Dez vinhos para o Natal: esqueça as meias, ofereça antes vinho

Beber vinho está cada vez mais na moda. Oferecer vinho também. Além de ser uma prenda útil, o vinho tem uma dimensão social que casa bem com o espírito de partilha do Natal.

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O Natal aproxima-se e ainda não sabe o que vai oferecer? Não se angustie. Se a pessoa a quem quer dar uma prenda é adulta, há dois produtos que caem sempre bem: azeite e vinho. Se o adulto é da família, ainda melhor. Com sorte, ainda pode desfrutar do que ofereceu.

Não vamos tratar aqui dos azeites, mas há cada vez mais escolhas no país. Eleja sempre um virgem extra, que, para o ser, não pode ter qualquer defeito. Os melhores produzem-se em Trás-os-Montes e no Alentejo.

Os vinhos, esses, há-os bons por todo o país, ilhas incluídas. Oferecer vinho faz bem à economia nacional e tem um certo status. Mas nem precisa de se preocupar muito com embalagens sofisticadas. Já sabe qual é o seu destino imediato: o lixo ou a fogueira.

O que conta mesmo é o vinho e a intenção. O Natal é uma época de partilha e o vinho é por natureza um produto social, para ser partilhado com amigos e familiares. Esqueça as meias e os boxers. Não seja careta. Sabe muito bem que ninguém gosta de receber meias e boxers. Vinho é diferente. Mesmo quem não goste, pode sempre oferecer a garrafa a outra pessoa e fazer um brilharete. Com as meias e os boxers não dá. Ninguém oferece a outra pessoa as meias e os boxers que nos ofereceram.

O vinho tem ainda a vantagem de poder ser bebido logo na noite de Natal. É, portanto, uma prenda prática. Só tem um pequenino senão: é difícil esconder o custo do vinho. Basta uma busca na Internet para descobrir o preço. Para as pessoas que medem a amizade pelo dinheiro gasto com a prenda, isso pode ser um problema. Mas é esse o espírito do Natal?

Também não se angustie com isso. As pessoas que são realmente importantes para si não vão reclamar se oferecer um vinho de cinco euros, até porque há alguns a este preço que são bons.

Ofereça o que puder oferecer. Em qualquer garrafeira vai encontrar vinhos para todos os gostos e preços. Alguns são tão caros que até custa acreditar como pode haver alguém disposto a pagar tanto por uma simples garrafa. Mas há. Os vinhos mais caros sempre tiveram clientes. Só que nem sempre o mais caro é o melhor.

Se ficou com vontade de oferecer vinho e não sabe muito bem o que escolher, as propostas que se seguem podem ser-lhe úteis.

Casa das Gaeiras Reserva Vinhas Velhas Branco 2015

Branco da casta Vital, uma variedade com tradição na região de Lisboa que tem vindo a perder terreno para outras castas estrangeiras menos adaptadas e interessantes.  Não é um vinho que nos abane logo à primeira. O seu aroma é elegante mas simples (discretas notas florais, algum citrino, ameixa e marmelo, toque fumado da fermentação em barrica). Mas na boca mostra outros pergaminhos. É gordo, amplo e deliciosamente fresco. Como os melhores Chardonnay, parece ganhar asas no final de boca. Muito bom e barato.  P.G.

Quinta das Gaeiras
Óbidos
Castas: Vital
Graduação: 13,5% vol
Região: Lisboa
Preço: 10,80€ 

Cossart Gordon Madeira Bual 1989

Se tiver dinheiro para um devaneio, pense neste vinho Madeira. Nem que seja para oferecer a si próprio. Não é barato, mas os vinhos Madeira são tão raros e magníficos que se compreende o preço. Além do mais, têm uma particularidade (decorrente da sua acelerada oxidação e da sua elevada acidez) que os distingue da maioria dos grandes vinhos fortificados do mundo: depois de abrirmos a garrafa, não temos que a beber toda no mesmo dia. Podemos ir bebericando durante meses ou até anos sem que o vinho perca muito com isso. Se é novo no vinho Madeira, este Cossart Bual Frasqueira 1989 é perfeito (se for conhecedor, também é). Tem um bouquet rico e complexo (especiarias, frutos secos, brandy velho) e, sendo meio-doce, possui uma acidez extraordinária, que o torna fogoso e interminável. P.G.

