Síria acusa rebeldes de lançarem ataque químico em Alepo

Mais de 100 pessoas foram hospitalizadas com sintomas de exposição ao cloro. Governo de Bashar al-Assad pede ao Conselho de Segurança da ONU que condene "estes crimes terroristas".

Os médicos dizem que terá sido usado cloro no ataque
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Os médicos dizem que terá sido usado cloro no ataque Reuters/SANA
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Mais de 100 pessoas foram hospitalizadas em Alepo com sintomas de intoxicação por cloro, este fim-de-semana, num ataque que o Governo da Síria diz ter sido lançado pelos grupos de rebeldes que ainda controlam algumas zonas à volta da cidade.

A televisão estatal da Síria mostrou imagens de pessoas a serem tratadas em dois hospitais de Alepo com sintomas como dificuldade para respirar, sensação de queimadura nos olhos e desmaios.

"Não conseguimos saber ao certo que gases foram usados, mas suspeitamos de cloro, e tratámos os pacientes com base nesta suspeita por causa dos sintomas", disse à agência Reuters o médico Zaher Batal.

A agência síria SANA disse que as vítimas são todas civis, incluindo mulheres e crianças, e que nenhuma tem a vida em risco. Segundo os médicos citados pela agência, a maioria dos 107 pacientes queixou-se de sintomas ligeiros ou médios, apesar de alguns deles terem sido enviados para as unidades de cuidados intensivos. Muitos tiveram alta durante a madrugada de domingo.

Durante uma visita aos hospitais, o governador de Alepo, Hussein Diab, disse que o ataque deste fim-de-semana "reafirma que as organizações terroristas têm gases tóxicos".

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que "condene imediatamente e com vigor estes crimes terroristas, e que punam as nações e regimes que apoiam e financiam o terrorismo".

Mas um dos principais grupos de rebeldes a actuar na região, a Frente de Libertação da Síria, acusa o regime de Bashar al-Assad de ter encenado o ataque de sábado para culpar os seus inimigos.

"O regime criminoso, sob as instruções da Rússia, está a tentar acusar os rebeldes de usarem substâncias tóxicas em Alepo. Isso é mentira", disse Abdel-Salam Abdel-Razak no Twitter. O responsável disse que os rebeldes não têm capacidade para fabricarem armas químicas.

Cessar-fogo frágil

As forças do Governo sírio, apoiadas pela Rússia e pelo Irão, reconquistaram Alepo há dois anos, mas os rebeldes mantêm algumas posições à volta da cidade. Mesmo ao lado, também no Noroeste da Síria, a província de Idlib é agora o último reduto dos rebeldes.

Também este fim-de-semana, antes do ataque em Alepo, nove pessoas foram mortas num ataque contra uma cidade controlada pelos rebeldes. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, as forças do Governo sírio lançaram rockets contra a cidade de Jarjanaz e mataram seis crianças que estavam a sair da escola.

Estes ataques em Alepo e em Jarjanaz vêm pôr ainda mais em risco a zona desmilitarizada desenhada pela Rússia e pela Turquia à volta de Idlib, a 17 de Setembro, e um cessar-fogo nessa região que teria como objectivo evitar uma grande ofensiva das tropas sírias e dos seus aliados contra a província controlada pelos rebeldes – e a catástrofe humanitária que poderia causar, numa região onde vivem três milhões de pessoas.

Já este domingo, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou que os seus aviões "lançaram ataques contra posições de artilharia dos terroristas na região", nos primeiros bombardeamentos desde o cessar-fogo de 17 de Setembro.

Acusações mútuas

Os dois lados acusam-se mutuamente de usarem armas químicas contra civis, numa guerra que já fez meio milhão de mortos e mais de cinco milhões de refugiados desde Março de 2011.

O caos da guerra torna quase impossível uma investigação independente após um ataque como o deste sábado, e desde o início do conflito foram registados mais de 70.

Uma equipa das Nações Unidas e da Organização para a Proibição de Armas Químicas acusou o Governo sírio de usar cloro em pelo menos dois ataques, em 2014 e 2015, e gás sarin em Abril de 2017. Este último ataque, na cidade de Khan Sheikhoun, fez pelo menos 81 mortos e mais de 500 feridos, e motivou um ataque norte-americano com mísseis Tomahwak contra a base aérea síria de Shayrat.

As organizações internacionais também acusaram os extremistas do Daesh de usarem gás mostarda em pelo menos dois ataques, em 2015 e 2016.

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