Qual é o futuro do sorriso? Miguel Stanley mostra-nos num documentário

O Futuro do Sorriso com Dr. Miguel Stanley estreia-se esta segunda-feira noite na National Geographic. O novo documentário revela algumas inovações científicas já postas em prática e outras ainda em desenvolvimento no mundo da medicina dentária.

Fotogaleria
Miguel Stanley com Joyce Adeke, uma das protagonistas do documentário National Geographic
Fotogaleria
Joyce Adeke e a família National Geographic

Hugo Calça não sabia o que era ter uma dentição normal há muitos anos. Numa clínica em Portugal e em apenas cerca de quatro horas ficou com dentes novos. Já Joyce Adeke ficou sem os dois dentes da frente. Também ela voltou a sorrir com a dentição completa depois de ser tratada com a ajuda de tecnologias levadas até uma clínica no Uganda. Estas são as duas histórias do novo documentário da National Geographic O Futuro do Sorriso com Dr. Miguel Stanley, que estreia esta segunda-feira às 21h30. O anfitrião é – como o título indica – o médico dentista português Miguel Stanley. Qual o principal objectivo? Mostrar às pessoas para onde está a caminhar medicina dentária.

Muitos conhecem Miguel Stanley dos programas de televisão. Por exemplo, entre 2005 e 2007 fez o programa da TVI Dr. Preciso de Ajuda e entre 2011 e 2012 produziu na SIC o Dr. White. Mas o médico também se tem dedicado a palestras por todo o mundo – desde 2002 já esteve em mais de 200 em mais de 50 países. “Nestes últimos anos, tenho evoluído muito a minha parte científica.” Além disso, tinha um “objectivo especial”: chegar à National Geographic. “É a marca mais credível na televisão em termos científicos e em termos de storytelling”, considera.

Miguel Stanley acaba de atingir esse objectivo e torna-se assim o primeiro médico português a narrar e protagonizar um documentário da National Geographic. E o que esteve na origem deste documentário, o primeiro desta cadeia de televisão com génese em Portugal? “Achei que havia muita tecnologia, mas não havia um storytelling por trás disso. Ou seja, como é que essas tecnologias iriam afectar a humanidade”, considera. “Nasceu assim a semente deste documentário e a história de um bocado do passado, presente e futuro da medicina dentária.” O Futuro do Sorriso com Dr. Miguel Stanley é também o primeiro documentário sobre medicina dentária da National Geographic, segundo o médico, que esteve envolvido no projecto desde o primeiro dia.

Foto
Miguel Stanley tem mais de 20 anos de experiência e é o anfitrião do documentário National Geographic

No documentário – que tem 44 minutos e também será distribuído na Roménia, Alemanha e Reino Unido –, viajamos até Vila Nova de Baronia (Baixo Alentejo) para conhecer Hugo Calça de 39 anos. Desde criança que tem problemas dentários e perdeu praticamente toda a dentição por volta dos 25 anos. Miguel Stanley já conhece Hugo Calça há algum tempo. “Há uns anos veio à minha clínica [White Clinic, em Miraflores] com a boca completamente destruída”, recorda o médico. Nessa altura, extraiu-lhe dentes e pôs-lhe uma placa – devido aos custos. A certa altura, no documentário, Hugo Calça chega a dizer: “Os dentes afectam o meu sorriso porque não é o meu verdadeiro sorriso.” Agora, voltou à clínica para um tratamento diferente.

Miguel Stanley indica que a White Clinic “é uma das clínicas mais bem equipadas em termos de tecnologia do mundo inteiro”. Por exemplo, tem scanners intra-orais, impressoras 3D ou máquinas fresadoras para cortar dentes. O médico espera que outras clínicas caminhem em direcção a um futuro – que, por agora, só existe em 1% das clínicas do mundo – com esta tecnologia.

