou-se por três dias. E mesmo nessa altura, o primeiro-ministro evitou falar sobre consequências políticas, que “devem ser apuradas no seu devido tempo”.

“O que compete ao Estado relativamente a esta situação, e só, é o licenciamento, fiscalização de funcionamento de pedreiras. Vamos verificar, foi para isso que foi ordenada uma inspecção, a ver se da actividade da Direcção-Geral de Geologia e Minas (Direcção-Geral de Energia e Geologia) houve alguma falha. Quanto a outras entidades, não compete naturalmente ao Governo estar a retirar ilações”, disse Costa.

Assunção Cristas foi a única líder partidária a visitar o teatro de operações. Fê-lo na última quinta-feira e apontou o dedo ao executivo, por não lhe ter seguido o exemplo. "Acho estranho que um Governo não venha. Há um padrão deste Governo que é nunca tem responsabilidades", afirmou a presidente dos centristas, no final de uma reunião com elementos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Borba.

"Independentemente das responsabilidades e, infelizmente, o primeiro-ministro, quando falou, só estava preocupado com essa parte, há uma outra parte, que é a presença, uma presença para dizer que não estão esquecidos", frisou.