Quase um quinto da população portuguesa sofre de doenças mentais

Relatório Health at a Glance 2018 põe Portugal como o quinto país da União Europeia com mais casos de doenças mentais. Os problemas mais comuns são a depressão e a ansiedade.

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Nelson Garrido

Portugal é o quinto país da União Europeia com maior prevalência de problemas de saúde mental. De acordo com o relatório Health at a Glance 2018, divulgado esta quinta-feira pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), 18,4% da população portuguesa sofre de doença mental, onde se inclui ansiedade, depressão ou problemas com o consumo de álcool e drogas.

As estimativas são referentes a 2016, com base no trabalho feito pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, sigla em inglês). De acordo com o relatório da OCDE, que analisa dados de 36 países europeus — entre os quais os 28 que fazem parte da União Europeia —, “mais de uma em cada seis pessoas nos países europeus sofre de um problema mental”. A média europeia é de 17,3%, ou seja as estimativas apontam para perto de 84 milhões de pessoas afectadas por este problema.

Os problemas mais comuns são ansiedade, com uma estimativa de 25 milhões de pessoas a viver com este problema, seguido de depressão, que afecta 21 milhões de pessoas. Estima-se que 11 milhões de indivíduos na Europa tenham problemas de consumo de álcool e/ou drogas. Doenças mentais graves como a doença bipolar afecta quase cinco milhões de pessoas e a esquizofrenia 1,5 milhões”, diz o relatório.

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No topo da lista de países com maior prevalência estão a Finlândia, a Holanda, França e Irlanda, com taxas iguais ou superiores a 18,5% da população afectada por estes problemas. Logo a seguir surge Portugal, na quinta posição, com 18,4% de prevalência estimada. Também em Portugal, os problemas mais comuns são a depressão e a ansiedade (cada um afecta 6% da população). Seguem-se os problemas relacionados com o consumo de álcool e drogas (2%) e a doença bipolar e esquizofrenia (2%).

Os países com menos prevalência são a Roménia, Bulgária e Polónia, com taxas inferiores a 15%. “As diferenças podem estar relacionadas com o facto de em alguns países a população estar mais alerta para a saúde mental e à existência de menos estigma associado às doenças, assim como um acesso mais fácil aos cuidados de saúde e com isso haver um diagnóstico mais cedo. Em muitos países ainda há um grande estigma, associado ao facto de que é melhor não falar de doenças mentais”, lê-se no documento.

Na lista de doenças mentais não estão contabilizados problemas com demência, tema que no ano passado mereceu especial destaque da OCDE. Nesse relatório Portugal também estava entre os países com prevalências mais altas de demência, com 20 em cada mil habitantes a sofrer desta doença.

Afecta em todas as idades

Em termos gerais, o Health at a Glance 2018 aponta para as diferenças de género — com as mulheres a registarem mais casos de ansiedade, depressão e doença bipolar — e de educação.

As pessoas com menos do que secundário têm duas vezes mais possibilidade de registar depressão crónica do que aqueles que têm um nível de educação superior”, adianta o documento, que também refere que os desempregados são mais susceptíveis de ter uma pior saúde mental do que aqueles que estão empregados.

Sem prevenção e tratamento adequado, diz a OCDE, as doenças mentais podem ter um efeito profundo na vida das pessoas. “Crianças e jovens com uma pior saúde mental têm piores resultados escolares e piores oportunidades de emprego. Adultos com má saúde mental são menos produtivos e mais sujeitos ao desemprego. É mais provável que idosos com problemas mentais sejam mais isolados e menos activos na sociedade”, refere o documento, que salienta o facto de vários países, entre os quais Portugal, terem planos de saúde mental.

Segundo o relatório, em 2015, mais de 84 mil pessoas morreram na Europa devido a doença mental e suicídios. Números que a OCDE diz estarem subestimados, pois “muitas pessoas com doença mental morrem prematuramente por doenças crónicas e problemas físicos que não foram devidamente tratados. Portugal está abaixo da média de suicídios por 100 mil habitantes.

Custos pesados

O Health at a Glance 2018 afirma que o custo associado às doenças mentais é muito elevado também a nível económico. O relatório estima que os custos da doença mental representem mais de 4% do PIB dos 28 países da União Europeia em 2015. Ou seja, mais de 600 mil milhões de euros.

Este valor engloba custos directos com saúde (190 mil milhões de euros), com a segurança social (170 mil milhões de euros) e custos indirectos associados à baixa produtividade laboral e desemprego (240 mil milhões de euros). “Apesar dos valores serem consideráveis, são subestimados pois vários custos adicionais não foram tidos em conta”, ressalva o relatório, dando como exemplo as limitações de horas de trabalho dos cuidados informais.

O peso do custo das doenças mentais varia entre países. Na Roménia, Bulgária e República Checa, este peso está entre os 2% e os 2,5% do PIB. Já na Dinamarca, Finlândia, Holanda e Bélgica representa valores acima dos 5% do PIB. Em Portugal, a estimativa do custo total das doenças mentais é de 6,5 milhões de euros (3,6% do PIB).

O que acham da sua saúde

O relatório volta a dar dados sobre a percepção que as pessoas fazem da sua saúde. Apesar de a comparação ser limitada pela interpretação que as pessoas podem fazer, o relatório refere que de forma geral a população europeia classificou a sua saúde como positiva.

“Dois terços da população com 16 e mais anos reportou ter boa saúde em 2016. Irlanda, Chipre, Holanda e Suécia têm o maior número de adultos a afirmar que está bem de saúde. Em contraponto, menos de metade dos adultos da Lituânia, Letónia e Portugal reportou estar bem.”

Segundo o documento, um terço dos inquiridos em Portugal disse sentir-se limitado nas suas actividades diárias. Limitações que aumentam com a idade.

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