Cooperativa Árvore à espera de um projecto de mudança

Em disputa estão duas listas. Laura Soutinho é a surpresa para vice-presidente da lista B, Miguel Cadilhe é o trunfo da lista A para o Conselho Geral.

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Cooperativa Árvore faz parte da grande renovação cultural da cidade do Porto, Hugo santos / Publico

Pela primeira vez em mais de meio século de história, a Cooperativa de Actividades Artísticas Árvore, no Porto, tem duas listas a disputar as eleições para os novos órgãos sociais. Marcadas para esta terça-feira, as eleições desta instituição acontecem numa altura particularmente difícil da vida da instituição, não apenas porque o movimento associativo atravessa uma crise profunda, mas sobretudo pelo nível de endividamento que apresenta.

Os dois candidatos — o pintor José Emídio da Silva (Lista A) e o economista António Rocha Moreira (lista B) — têm perfis diferentes e apresentam projectos também diferentes. José Emídio tem uma longa carreira ligada à vida da cooperativa, integrando a actual direcção da qual é vice-presidente. Já António Rocha Moreira deu os primeiros passos na instituição pela mão do engenheiro Amândio Secca, que presidiu à Árvore durante muitos anos.

A morte de Amândio Secca, em Junho deste ano, ditou o afastamento de António Rocha Moreira, que se demitiu da direcção, e, de alguma forma, obrigou a um repensar do papel da Cooperativa de Actividades Artísticas.

“A minha visão sobre a Árvore não tinha condições para continuar pelo que pedi a demissão depois da morte de Amândio Secca”, disse ao PÚBLICO o economista, que afirma ter “uma visão exacta do que deve ser a Árvore na actualidade e quais os caminhos que se propõe traçar e percorrer”.

“A nossa motivação radica na convicção e que chegou o tempo de proceder a uma mudança qualitativa no modus operandi da cooperativa e na forma como ela se relaciona e interage com os seus sócios, os agentes culturais e o público em geral”, lê-se no programa de acção da candidatura, que destaca o “notável caminho de trabalho, dedicação e talento” percorrido pela instituição nestes 55 anos de vida”. Porém, António Rocha Moreira destaca os “momentos menos bons da instituição” que “nos últimos anos foram de grandes dificuldades e bloqueamento e, nessas difíceis circunstâncias, a Árvore prosseguiu com um modelo de gestão que não se adaptou de todo aos novos tempos e às novas exigências”.

“O meu projecto assenta em alguns pressupostos como criar condições para termos uma estrutura financeira mais sólida; uma actividade comercial mais competitiva e dinâmica e uma programação mais contemporânea, abrangendo novos públicos”, resume António Rocha Moreira.

Um dos rostos mais conhecidos da Árvore, Laura Soutinho, responsável pela galeria da cooperativa, é candidata a vice-presidente na lista B. Foi convidada para integrar a lista A, mas recusou o convite. Por seu lado, a lista liderada por José Emídio candidata Edgar Secca, filho de Amândio Secca, a vice-presidente.

Problemas financeiros

Há vários mandatos na direcção, José Emídio promete dirigir a instituição “por critérios tecno-artístico-culturais susceptíveis de assegurar uma ‘revivificação’ da cooperativa enquanto entidade ao serviço de sócios

cooperadores, da cidade e do próprio país”.

Ao PÚBLICO, o candidato reconhece que a Árvore enfrenta problemas financeiros de alguma dimensão, mas ao mesmo tempo desvaloriza a situação, afirmando que a “situação financeira da cooperativa nunca esteve bem desde 1963, ano em que foi fundada”. Quanto às dívidas, mostra-se empenhado em liquidá-las mas reconhece que o esforço é grande porque em causa estão dívidas à banca e a alguns artistas da cooperativa. “Esses artistas estão desconfortáveis connosco”, assume o candidato.

Quanto à venda do edifício sede da Árvore, na Rua das Virtudes, com vista para o rio Douro, o pintor e ex-professor de artes visuais nega que alguma vez o cenário tenha estado em cima da mesa, quer pela anterior, quer pela actual direcção. “Seria uma ideia suicida”, declara. No entanto, o ex-professor da Árvore confirma que chegou a haver uma proposta que previa a venda do edifício. “Há uns meses tivemos uma proposta de um grupo de pessoas que apareceram cá”, disse, sem adiantar mais pormenores.

Se for eleito, José Emídio não deixará de “incrementar um possível acordo

contrato com a Escolas Artística e Profissional Árvore” do qual — garantiu — “resultará o pagamento da totalidade das dívidas aos nossos sócios/artistas a muito breve prazo”. “A Árvore tem espaços que não estão a ser rentabilizados e vamos tentar rentabilizá-los”, promete.

António Rocha Moreira olha para a situação financeira da cooperativa com alguma apreensão e defende que é preciso encontrar soluções. “Existe um endividamento em relação ao volume de facturação”, diz, apontando caminhos para equilibrar financeiramente a cooperativa. “Uma das fontes de receita pode passar por aumentar a actividade da própria loja da cooperativa, fazer parcerias e rentabilizar o restaurante”, defende o economista.

Ambos os candidatos apresentam nas suas listas vários artistas plásticos mas também economistas, advogados, arquitectos e empresários ligado ao mercado da arte. Um dos nomes mais fortes da lista A é o do antigo ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, convidado para presidir ao Conselho Geral. Para este mesmo órgão, a lista B aposta no advogado Jorge Silva Moutinho. Mas a mais-valia da lista liderada por António Rocha Moreira é apresentar a curadora Laura Soutinho para vice-presidente.

As eleições decorrem nesta terça-feira entre as 10h00 e as 19h00, mas apenas podem votar os sócios com quotas em dia — cerca de 350 em mil.

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