Madeira Wine Company
Castas: Bual
Graduação: 21% vol
Preço: 215€

Regateiro Vinha d'Anita 2015

Um vinho sentimental e da velha Bairrada, do tempo em que os vinhos se faziam para se beber. Vinhos com pouco álcool e pouca extracção.
Este Vinha d'Anita tem apenas 12,5 graus, mas não mostra na prova nada de verde ou de amargo. Possui tanino, mas tanino bom, sólido e suficientemente domado para não causar qualquer sensação de rusticidade. Não sendo muito complexo, é um Baga muito gostoso e deliciosamente fresco. P.G.

Lusovini
Anadia
Castas: Baga
Graduação: 12,5% vol
Região: Bairrada
Preço: 17€

Romano Cunha 2010 Tinto

O carácter e terroir são a notas que definem este vinho que é capaz de conjugar rusticidade e elegância, fruta e austeridade, a par da acidez fresca que lhe vem das vinhas a mais de 400m, em solos graníticos no planalto a norte de Mirandela. A grande virtude está também no tempo de estágio que cumpre antes de entrar no mercado, que lhe arredonda os taninos e modela o corpo e a robustez que sempre destaca por entre o manto frutado. Notas de couro, aromas terrosos e vegetais, tensão e profundidade. Para quem procura a diferença, aqui está um vinho que marca a diferença. J.A.M.

Vinhos Romano Cunha
Vilar do Ouro - Mirandela
Castas: Tinta Amarela, Tinta Roriz, Touriga Nacional
Graduação: 13,5% vol
Vinho Regional Transmontano
Preço: 22,50€

Sem Vergonha Tinto 2016

Um muito interessante exercício vínico a conferir à casta uma expressão completamente diferente daquilo que estamos habituados. Mas nem só por isso este é um vinho que vale a pena provar. É complexo e estruturado, mas com uma frescura e elegância completamente fora da caixa. Ao estilo da Borgonha, mas sem vergonha das características que são as da casta. Daí o nome e o desafio de Susana Esteban à colaboração de Dirk Niepoort, por ser um profundo conhecedor e apreciador dos vinhos da Borgonha. Bela e desafiante surpresa. J.A.M.

Susana Esteban Unipessoal, Lda
Mora
Casta: Castelão
Graduação: 13% vol
Vinho Regional Alentejano
Preço: 21,50€

Ferreirinha Tinta Francisca 2014

Os vinhos de Portugal recortam-se na arte da lotação, mas há excepções que valem tanto pelo prazer como pelo gozo da descoberta. É o caso deste Tinta Francisca, um vinho com uma natureza, um carácter e uma expressividade únicos. Numa época em que, por vezes, ficamos com a sensação que todos os vinhos vão no mesmo sentido, este tinto mostra-nos um caminho alternativo. Em causa está uma produção experimental – 1000 garrafas. As uvas são provenientes da Quinta do Seixo, fermentaram e maceraram em balseiros de carvalho e o vinho maturou 24 meses em barrica (50% do primeiro ano). O resultado é fascinante. Um vinho com uma enorme expressividade aromática (fruta preta, notas silvestres, mentolados, especiaria) e de grande vivacidade na boca. O tanino está ainda vivo, a presença da fruta é deliciosa e o final acídulo é muito definido, tenso e longo. Um belo vinho para surpreender um amigo. M.C.

