Fusão de sindicatos gera divisões entre Norte e Sul

As três estruturas dos sindicatos do sector bancário ligados à UGT vão consultar os associados sobre o plano de uma fusão nacional debaixo de um só nome. Mas o projecto não é consensual.

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RG Rui Guadencio

Os sindicatos do sector bancário filiados na UGT, nomeadamente do Sul e Ilhas, do Norte e do Centro, vão consultar, já no próximo dia 27 de Novembro, os associados sobre a criação de uma estrutura sindical nacional única. No conjunto, os três sindicatos verticais da banca representam entre activos e reformados, cerca de 56 mil bancários, ou seja, à volta de 60% do universo total (entre sindicalizados ou não).

A intenção de reunir os três sindicatos verticais (SBSI, SBN, SBC) numa única estrutura nacional com mais poder negocial, aparentemente ganhou fôlego com a entrada em jogo do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários que, nos últimos tempos, tem vindo a conquistar adesões junto dos trabalhadores do sector (o número avançado pelos responsáveis é de 19 mil).

A ideia não é nova. Os primeiros passos foram dados no início da década passada quando se começou a falar na unificação em termos nacionais dos sistemas de saúde dos bancários (os SAMS- Serviços de Assistência Médico-Social), o que nunca se concretizou. E esta é uma das razões que leva hoje o SBN a levantar objecções ao movimento de concentração a referendar já na próxima semana.

João Abreu Pires, membro da comissão sindical de empresas do SBN, eleito pela tendência Bancários de Portugal, tem vindo a assumir a contestação a este projecto. Ao PÚBLICO lamenta que sempre tenha existido falta de “vontade por parte do [Sindicato Bancário] Sul e Ilhas de unir os serviços de assistência e saúde [designados SAMS], que constitui hoje uma dos benefícios mais importantes que os sindicatos prestam aos associados”. O sindicalista avança com outro dado: a tabela médica praticada “pelo SBN é de 5,25 euros por consulta, enquanto a do SAMS do SBSI é de 12 euros, e temos de saber se os filiados no SBN estão disponíveis para pagar o diferencial ou se as taxas do sul baixam para 5,25 euros”.

Por sua vez, Joaquim Mendes Dias, à frente do MECODEC, a estrutura que garante e regula o funcionamento dos órgãos deliberativos do Sindicato Bancário Sul e Ilhas, lembra que todos os sindicatos filiados na UGT [banca e seguros] envolvidos no projecto deram luz verde à solução pelo que “não compreende a argumentação” do dirigente sindical nortenho, que é partilhada pela direcção do SBN.

E isto, refere Mendes Dias, porque “se a estrutura que se vai criar é de carácter nacional, então todos os bancários pagarão o mesmo.” E sustenta uma história com “mais de 40 anos, em que o SBSI conta com um sistema de saúde com serviços próprios”, designadamente, dispõe de um hospital. “O objectivo”, salienta Mendes Dias, “é conseguir negociar melhor e mais barato com todos os prestadores de serviço. Queremos integrar os SAMS numa estrutura nacional prestadora de serviços de saúde ao sindicato nacional (a criar), o financiador.”

Hoje, o SBSI conta com um quadro de pessoal de 1400 funcionários, dos quais apenas 100 operam como administrativos, sendo que os restantes 1300 desempenham funções no sistema de saúde (a que se juntam mais 1700 de prestadores de serviços).

João Pires, do sindicato do norte, defende que “a FEBASE (a plataforma da UGT que une os três sindicatos bancários) actua sobretudo no quadro da negociação e contratação colectiva de trabalho”. E não consegue “antecipar, do ponto de vista dos associados do SBN (com um quadro de 300 trabalhadores), benefícios directos imediatos de uma fusão a três”. Sublinha: “O SBN tem um grande património imobiliário, nomeadamente no centro do Porto que pertence aos associados, e há que acautelar o destino que lhe será dado perante uma eventual fusão. A ideia inicial era a fusão, mas agora teme-se que o caminho seja o da integração do SBN no SBSI”, com uma estrutura de custos mais pesada e menos activos.

A isto, e embora abra a porta a uma junção sindical concretizada por diferentes vias, Mendes Dias (do sindicato Sul Ilhas) responde: “Colocam-se pedras no caminho para desviar a atenção de outras coisas.” Contrapõe: “No SBN são mais regionalistas e presos às tradições. Mas os sindicatos têm que se abrir, pois o mundo não parou e a banca perde milhares de trabalhadores por ano, não faz contratações, e é distinta da que era há três anos”, uma referência à crescente digitalização da actividade. Daí o nome mencionado para baptizar a nova estrutura que vier a ser constituída: Sindicato Nacional da Banca, Seguros e Tecnologias.

Os “referendos” vão ser realizados todos no mesmo dia, a 27 de Novembro, e os resultados serão levados à discussão dos órgãos superiores dos sindicatos. Já as perguntas não são iguais. O SBSI quer saber a opinião dos seus associados sobre “o alargamento do âmbito geográfico do Sindicato a todo o território nacional e do âmbito profissional de modo a poder admitir no seu seio trabalhadores de outras áreas do sistema financeiro – individualmente ou em grupo – designadamente trabalhadores dos seguros, consultorias e IT&I.”

O SBC apresenta uma questão na mesma linha, mas pede permissão para decidir sobre o figurino “mais adequado, a fusão ou outra forma de integração”.

Diferentemente, e em consonância com as suas preocupações e reticências ao projecto, o sindicato do norte que saber se os filiados consideram existirem condições e razões, ou não, que justifiquem a extinção do SBN e a sua integração num Sindicato Nacional a criar, sediado em Lisboa”.

A chefiar o maior sindicato bancário, o SBSI, com 39 mil associados, no activo (17 mil) e reformados, está o deputado Rui Riso, que se senta actualmente na Assembleia da República na bancada do PS. Segue-se o Sindicato Bancário do Norte, liderado por Mário Mourão (ex-deputado do PS), com um total se quase 12 mil associados. Já o Sindicato Bancário do Centro, presidido por Helena Carvalheiro, tem cerca de cinco mil associados.

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