Universidade de Aveiro vai recolher os sons e as recordações da região

O SOMA – Sons e Memórias de Aveiro prevê a criação de um arquivo construído e compartilhado com a comunidade, razão pela qual decidiu integrar na equipa de investigadores cidadãos aposentados

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Adriano Miranda

Nem todos conhecerão esse facto mas a primeira escola de música de Aveiro teve o nome de José Estêvão e funcionou na envolvente do Mercado do Peixe. E também poucos terão conhecimento que o Clube dos Galitos teve uma prestação notável ao nível do teatro musical, com apresentações em salas como o Coliseu dos Recreios.

São memórias como estas que estão agora a ser investigadas no âmbito de um projecto da Universidade de Aveiro (UA) e que chamou à sua equipa de trabalho elementos não académicos, mais concretamente cidadãos aposentados. Chama-se SOMA – Sons e Memórias de Aveiro e pretende criar um arquivo de som e memória com o perfil de um laboratório vivo – que deverá, futuramente, ficar sediado num espaço aberto ao público, no centro da cidade.

Nesta fase, ainda estão a ser recrutados os membros da comunidade não académica que irão integrar a equipa multidisciplinar do projecto – serão verdadeiros bolseiros e receberão um subsídio mensal de 565 euros. Cidadãos reformados, com ou sem ligação anterior à música, que irão trabalhar juntamente com etnomusicólogos, produtores culturais, técnicos de som, arquivistas, designers e engenheiros de som. “Eles têm um conhecimento do passado musical da cidade e da região que nós não temos”, começa por destacar Susana Sardo, da coordenação do SOMA.

Para as duas vagas inicialmente disponíveis candidataram-se 14 reformados, “com cartas de motivação maravilhosas que tornam difícil a tarefa de excluir alguém”, nota a investigadora. Recentemente, a câmara de Aveiro deu nota de que iria apoiar a contratação de mais dois bolseiros reformado e a coordenação do projecto tem esperança de que outras autarquias da região possam seguir o seu exemplo – o SOMA abrange os 11 municípios membros da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA). “Estes aposentados estão muito entusiasmados, muito motivados para irem trabalhar na universidade e contribuir para um projecto colectivo”, vinca aquela responsável.

Pesquisas em vários arquivos da região

Uma das missões dos investigadores, académicos e não académicos, passará por, por exemplo, “ir à procura da história e memórias dessa primeira escola de música de Aveiro, que aparece numa foto” ou por “pegar no arquivo gigantesco que está fechado no Teatro Aveirense e trabalhá-lo”, especifica ao PÚBLICO Susana Sardo. “Também importa estudar as quatro bandas filarmónicas que a cidade chegou a ter, sendo que neste momento resta só uma”, prossegue a investigadora.

A música, note-se, não será a única nota dominante do SOMA. A investigação também irá debruçar-se sobre outras dimensões sonoras, nomeadamente, algumas das que já começam a perder-se no tempo. “Passará por registar os sons da faina nas marinhas ou da apanha do moliço”, desvenda Susana Sardo. E mais do que um mero “repositório” de sons, pretende-se criar um arquivo que reúna também “artefactos, discos, fotografias, depoimentos de pessoas que estiveram ligadas a grupos musicais e a criação de um mapa com os lugares da região com eventos ou sons particulares que os identificam. É o caso da ronca do Farol da Barra ou das sirenes de algumas fábricas”, avança a investigadora da UA.

Experiência num bairro de Lisboa

Parte da equipa de investigadores do SOMA já esteve envolvida, entre 2013 e 2015, num projecto de investigação que levou à construção de um arquivo sonoro de um bairro de Lisboa, o projecto Skopeofonia. Agora, avançam para uma abrangência mais alargada e ambiciosa, a região de Aveiro, com uma estimativa de duração de 36 meses.

Outro dos dados já adquiridos é que o SOMA contará com a colaboração de várias instituições públicas e privadas ligadas ao ensino musical e às práticas artísticas (bandas musicais, grupos folclóricos, orquestras). “Temos vários parceiros, como é o caso da Banda Amizade, a D’Orfeu, Teatro Aveirense, GEMDA e a Academia de Saberes”, assegura Susana Sardo. 

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