O adeus do homem que destronou Michael Schumacher

O espanhol Fernando Alonso sai de cena da Fórmula 1, mas promete prosseguir a lenda nos palcos dos Nascar.

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Fernando Alonso despediu-se dos seus fãs em Abu Dhabi
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Fernando Alonso despediu-se dos seus fãs em Abu Dhabi LUSA/VALDRIN XHEMAJ

Não se sabe ainda se é um “até já” ou o adeus definitivo e Fernando Alonso tem alimentado a dúvida. O piloto que muitos anteciparam viria a ser o melhor de sempre na Fórmula 1 sai de cena longe do topo. E menos arrogante do que quando destronou o mítico Michael Schumacher, em 2005 e 2006. “Não devo nada a ninguém”, sublinhou após festejar o primeiro dos seus dois títulos, menorizando o papel da equipa.

Uma personalidade cáustica causou a Fernando Alonso dissabores e inúmeros conflitos ao longo de uma carreira pautada também por opções desastrosas. Aos 37 anos, o seu futuro próximo poderá passar pelas corridas de Nascar e pela conquista da denominada “Tripla Coroa” do automobilismo: vencer o Grande Prémio (GP) do Mónaco (já o fez por duas vezes); as 24 Horas de Le Mans (onde triunfou em Junho deste ano) e (o que ainda está em falta) as 500 Milhas de Indianapolis. Um feito só ainda alcançado pelo britânico Graham Hill.

Mas recuemos 13 anos, até 25 de Dezembro de 2005, sem dúvida uma das datas mais felizes da vida de Alonso e de milhões de espanhóis. O piloto asturiano terminou em terceiro lugar o GP do Brasil e tornou-se no mais jovem (até então) a conquistar um Mundial. Tinha 24 anos e 59 dias. Foi também o primeiro título da Renault, que o espanhol representava desde 2003.

Um sucesso tão mais saboroso por encerrar para sempre o longo domínio de Michael Schumacher na modalidade. Sem falsas modéstias, Fernando Alonso não teve pejo em chamar a si todos os louros.

Uma entrada de rompante na galeria de notáveis da F1 que alcançaria contornos épicos na temporada seguinte. No ano em que iria despedir-se (pela primeira vez) da F1, Schumacher apostava na conquista do oitavo título, mas voltou a esbarrar com Alonso.

Num duelo geracional que iria durar até à última corrida, o asturiano garantiu o bicampeonato, novamente no asfalto brasileiro. Perfilava-se uma nova dinastia na rainha das competições automóveis.

“Foi fantástico lutar com o Michael, um privilégio para mim. Disse, em 2005, que era importante ser campeão enquanto o Michael ainda aqui estava […]. Os livros de história vão dizer que os dois últimos campeonatos em que ele [Schumacher] correu foram ganhos por Alonso”, concluiu no final da época.

O que Fernando não anteciparia nesta altura é que o seu capítulo no livro de ouro da modalidade também ficaria encerrado com esta dupla façanha. A longa e inesperada queda começaria logo a seguir. Uma combinação letal entre azar e decisões fatais.

Na temporada de 2007, o espanhol subiu na hierarquia da F1, trocando a Renault pela ambiciosa McLaren. Não teria sido uma má escolha, não fosse ter como colega de equipa um tal de Lewis Hamilton. Os êxitos do estreante inglês nas primeiras corridas desconcertaram Alonso e de nada serviu puxar dos galões de piloto principal. A “guerra” aberta entre os dois acabou por entregar o título de bandeja ao finlandês Kimi Räikkonen na derradeira prova.

Decepções e polémicas

As polémicas com o patrão da equipa, Ron Dennis, chegaram à chantagem, com Alonso a ameaçar denunciar a McLaren por ter na sua posse informação técnica confidencial acerca da Ferrari. O caso, apelidado de “spygate” acabou por rebentar no final da temporada, retirando o título de construtores à McLaren, que ainda foi penalizada com uma multa a rondar os 100 milhões de euros.

Sem condições para permanecer na escuderia britânica, o espanhol acabou por regressar à Renault. Ao serviço da marca francesa, sem argumentos competitivos para as equipas de topo, conquistou duas vitórias em 2008.

No ano seguinte, não resistiu ao apelo da Ferrari, mas esta união, que durou até 2014, não travou a era do alemão Sebastian Vettel com a Red Bull (quatro títulos consecutivos entre 2010 e 2013) e o despontar do domínio da Mercedes, onde renascia Lewis Hamilton. O seu último triunfo remonta a 12 de Maio de 2013, no GP de Espanha. O 11.º ao serviço da Ferrari.

Surpreendeu depois ao regressar à McLaren, em 2015, mas numa fase descendente da equipa inglesa. Nunca mais subiria a um pódio e o seu nome passou a ser mais comentado pelas polémicas e intermináveis desapontamentos.

Este domingo encerrou, para já, o seu ciclo na F1, no GP de Abu Dhabi. O vencedor e campeão mundial Hamilton esqueceu as divergências na hora do adeus. “Fernando é uma verdadeira lenda. Foi um grande privilégio correr na mesma era que ele. Este desporto vai sentir a sua falta e eu vou sentir a falta dele neste desporto.”

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