A história de Kubica recomeça onde tinha sido interrompida

A persistência e o talento permitiram ao polaco, que sofreu um grave acidente em 2011, assinar contrato com a Williams para 2019.

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LUSA/SRDJAN SUKI

Seja mera coincidência ou uma escolha simbólica, o que é certo é que o resistente Robert Kubica vai retomar a carreira que deixou pendurada há mais de oito anos na Fórmula 1 no exacto local onde a tinha interrompido. Em 2010, o polaco fechava um ciclo justamente nos Emirados Árabes Unidos, onde na próxima semana começará a testar o Williams que vai comandar na próxima temporada. Perto dos 34 anos, e contra (quase) todos os prognósticos, Kubica está de volta.

O violento despiste que sofreu quando participava no Rali di Andora, em Itália, em Fevereiro de 2011, lançou muitos pontos de interrogação sobre o futuro do piloto. O acidente, que ocorreu durante a pausa de Inverno da Fórmula 1, quase lhe custou a amputação do braço direito. O pior cenário não se confirmou, mas Kubica não pôde evitar lesões de tal forma graves que lhe afectaram a mobilidade até hoje.

O polaco resistiu, recuperou e voltou aos ralis em 2013, iniciando um percurso que o levou a diferentes disciplinas do automobilismo, desde então, e o reaproximou do sonho. No ano passado, chegou mesmo a assumir o papel de piloto de testes da Williams e, embora tenha sido preterido em função do russo Sergey Sirotkin, não deixou de forçar os limites e de trabalhar maioritariamente nos bastidores.

“A Williams Martini Racing tem o prazer de anunciar que Robert Kubica completa a formação para 2019, juntamente com [o britânico] George Russell no Campeonato do Mundo de Fórmula 1”, anunciou ontem a escuderia britânica, em comunicado. Uma recompensa pelo trabalho mais discreto realizado em 2018? Talvez, mas também uma forma de assegurar imediatamente experiência, competência e um invulgar conhecimento de engenharia.

“Durante este período, Robert passou bastante tempo a trabalhar tanto em pista como na fábrica, para além de ter tido a oportunidade de conduzir um FW41 em diversas sessões de treinos livres”, continua a direcção da Williams. Foi mais uma prova de que, para além das capacidades de comunicação e da relação frutífera que consegue estabelecer com o staff, a habilidade em pista continua intacta.

O único polaco a conquistar um Grande Prémio de Fórmula 1 (aconteceu no Canadá, em 2008) tem agora a hipótese de contribuir para resgatar a Williams praticamente da irrelevância. E não tem dúvidas de que está em condições para competir ao mais alto nível. “Provavelmente, o único que nunca desistiu fui eu, mas todos sabíamos que isto podia não se concretizar. Este dia mostra que, de alguma forma, nada é impossível”, sublinha Kubica.

Entre mensagens de boas-vindas e congratulações de vários outros pilotos, de Lewis Hamilton a Fernando Alonso, o “veterano” polaco deixa uma garantia: “Do ponto de vista da condução, é muito simples. Se não fosse capaz de ser competitivo, não estaria aqui. Eu e a Williams vimos que, ao longo dos últimos 16 ou 18 meses, eu era capaz de o fazer, porque as minhas limitações não são tão castradoras como as pessoas poderão pensar”.

O Mundial 2018 encerra no domingo, em Abu Dhabi, onde o polaco começará a treinar-se já na próxima semana, com um misto de entusiasmo e realismo. “Vamos começar do zero, por isso não tenho receio de ter estado afastado tanto tempo. Estou ansioso, mas sei o que é preciso e o que tenho de fazer”.

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