Polémica das vacinas: ex-ministra alerta para eventuais pressões da indústria farmacêutica

Ana Jorge, que também é pediatra, diz que é "no mínimo estranho" que sejam os deputados a decidir que vacinas entram no Programa Nacional de Vacinação.

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Ana Jorge: “Muitas vezes as pressões que existem para introduzir este ou aquele medicamento, esta ou aquela vacina não têm a ver com as questões técnicas" MIGUEL MANSO

A ex-ministra da Saúde Ana Jorge alertou nesta quinta-feira para eventuais pressões da indústria farmacêutica para que determinados medicamentos sejam aprovados. A também pediatra considera estranho que a integração de três vacinas no Programa Nacional de Vacinação (PNV) tenha sido feita por deputados e não com base em decisões técnicas.

“Muitas vezes as pressões que existem para introduzir este ou aquele medicamento, esta ou aquela vacina não têm a ver com as questões técnicas, mas exclusivamente com as questões económicas e com a pressão da indústria farmacêutica. Não sei deste caso, de todo. Mas sei que noutras alturas, nomeadamente com a meningite C, foi o que aconteceu claramente. Mas esta [vez] não sei”, afirmou Ana Jorge, em declarações à Antena 1.

A também pediatra lembrou pressões de grupos farmacêuticos que aconteceram no passado. “Com a meningite C, que depois foi introduzida [no PNV], a campanha de que havia uma epidemia de meningite foi claramente fabricada. É preciso ter muita atenção e cuidado com isso porque existem pressões, obviamente.”

Na terça-feira o Parlamento aprovou — com os votos contra do PS e a abstenção do CDS — uma proposta do PCP de alteração ao Orçamento do Estado que introduz no PNV as vacinas contra o rotavírus (responsável por gastroenterites) e contra a meningite B, bem como o alargamento aos rapazes da vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV).

Para Ana Jorge esta aprovação pelos deputados é algo "no mínimo estranho”. “Não compete ao poder político decidir quais as vacinas a incluir, isso competirá a uma proposta da comissão técnica bem fundamentada. Esta decisão, acho-a um pouco estranha e não me parece adequada em termos daquilo que queremos que seja um serviço de qualidade. E a qualidade passa pelos técnicos. As vacinas que foram [agora] incluídas não têm todas a mesma importância para a população portuguesa”, afirmou, salientando que em Portugal a diarreia “não é um problema grave de saúde pública”.

Vários médicos, incluindo o bastonário, têm sido muito críticos da alteração ao PNV, que consideram que não tem como base decisões técnicas. Nesta quarta-feira, a ministra da Saúde disse ter ficado surpreendida com a aprovação e revelou que a comissão técnica de vacinação, órgão da Direcção-Geral da Saúde, não se tinha decidido pela universalização das vacinas para o rotavírus e meningite B. As três vacinas, que têm custos elevados que podem ascender a centenas de euros, são recomendadas a título individual pela Sociedade Portuguesa de Pediatria.

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