Ex-Presidente de Cabo Verde preocupado com futuro de escritos de Cabral na Fundação Mário Soares

O também presidente da Fundação Amílcar Cabral quer inscrever escritos do fundador do PAIGC no programa Memória do Mundo, da UNESCO.

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Pedro Pires José Manuel Ribeiro/ Reuters

O ex-Presidente cabo-verdiano e presidente da Fundação Amílcar Cabral (FAC) manifestou esta terça-feira preocupação com o futuro de escritos originais do "pai" da nação, que se encontram na Fundação Mário Soares, em Lisboa, que atravessa problemas financeiros.

"Estou preocupado, sim, porque uma boa parte dos escritos originais de Amílcar Cabral estão depositados na Fundação Mário Soares, em Portugal, que neste momento enfrenta dificuldades de ordem financeira", manifestou Pedro Pires.

O presidente da FAC falava à imprensa, na Cidade da Praia, após uma audiência com o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, a quem foi pedir apoio para a preservação das memórias.

O também ex-Presidente da República de Cabo Verde afirma que o que contam não são os livros, mas sim os escritos originais de Amílcar Cabral. "Para nós é importante encontrar uma saída para essa situação, temos discutido, temos sugerido, mas vamos continuar a trabalhar nesse sentido", afirmou.

Pedro Pires tem contactado várias autoridades cabo-verdianas no âmbito de um dos desafios da FAC para o biénio 2018-19, que é a inscrição dos escritos de Amílcar Cabral no programa Memória do Mundo, da UNESCO.

Sobre essa iniciativa da FAC, disse que o mais importante é ser apresentada em conjunto, esperando contar também com a participação da Guiné-Bissau. "Para nós, seria mais interessante que tivéssemos também a participação da Guiné-Bissau. Não está a ser fácil a comunicação, mas vamos trabalhar para que seja uma iniciativa binacional, mas que seja uma iniciativa em Cabo Verde consensual. Todos aqueles que se interessem, trabalhem e façam parte desse movimento", pediu o antigo governante cabo-verdiano.

Até Janeiro, Pedro Pires avançou que a FAC pretende ter uma "ideia mais bem elaborada" e um memorando para entregar ao chefe de Estado cabo-verdiano, como suporte para as iniciativas que decidir desenvolver no âmbito da sua presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

O presidente da FAC espera que o Presidente de Cabo Verde possa exercer a sua influência junto dos seus pares da CPLP e suscitar o interesse pelas memórias, sobretudo as memórias comuns. "A inscrição dos escritos de Amílcar Cabral e outra documentação pertinente seria uma forma de dar mais garantia à preservação desses escritos, mas prevendo o futuro, para daqui a 20, 30, 50 anos termos a garantia de que as gerações, as pessoas dessa altura, terão oportunidade de consultar esses documentos directamente", mostrou.

Pedro Pires disse que tem tido contactos e discussões com várias personalidades em prol da preservação das memórias e sublinhou a "abertura" de Jorge Carlos Fonseca nesse sentido. "É um longo esforço a fazer para sensibilizar e conseguir parcerias no campo da preservação da memória", indicando que será criado um comité nacional e um regional para a matéria da memória. "É um esforço a fazer continuamente, porque é preciso ser-se teimoso e persistente para conseguir a realização desses objectivos", acrescentou.

O programa Memória do Mundo foi estabelecido em 1992 pela UNESCO com o objectivo de contribuir para a preservação do património documental mundial.

A Fundação Amílcar Cabral, que tem como missão a preservação da obra e memória do seu patrono, promoveu, no âmbito do seu programa editorial, a edição de várias obras de Amílcar Cabral, entre as quais se contam títulos como Unidade e Luta, Cabo Verde: Reflexões e Mensagens ou A Emergência da Poesia em Amílcar Cabral.

Em 2015, criou o espaço museológico Sala-Museu Amílcar Cabral, onde pretende dar a conhecer às gerações mais novas e aos turistas que visitam a Cidade da Praia a história da luta de libertação liderada por Cabral.

Assassinado em 1973, em Conacri, Cabral foi fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e actual Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) e líder dos movimentos independentistas da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

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