Ataque homofóbico motiva selecção francesa a usar cores do arco-íris

Gareth Thomas, antigo jogador galês, foi vítima de agressões. No fim-de-semana, os gauleses apoiarão o colega, usando atacadores com as cores da bandeira LGBT.

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Federação de râguebi gaulesa mostra apoio a Gareth Thomas LUSA/FEDERICO PESTELLINI

A selecção de râguebi francesa irá, no próximo fim-de-semana, usar atacadores com as cores da bandeira da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero), como gesto de apoio a Gareth Thomas, ex-internacional galês que, na passada semana, foi vítima de um ataque violento motivado pela orientação sexual. 

Após o incidente, Gareth Thomas — cuja orientação sexual é publicamente conhecida desde 2009 — colocou um vídeo na rede social Twitter, mostrando as lesões sofridas e relatando os acontecimentos que levaram às agressões. “Ontem fui vítima, na minha cidade natal, de um crime de ódio ligado à minha orientação sexual”, revela o jogador de râguebi preferindo, porém, mostrar o lado positivo dos acontecimentos, agradecendo às autoridades e deixando uma mensagem de força a outras pessoas que estejam na mesma situação. “Há muitas pessoas que nos querem fazer mal, mas ainda há muitas mais que nos querem ajudar”, finalizou.

Após a publicação do vídeo, as redes sociais espalharam a mensagem do internacional galês e o relato chegou aos ouvidos de Serge Simon, vice-presidente da Federação Francesa de Rugby que, no Twitter, manifestou apoio do organismo a Gareth Thomas. “Tens o apoio de todo o râguebi francês depois do incidente homofóbico de que foste vítima. Para mostrarmos o nosso apoio, os jogadores franceses vão usar atacadores com as cores do arco-íris. Estamos todos contigo”. Thomas passou dois anos da carreira em França, onde alinhou pelo Toulouse.

Os gauleses vão associar-se ao movimento The Rainbow Laces, que foi criado em 2013 e que tem como principal objectivo a inclusão de pessoas LGBT nas equipas desportivas do Reino Unido. Vários clubes britânicos aproveitarão a oportunidade para, no decorrer do mês de Novembro, mostrarem a solidariedade para com a iniciativa, colocando as cores da bandeira LGBT nas braçadeiras dos capitães, bandeirolas de canto e outros locais no interior dos estádios.

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Clubes vão incluir nos equipamentos adereços com as cores do arco-íris PAULO WHITAKER / REUTERS

O gesto simbólico vai realizar-se no próximo sábado, no Stade de France, no decorrer do jogo internacional que oporá a França e a selecção das Fiji.

“Há imensos desportistas que não se querem assumir”

Ana Chaparreiro, antiga tenista e membro da Intervenção Lésbica, Gay, Trans e Intersexual (ILGA), elogia a iniciativa da selecção francesa e garante que nunca se sentiu discriminada em Portugal: “É um óptimo acto. Sabemos que o desporto, na sua generalidade, continua a ser muito machista mas, pessoalmente, nunca me senti discriminada devido à minha orientação sexual”.

A antiga jogadora sustenta que o ténis é uma modalidade peculiar, no que diz respeito à presença de jogadores LGBT. “O ténis é interessante porque tem muitas jogadoras assumidas e tenistas masculinos não conheço. Até o Roger Federer falou sobre isso mas, de facto, não temos nenhum homem assumido na modalidade”, explicou.

“Em Portugal temos leis muito boas, somos dos países mais avançados. Mas a nível de mentalidades, torna-se um bocadinho difícil. Há imensos desportistas que não se querem assumir”, lamenta Ana Chaparreiro. As razões para esse receio são variadas, na opinião da tenista, e vão desde a perda de patrocinadores ao julgamento social. “Ninguém é obrigado a fazê-lo. Mas é importante que se sinta que não há mal nenhum em assumir a sexualidade. Espero que um dia este receio seja ultrapassado”, finalizou.

O gesto simbólico que terá lugar na França já aconteceu no nosso país, em 2017. Jogadores de basquetebol e râguebi entraram em campo com os atacadores arco-íris para marcar o Dia Internacional Contra a Homofobia, a Lesbofobia e a Transfobia, que se assinala a 17 de Maio. A iniciativa, desenvolvida pela Secretaria de Estado da Cidadania e Igualdade, partiu da organização Boys Just Wanna Have Fun, que tem como objectivo a inclusão de todas as pessoas através do desporto.

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