Lamas e areias dragadas no porto de pesca de Tavira são atiradas para junto da costa

Os pescadores receiam que a praia de Cabanas fique poluída. A Docapescas, dona da obra, garante que os sedimentos estão livres de “qualquer tipo de contaminação” e até podem ser usados para alimentação das praias.

Foto
DR

Os sedimentos dragados no porto de pesca de Tavira estão a ser depositados a escassas centenas de metros da costa. Os pescadores temem que a força do mar arraste as areias escuras para a praia de Cabanas. A empresa dos portos e lotas Docapesca — responsável pela obra — afasta tal hipótese. A limpeza dos fundos do rio Gilão, que no passado já foi local de descarga de esgotos da cidade, está a trazer à superfície todo o tipo de objectos — desde pneus até bicicletas, passando por carrinhos de compras de supermercado.

O presidente da Associação de Armadores e Pescadores do concelho de Tavira, Leonardo Diogo, manifesta-se apreensivo pela forma como os trabalhos estão a decorrer. “Quando foi feita a última dragagem de manutenção, há cerca de nove ou dez anos, lançaram as areias a quatro ou cinco milhas da costa. Agora, saem da barra, andam direito ao nascer do sol e ali a 400 metros da barra — lá vai lixo”.

Nos trabalhos da empreitada, diz a Docapesca, está incluído “um programa de monitorização da qualidade da água, que se iniciou com a recolha de amostras no início [1 de Novembro] dos trabalhos, que se encontram nesta data em análise laboratorial”. Em função dos resultados, adianta, “caso sejam ultrapassados os valores regulamentares, serão adoptadas medidas adequadas à mitigação dos impactos”. O destino final dos dragados, diz a empresa responsável pela gestão dos portos e lotas, segue as orientações das entidades fiscalizadoras. O depósito dos sedimentos, sublinha, está a processar-se “ao largo da praia de Cabanas-Mar, de acordo com as orientações da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o parecer positivo do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e Florestas]”. De acordo com o resultado das amostras recolhidas ainda na fase de projecto, trata-se de “materiais sem qualquer tipo de contaminação, ou seja, material limpo que não apresenta qualquer risco, podendo ser depositado em meio aquático ou utilizado para alimentação das praias sem normas restritivas”.

Por seu lado, o representante dos pescadores disse ter tomado conhecimento do projecto numa reunião na câmara, mas não se apercebeu — nem questionou — do destino que seria dado aos sedimentos. “Pensava que iam largar longe da costa, como aconteceu na outra vez”, justificou.

As obras de reposição dos fundos do Gilão realizam-se às cotas de um e dois metros de profundidade, numa extensão de 300 metros — entre o edifício da lota e a ponte rodoviária a nascente. O objectivo é melhorar as condições de navegabilidade e segurança do canal.

No concelho de Tavira, a lota de Santa Luzia mantém-se dinâmica (facturou em 2017, cerca de um milhão de euros em polvo), enquanto o porto de Tavira perdeu importância piscatória no sector da pesca mas ganhou na sector marítimo-turístico. Os barcos de pesca com redes, em actividade, estão reduzidos a quatro, as embarcações turísticas e de pesca desportiva chegam às oito dezenas

A Docapesca prevê investir em Tavira cerca de 1,2 milhões de euros, repartidos por três projectos: requalificação do edifício da Lota, dragagem parcial do rio Gilão e construção de cais flutuantes para descarga e estacionamento da pesca, bem como as actividades marítimo-turísticas, embarque para as ilhas e abastecimento de combustível. Por outro lado, encontra-se em execução o novo cais da ilha, uma obra de 2,5 milhões de euros, e está previsto ainda para se iniciar este mês uma dragagem no porto de pesca de Santa Luzia, um investimento de 150 mil euros.

“Continua a faltar a principal obra”, observa Leonardo Diogo, sublinhando a necessidade de “um novo porto de pesca, que até já teve direito a cerimónia de lançamento da primeira pedra, no tempo do ministro João Cravinho, mas ficou por aí”. Essa infra-estrutura, justifica, iria servir cinco comunidades piscatórias: Santa Luzia, Cabanas, Tavira, Monte Gordo e Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António.                            

Sugerir correcção
Comentar