"Este é o único acordo possível" para o "Brexit", avisam líderes da UE

Sem surpresa, os 27 deram luz verde aos textos do tratado jurídico para a saída do Reino Unido e a declaração política para a relação futura após o "Brexit". Mas não se espera que o Parlamento de Londres faça o mesmo.

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Theresa May reconheceu que ainda não dispõe dos votos para aprovar o acordo no Reino Unido Dylan Martinez/REUTERS

Terminado o espectáculo em Bruxelas, o circo do “Brexit” muda-se agora para Londres, onde não se esperam aplausos no encore da votação pela Câmara dos Comuns do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia. Os parlamentares britânicos têm-se entretido com a ideia de um chumbo que deite todo o processo negocial por terra. Este domingo, levaram um recado sério de Bruxelas: “Este é o único acordo possível, e os que pensam que ao rejeitá-lo vão conseguir outro melhor, vão ficar muito desiludidos”, avisou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

A mesma mensagem foi reproduzida, sem grandes diferenças nem muitas subtilezas, nas várias línguas dos 27 chefes de Estado e de Governo que se juntaram num Conselho Europeu extraordinário para dar o seu respaldo político ao acordo de saída negociado entre Bruxelas e Londres, e aprovar a declaração política que acompanha esse vasto tratado jurídico (com 585 páginas e três protocolos) e estabelece os princípios gerais para a relação futura dos dois blocos.

Fizeram-no, sem surpresas e tal como se esperava, em pouco mais de uma hora: um desfecho rápido e relativamente indolor para aquela que ainda é só a primeira etapa do processo do “Brexit”. Sobre o que vem agora, ninguém quer falar. A estratégia, para já, é manter o silêncio sobre as concessões que ainda estarão dispostos a fazer para ultrapassar o mais do que previsível chumbo do acordo no Parlamento britânico e evitar a queda no precipício a 30 de Março de 2019.

Na sala do Conselho, a primeira-ministra britânica, Theresa May, reconheceu que, por enquanto, não dispõe ainda de uma maioria parlamentar que lhe permita levar este acordo por diante. A pressão dos europeus será certamente bem-vinda, mas não oferece total conforto à líder conservadora — que à saída da cimeira, já via os comentadores políticos a discutir as opções e cenários hipotéticos (o adiamento da aplicação do artigo 50 do Tratado de Lisboa ou a renegociação de partes do acordo, por exemplo) que ainda permitem evitar o que todos concordam ser “a tragédia” de uma saída abrupta sem acordo.

“Neste momento, não podemos afastar nenhuma hipótese”, admitiu Theresa May, que mesmo sem trunfos para contrariar o bluff dos deputados, prometeu continuar a jogar. A sua cartada decisiva será uma campanha de promoção do acordo do “Brexit”, durante a qual tenciona “falar directamente aos cidadãos”, não para garantir o seu futuro político, mas para combater a “divisão e incerteza” do no-deal.

Fantasia, diz costa

Tanto o primeiro-ministro, António Costa, como a chanceler alemã, Angela Merkel, recusaram pronunciar-se sobre o que, nesta altura, ainda continua a ser pura especulação. Só uma coisa é dada como certa. “Não há acordo alternativo”, lembrou Costa. De acordo com o primeiro-ministro, a escolha do Reino Unido é entre esta proposta ou nenhuma. “Tudo o resto é fantasia”, sublinhou.

“Depois de uma negociação laboriosa, este foi este o acordo que concluímos. E ainda por cima é um bom acordo”, acrescentou (Merkel chamou-lhe mesmo uma “obra-prima da diplomacia”). O mesmo refrão saiu da boca do primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. “Não existe nenhum plano B. Não há mais nenhum acordo possível, excepto na imaginação de alguns”, repetiu.

E esse não foi o único talking-point que os líderes europeus trouxeram combinado da sua reunião de trabalho. A outra mensagem que saiu do Conselho foi de que, neste processo negocial, a unidade e solidariedade europeias não foram apenas um cliché. “Não houve uma fissura, não houve nenhum Estado membro que se sentisse isolado”, destacou António Costa.

“Esta foi a cimeira da unidade, da dignidade mas também da gravidade”, afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, que classificou o “Brexit” como uma expressão da “fragilidade” do projecto europeu. Outros líderes descreveram a saída do Reino Unido como uma “tristeza”. “A saída de um país da União Europeia não será nunca motivo para erguer taças de champanhe ou desatar a aplaudir. Este é um momento inglório no caminho de integração europeia que andamos a trilhar juntos há tantos e tantos anos”, lamentou Jean-Claude Juncker.

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