+351 FADO de João Gil e João Monge encerra ciclo de fado no Capitólio

Ciclo O Fado Também é Nosso encerra esta quarta-feira no Cineteatro Capitólio, em Lisboa, com um espectáculo concebido por João Gil e João Monge em torno do fado. Às 21h30.

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João Gil PEDRO MELIM

O ciclo O Fado Também é Nosso, que começou na segunda-feira no Cineteatro Capitólio, encerra esta quarta-feira com um espectáculo concebido por João Gil e João Monge e que dá corpo a +351 FADO, um ensemble que é também uma instalação, e para ficar, diz ao PÚBLICO João Gil. Ele e Monge pensaram em criá-lo após o fim do Quinteto Lisboa: “Falámos um com o outro e chegámos à conclusão que temos imenso material composto pelos dois e que esse material está disperso por vários grupos. Mas que é autónomo só por si e está carregado de histórias.” Não são fados, mas têm raízes nele. “Não é fado, mas se não houvesse fado aquilo não existiria. É material que segue a tradição e a arquitectura daquilo que nós achamos que é fado. E sempre fomos fiéis para com essa ideia de fado. Mantivemos critérios rigorosos, tanto melódicos como harmónicos, e fizemos questão que esse material fosse muito forte, sempre, além de verdadeiro e fiel. Passados estes anos todos, não temos o direito de deixar cair esse material no esquecimento. Então, fizemos uma instalação, como uma peça de teatro.” E criaram um ensemble, composto por duas vozes, ambas vindas do fado, uma feminina (Ana Margarida) e outra masculina (Duarte Coxo), guitarra acústica (João Gil), percussão (João Balão agora, embora tenha sido Miroca Paris a assegurar antes o lugar) e Pedro Amendoeira (guitarra portuguesa).

As composições são todas de João Gil, escritas por João Monge, e os arranjos são da responsabilidade de Gil e dos músicos participantes. “São partilhados com todos. Construímos os arranjos e as estruturas sempre em trabalho colectivo, em ensaios.” O título do espectáculo, +351 FADO, foi sugerido por João Gil e assim ficou. “Fui ver o que mais identificava Portugal no mundo, como é que numa única expressão podíamos identificar o país. E deparava-me sempre com clichés, estava tudo muito gasto, com termos usados e abusados. Então, ocorreu-me que, para ligar para Portugal, antes do número, marcamos sempre +351. E de repente fiquei agarrado ao nome, já não consegui fugir.”

Instalação “para ficar sempre”

João Gil chama a atenção para o relevo, no repertório escolhido, dos duetos. E isso conduz-nos às vozes que integram o grupo. “A Ana Margarida é uma voz extraordinária, incrível, segue uma linhagem antiga, que corresponde àquelas vozes de sempre. O Duarte Coxo (produzi o último disco dele) tem uma voz muito boa e é um extraordinário intérprete.”

Gil e Monge são autores, em dupla, de inúmeras canções da música popular portuguesa, para vários projectos. Mas este tem, diz Gil, particular relevância. “Este ‘departamento’ dos fados é, para nós, um assunto muito sério. Quando olhamos para este conjunto de fados ficamos a olhar um para o outro, a pensar que têm de ser tratados com muito critério e amor, porque é um território muito especial. Claro que este nosso projecto é muito virado para a exportação, para divulgar Portugal no mundo. A experiência que tive na Ala dos Namorados deu-me bastantes ensinamentos na afirmação da nossa identidade. O que há de novo, em relação aos outros projectos, é que este é uma instalação e é para ficar sempre.”

As sessões anteriores desta primeira edição do ciclo O Fado Também é Nosso contaram, na segunda-feira, com um concerto inédito de Ângelo Freire, na guitarra portuguesa, com a Banda de Música da Força Aérea; e na terça com o quarteto de cordas Hotel Quartet, a revisitar clássicos do fado e guitarradas com vários convidados. Formado para acompanhar Rita Redshoes na digressão Her, o Hotel Quartet é constituído por Maria da Rocha (1.º violino), Denys Stetsenko (2.º violino), Bruno Silva (viola d’Arco) e Válter Freitas (violoncelo). Com eles estiveram, como convidados especiais no segundo concerto deste ciclo, Ana Bacalhau, Marco Oliveira, Pedro Jóia e Rita Redshoes.

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