Sogrape Vinhos, Avintes
Graduação: 13,5% vol
Região: Douro
Pontuação: 93
Preço: 62€

Kopke CNK 380

A Kopke fez 380 anos e lançou no mercado 380 garrafas de um Porto magnífico. Para o produzir, a jovem (e muito talentosa) equipa de enologia da casa liderada por Carlos Alves procurou vinhos no vasto e rico acervo da casa e seleccionou as colheitas de 1900, 1920 e 1937, obtendo uma idade de média para o lote final próxima dos 95 anos. O resultado é tão impressionante que emociona. No aroma começa a revelação: noz, notas de torrefacção, chocolate preto, um ligeiro toque de vinagrinho característico dos tawnies velhos, especiaria. Mas é na boca que este Tawny muito velho impõe a sua classe e poder. A sua acidez é vibrante, a sua complexidade de sabores interminável e o seu final longo, tenso e inesquecível. É caro, mas é tão raro e tão genial que só podia ser assim. O vinho do Porto no seu esplendor. M.C.

Sogevinus, Vila Nova de Gaia
Região: Vinho do Porto
Preço: 1550€
Pontuação: 98

Quinta do Monte Xisto 2016

Vale a pena experimentar este vinho de imediato mais pelo que há-de ser no futuro próximo do que pelo que é hoje. Hoje, tanta riqueza de fruta, tanta intensidade, tanta estrutura e um tão marcado final ainda atordoam os sentidos. Mas, desconte-se o excesso de juventude. Prove-se a sua essência e constate-se a sua excelência. Pense-se nele mais como uma prenda para quem saiba esperar do que para alguém vocacionado para a voracidade do imediatismo. Com mais três ou quatro anos de garrafa, este Monte Xisto ganhará identidade, refinará o seu fantástico potencial e cumprirá o seu destino: o de ser um vinho de referência do Douro contemporâneo. M.C.

João Nicolau de Almeida e Filhos, V.N. Foz Côa
Graduação: 13,5% vol
Castas: Touriga Nacional (50%), Touriga Franca (45%) e Sousão
Região: Douro
Pontuação: 95
Preço: 49,50€

Quinta do Vallado Vinha da Coroa 2015

Na Quinta do Vallado pode-se fazer tudo, até um magnífico tinto proveniente da vinha mais alta desta propriedade do Baixo Corgo. A altitude e a matéria-prima proveniente de vinhas velhas com mais de 40 castas são, aliás, a principal marca de água deste tinto luxuoso (embora contido na sua exuberância): a sua textura, a qualidade da fruta, a complexidade e a elegância que se acentua no final de boca são o testemunho deste potencial. Muito gastronómico e vivo, é um vinho de pura classe. Ofereça-o a quem aprecia vinhos com a garra da juventude, mas quem apreciar a marca do tempo nos grandes tintos ficará a ganhar com mais alguns anos na cave. M.C.

Quinta do Vallado, Régua
Graduação: 13,5 vol
Região: Douro
Preço: 43€
Pontuação: 94

Quinta Nova Grande Reserva 2015

O Quinta Nova Grande Reserva de 2015 é um vinho de grande classe que, apesar da sua relativa crueza, dispõe de um enorme potencial gastronómico e será sempre um trunfo certo para deslumbrar quer os enófilos experimentados, quer os que ainda se entusiasmam pela exuberância da fruta jovem. A sua fruta vermelha é deliciosa no nariz. A esteva e a urze, as notas balsâmicas da madeira ou a especiaria discreta dão-lhe alma. Uma textura muito suave, pontuada pelo tanino ainda rugoso, dá-lhe tensão e garra e ajusta-o a comidas intensas e com gordura – abuse-se do azeite no bacalhau. O seu longo final, com uma secura fresca, é delicioso. Mas espere-se um pouco mais por ele. Dentro de um par de anos será um monumento. M.C.

Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, Covas do Douro
Castas: Touriga Nacional, Vinhas Velhas
Graduação: 14%
Pontuação: 92
Preço: 54,50€

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