A primeira promessa que Rui Rio não cumpriu

Receio bem que o trabalho de Rui Rio à frente do PSD durante todo o ano de 2018 tenha servido apenas para dar razão a Miguel Relvas.

Nos últimos tempos, à medida que os deslizes éticos se acumulam no PSD e as sondagens evidenciam um partido em queda, assistimos a esta coisa muito curiosa: Rui Rio e a sua direcção decidiram adoptar a postura de vítimas na guerra interna que está a dilacerar o partido. A táctica é a do “pontapé na incubadora – parte II”, que, como sabemos, deu magníficos resultados em 2005. O Expresso noticiou que Rui Rio terá admitido numa reunião com militantes do PSD que a votação do partido poderia ser trágica se não existisse um espírito de união. E o ainda secretário-geral do PSD, José Silvano, declarou em entrevista ao DN que Rui Rio “não faz milagres”, e que “se a guerrilha interna não parar, o PSD nunca poderá ter um resultado positivo” nas próximas legislativas.

Nada tenho a objectar quanto à solidez destas constatações. Elas parecem-me bastante plausíveis e com grande probabilidade de se virem a realizar. O meu único problema é que elas representam uma primeira promessa não cumprida por parte de Rui Rio. Embora tenhamos todos memória curta, eu por acaso lembro-me de um título do Expresso de Janeiro deste ano que dizia assim: “Rui Rio promete meter o PSD na ordem”. Esse título correspondia à notícia de um debate realizado a 11 de Janeiro de 2018 na TSF e Antena 1 entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, durante a corrida à liderança do PSD. No mesmo dia, Miguel Relvas tinha dado uma entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença onde dizia que o próximo líder do PSD era para durar apenas dois anos. Rui Rio não gostou, e, no decorrer do debate, afirmou: “Se o clima dentro [do PSD] é já este, já com as rasteiras e com isto e com aquilo, estamos mal, e se eu ganhar vamos estar mesmo muito mal, porque não vou admitir uma coisa destas. Vamos acabar com estas pequeninas coisas partidárias como a entrevista do Miguel Relvas e de outros que nem têm coragem. Sei fazer isto, ando nisto há muitos anos. Deixe-me ganhar e vai ver como as coisas são. Este clima tem de acabar.”

Rio ganhou e o clima não acabou. Aquele impante “vai ver como as coisas são” começou como grito de forcado na cara de touro e acabou com o líder do PSD acocorado nas trincheiras, sem saber o que fazer. Pelo meio, ainda teve tempo de dizer na TSF (em Setembro) que quem discordava “do ponto de vista estrutural” da sua liderança, “obviamente que é mais coerente sair”, porque “o que não é coerente é ficar dentro a tentar destruir” o partido. Note-se – já aqui o disse, e repito – que Rui Rio está cheio de razão quanto ao facto de demasiada gente o estar a cozer em lume que nem sequer é brando. Muitos dos casos que têm dinamitado aquilo que até há bem pouco tempo era a sua grande mais-valia – a fama de homem sério, impoluto e eticamente inatacável – têm origem no interior do partido. Mas isso apenas significa que Rui Rio não cumpriu aquilo que prometeu: não pacificou o partido, não conseguiu calar as vozes que se lhe opunham e, sobretudo, não encontrou uma estratégia capaz de unir o PSD.

Quem há 11 meses andava a rugir como um leão não pode agora chiar como um ratinho. Com o PS à beira da maioria absoluta, o Bloco cheio de vontade de ir para o governo e a Aliança a poder ter à direita dois ou três deputados que façam a diferença, receio bem que o trabalho de Rui Rio à frente do PSD durante todo o ano de 2018 tenha servido apenas para dar razão a Miguel Relvas: esta liderança do PSD é mesmo só para dois anos. E é por isso que ninguém a respeita.

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