No dia da cirurgia, Hugo Calça entrou na clínica às 9h e fez uma tomografia computadorizada, um exame facial e outro intra-oral. Depois, os ficheiros desses exames foram enviados para equipas na Alemanha e na Coreia do Sul: uma trabalhou num guia cirúrgico para o direccionamento dos implantes e a outra no design dos dentes. “Normalmente, estas fases não acontecem ao mesmo tempo”, refere o médico. Outro dos ingredientes foi ainda um novo material chamado “compósito nano-híbrido” – muito usado recentemente na medicina dentária e, neste caso, aplicado a Hugo Calça para que pudesse ter uma dentição fixa e conseguisse logo mastigar. Por volta das 13h Hugo Calça já tinha os implantes dentários.

Foto
Hugo Calça tem problemas de dentição desde criança National Geographic

No dia seguinte, o alentejano já estava a trabalhar no restaurante da sua terra O Camões. “Quis mostrar como é que as novas tecnologias, quando aplicadas, conseguem fazer coisas incríveis em menos tempo. Ou seja, como é que a tecnologia está a mudar uma ida ao dentista na capacidade de resolução de casos complexos”, comenta o médico com mais de 20 anos de experiência.

O custo deste tratamento ficaria entre 20 e 25 mil euros e torna-se assim inacessível a muitas pessoas. Mas Miguel Stanley adianta: “Acredito que no futuro o preço será muito mais baixo. Inevitavelmente, a tecnologia vai baixar o custo destes tratamentos. A medicina dentária vai ficar mais barata e melhor graças a estas tecnologias.”

Imunes às cáries

Será possível usar tecnologia de ponta também em países mais pobres? Esta questão leva-nos a Mbale – a sete horas de carro de Kampala, capital do Uganda – e à história de Joyce Adeke. Com seis filhos e a viver numa situação de pobreza, esta ugandesa de 36 anos teve uma infecção nos dentes, não teve dinheiro para ir ao dentista e acabou por perder os dentes da frente. “Já não gostava de me rir”, revela no documentário Joyce Adeke, que vive num país onde 93% da população é afectada por problemas dentários.

Miguel Stanley foi para Mbale (juntamente com médica dentista Catarina Rodrigues) e levou uma impressora 3D e um scanner intra-oral. O palco da cirurgia foi “numa clínica do mais pobre que havia” – assinala o médico – e outra das protagonistas foi uma jovem dentista local, Esther Musinguzi, que nunca tinha feito uma cirurgia de implantes.

Tudo se fez entre África e Ásia. Na clínica do Uganda fez-se um exame à boca da ugandesa, que foi enviado para a Coreia do Sul, onde se fizeram os guias cirúrgicos. Depois, esses guias foram enviados para o Uganda, onde se imprimiram também os novos dentes em 3D. No final, tanto Joyce Adeke como Esther Musinguzi ficaram emocionadas com o resultado.

Foto
Joyce Adeke teve uma infecção e acabou por perder os dentes da frente National Geographic
Foto
Joyce Adeke depois da cirurgia National Geographic

Ao longo do documentário, percorremos o mundo e temos algumas pistas de como será o futuro da medicina dentária através dos avanços da robótica, inteligência artificial, tecnologia de edição genética CRISPR ou até do estudo da genética dos tubarões (que conseguem substituir os dentes). Miguel Stanley até nos ilustra como poderá ser o futuro construído através da CRISPR (com as devidas restrições éticas): “Imagine o que seria tornar o corpo imune às cáries.” Ou refere ainda a bio-impressão de tecido vivo em 3D. “Isto terá aplicações incríveis na medicina.”

Com este documentário, o médico gostaria de inspirar futuros dentistas e suscitar perguntas nas pessoas sobre a medicina dentária. “A ideia é que seja um farol do futuro e que sirva para que as pessoas saibam para onde caminha a medicina dentária”, refere. Além disso, pretende “colocar um holofote” na profissão, que tem, na sua opinião, pouca visibilidade no mundo.

E quer, sobretudo, mostrar que todos podem voltar a ter um sorriso, ou não se considerasse o “médico dos sorrisos”. “Para mim, devolver o sorriso a alguém através da ciência e da tecnologia é uma bênção, um privilégio e algo que adoro.” A certa altura, no documentário, chega a confessar: “Tenho um dos melhores trabalhos do mundo porque devolvo sorrisos às pessoas.”

Sugerir correcção
Comentar