Inquérito será sobre o 'antes', o 'durante' e o 'depois' do roubo

Bloco recorre à fórmula de Marcelo: saber tudo de alto a baixo e doa a quem doer.

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O socialista Neto Brandão preside à comissão parlamentar de inquérito Daniel Rocha

A comissão parlamentar de inquérito ao furto do material militar de Tancos estabeleceu esta quinta-feira o seu âmbito temporal. As investigações incidem sobre o "antes", as condições pré-existentes; o "durante", como foi possível e quem roubou; e o "depois", o encobrimento da devolução de parte do material furtado.

“O que nos interessa é saber como desapareceu, e se desapareceu, o material de guerra dos paióis de Tancos; como apareceu, e se apareceu; e o encobrimento relativo ao que apareceu”. Esta foi a fórmula do deputado do PSD, Carlos Peixoto, para situar os trabalhos.

“Há um 'antes', um 'durante' e um 'depois' de Tancos, temos de fazer uma leitura enquadrada e numa perspectiva cronológica”, considerou Ascenso Simões, do PS. “Não temos problemas em discutir o 'antes', mas queremos discutir por que isto aconteceu nesta data e com este Governo”, destacou Telmo Correia, do CDS.

“O furto de Tancos foi um furto de oportunidade, há condições objectivas que levaram à degradação da segurança nos paióis”, sublinhou Jorge Machado, do PCP. “Viabilizámos a comissão parlamentar de inquérito para, como diz o senhor Presidente da República, apurar de alto a baixo e doa a quem doer, sem interferir na investigação judicial em curso”, disse João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda.

Se a intervenção bloquista surpreendeu pela invocação dos argumentos de Belém, são significativas as nuances perante a existência, ou não, de balizas temporais. A esquerda quer investigar tudo. O CDS admite este nível de discussão, mas quer focá-la sobre a acção do actual executivo.

O PSD - cujo dirigente Aguiar-Branco era ministro da Defesa e cuja coordenadora da bancada na comissão de inquérito é a antiga secretária de Estado da pasta, Berta Cabral - não retorquiu aos argumentos dos outros quatro partidos. “Não podemos confinar este debate a um momento temporal”, reconheceu, ao PÚBLICO, o deputado Carlos Peixoto.

No início de Dezembro serão apresentadas as listas de documentos e de inquirições e votado o requerimento do CDS para que a documentação enviada à comissão de Defesa pela Procuradoria-Geral da República (PGR), incluindo a classificada como em segredo de Justiça, seja encaminhada para a comissão parlamentar de inquérito.

O PSD apoia, e a esquerda discorda, considerando que a matéria sensível deve ser devolvida à PGR. A questão será debatida na comissão de Defesa após a aprovação do Orçamento. Ao PÚBLICO, o seu presidente, Marco António Costa, do PSD, reservou o esclarecimento da sua posição para os seus pares.

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