Movimento quer retirar nome de Zuckerberg a um hospital de São Francisco

Políticos e profissionais de saúde querem voltar a mudar o nome a um hospital público ao qual o fundador da rede social doou 75 milhões de dólares.

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Foi em 2015 que o hospital em São Francisco passou a ter o nome de Zuckerberg e da mulher Reuters/STEPHEN LAM

Há um movimento para retirar o nome de Mark Zuckerberg do hospital público de São Francisco, que recebeu 75 milhões de dólares do fundador da rede social em 2015 – a maior quantia até então doada por um só indivíduo a um hospital público nos EUA.

O criador do Facebook é conhecido por doar somas avultadas de dinheiro. Em 2015, Zuckerberg e a mulher, Priscilla Chan, comprometeram-se a aplicar 99% das acções do Facebook ao objectivo de "promover o potencial humano" e a "igualdade". Na altura, as acções valiam 45 mil milhões de dólares (cerca de 42 mil milhões de euros).

Algumas instituições que receberam dinheiro, porém, começam a questionar as vantagens da associação ao Facebook e ao seu criador.

Esta semana, Aaron Peskin, membro do Conselho de Supervisores em São Francisco, juntou-se a um grupo de cidadãos insatisfeitos com o facto do nome de Zuckerberg e da sua mulher, Priscilla Chan, dar nome a um hospital. da cidade. “Antes era o hospital das pessoas!”, escreve Peskin, no Twitter. O político quer que a cidade comece um processo para voltar a mudar o nome do hospital. Tem sido muito apoiado nas redes sociais. Para o político norte-americano, “os escândalos repetidos do Facebook” nos últimos tempos motivam parte da decisão.

Foi em 2015 que o nome do hospital mudou de Hospital Geral de São Francisco para Hospital Geral e Centro de Trauma Priscilla Chan e Mark Zuckerberg – mais conhecido como Zuckerberg General Hospital. A doação foi feita numa altura em que Priscilla Chan trabalhava como médica interna naquela instituição. A mudança do nome era parte do acordo. O dinheiro foi utilizado para investir em novas tecnologias e para remodelar o hospital, incluindo mais quartos para cuidados paliativos, e para investir numa construção ecológica que dá primazia à poupança de luz e água.

"A Dra. Priscilla Chan e o Sr. Mark Zuckerberg contribuíram significativamente para o cumprimento da missão do hospital, permitindo-nos adquirir tecnologia de ponta que usamos todos os dias para salvar vidas de pacientes", escreveu a directora do hospital, Susan Ehrlich, em resposta a um email do PÚBLICO.

A mudança do nome, no entanto, foi sempre controversa. Em 2015, o director da Sociedade de Educação e Saúde Pública de São Francisco, Steve Heiling, pediu que o nome não fosse alterado. Num artigo de opinião, notava que “a mudança causa um desconforto generalizado”, mas que as pessoas tinham medo se expressar “por medo de parecerem ingratas”. Para Heiling, o problema é que ao dar nome ao hospital, Zuckerberg participou em “filantropia transaccional”, em que o doador espera algo de volta.

As críticas contra o nome do hospital ganharam novo fôlego em Maio, quando vários trabalhadores voltaram a criticar a decisão depois do escândalo com a Cambridge Analytica. Na altura, alguns enfermeiros taparam mesmo o nome de Zuckerberg da fachada do edifício. “Estamos encarregues de proteger a privacidade e segurança das pessoas mais vulneráveis. Mas agora as pessoas perguntam-se, ‘Quão protegida está a minha privacidade com este nome?”, disse Heather Ali, uma enfermeira do hospital, em declarações ao New York Times.

"Se soubéssemos o que sabemos agora, talvez não tivéssemos aceitado os fundos de Zuckerberg", acrescentou John Avalos, antigo membro do Conselho de Supervisores em São Francisco.

O PÚBLICO tentou contactar o Facebook, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo.

m Abril, o Facebook admitiu também que tentou recolher informação sobre as doenças e a medicação de pacientes em vários hospitais dos EUA durante 2017, para um projecto de investigação. O objectivo era cruzar dados partilhados pelos seus utilizadores com informação anónima fornecida por hospitais e clínicas de saúde a um médico enviado pelo Facebook. O caso foi exposto numa investigação feita pela estação de televisão norte-americana CNBC.

Os escândalos recorrentes do Facebook têm pesado na empresa. Este mês, a rede social admitiu ter contratado uma empresa de relações públicas em 2017 para ajudar a limpar a sua imagem. O processo incluía investigar críticos do Facebook, e enviar dicas à empresa sobre as conclusões.

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