Poluentes tornam fungos mais resistentes a antibióticos

Que efeitos têm os pesticidas usados na agricultura nos fungos? Uma equipa coordenada por uma investigadora portuguesa encontrou algumas respostas.

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Adélia Varela, Cristina Pereira Silva e Celso Martins: os autores portugueses da equipa responsável pela investigação ITQB

A exposição a poluentes como os pesticidas está a tornar os fungos mais resistentes a antibióticos e a aumentar a sua capacidade de disseminar doenças, concluiu um estudo liderado pela investigadora portuguesa Cristina Silva Pereira.

“Estamos a falar de poluentes distribuídos na atmosfera independentemente do local de emissão, que são capazes de viajar para zonas remotas”, disse a investigadora à agência Lusa a propósito do estudo publicado na revista científica Microbiome.

Os fungos são “capazes de degradar compostos e até usar poluentes como fonte de energia, num processo a que chamamos mineralização”, referiu a cientista do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB, em Oeiras) da Universidade Nova de Lisboa.

Quando sujeitas à acção de poluentes como o pentaclorofenol (PCP), usado nos pesticidas agrícolas, as comunidades de fungos especializam-se e “mudam a sua forma de funcionar para sobreviver ao ‘ataque’”. Dão-se “alterações dramáticas do metabolismo” e os fungos tornam-se “mais resistentes a antifúngicos e antibióticos”, indicou. O “desenho químico” do pentaclorofenol é comum a muitos herbicidas e “pode haver muitos outros” compostos químicos que tenham o mesmo efeito.

Esta resistência acrescida junta-se à capacidade maior que essas comunidades de fungos têm para sobreviver em temperaturas mais altas como aquelas que decorrem das alterações climáticas.

Para saber que efeitos teriam esses poluentes nos fungos, a equipa internacional coordenada por Cristina Silva Pereira primeiro fez estudos na natureza: descobriu que numa floresta de sobreiros o poluente PCP persistia na terra e que os fungos estavam activamente envolvidos na tentativa de o degradar. Depois fez estudos laboratoriais, demonstrando que o contacto com os poluentes torna estes fungos mais patogénicos.

“Estes resultados são preocupantes, dado que os fungos são responsáveis por infecções oportunistas que são causa de morte de 1,5 a 2 milhões de pessoas em todo o mundo anualmente – mais do que doenças como a malária ou a tuberculose. Aumentar a sua patogenicidade significa poder influenciar estes números”, sublinha Cristina Silva Pereira, citada num comunicado do ITQB. “No entanto, é também uma oportunidade para conhecermos melhor como o ecossistema funciona e de percebermos de que forma podemos actuar para evitar as ameaças.”

O rumo da investigação científica será agora efectivamente “provar que há um aumento da virulência”, disse ainda à Lusa Cristina Silva Pereira, uma vez que “há agora esporos [de fungos] por todo lado” com a mobilidade humana.

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