Um jogo, mais de 50 pontos por equipa. O que se passa no futebol americano?

Partida entre os Los Angeles Rams e os Kansas City Chiefs entrou imediatamente para o livro de recordes da NFL.

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Os adeptos de futebol americano rejubilaram: pela primeira vez numa partida da National Football League (NFL), a liga norte-americana e fundadora da modalidade, duas equipas marcaram mais de 50 pontos. Na madrugada desta terça-feira, os Los Angeles Rams bateram os Kansas City Chiefs por 54-51.

A notícia foi um (pequeno) consolo para os adeptos californianos, que lidam com a tragédia dos grandes incêndios. “Era algo que Los Angeles precisava, uma segunda-feira normal”, escreveu a revista Sports Illustrated após a partida. É também a primeira vez que uma equipa da NFL perde um jogo quando marca 50 pontos.

O feito não passou despercebido em Portugal, onde existem um campeonato e uma selecção nacional de futebol americano, e, recentemente, os canais da Eleven Sports começaram a emitir alguns jogos da NFL. Junto de especialistas portugueses na modalidade, o PÚBLICO encontrou justificações para este número recorde na liga norte-americana.

André Amorim, o seleccionador nacional de futebol americano e comentador nos canais Eleven Sports, reforçou que este acontecimento foi histórico e invulgar. Mas este resultado teve uma razão de ser porque “a Liga está também a adaptar o jogo para ter mais touchdowns [momento em que um jogador ultrapassa a linha final adversária com a bola nas mãos, vale seis pontos no futebol americano]”. O site Bleacher Report escreve que este jogo foi uma “produção de Hollywood de touchdowns”.

João Antunes, defesa da equipa portuguesa de futebol americano Lisboa Navigators, vai ainda mais longe para explicar o que aconteceu neste jogo em Los Angeles: “Foi uma amostra do que a NFL se tem vindo a tornar. As regras têm mudado a favor do ataque e dos jogadores ofensivos. Têm mais facilidade de marcar pontos”.

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“Os defesas têm mais restrições para fazer uma placagem e isso torna o trabalho das defesas mais difícil, mas tornou o desporto mais seguro”, explicou o jogador. “Há controlo sobre as colisões entre capacetes e sobretudo, quando se fala de jogadores à defesa, estes têm de fazer placagens de uma maneira que antigamente não era só essa”, exemplificou.

Amílcar Piedade, treinador dos Lisboa Navigators, concorda e reconhece que o jogo mudou. “Hoje em dia é muito mais para passar a bola e os jogadores que defendem têm regras que os restringem e fazem jogá-los mais a medo”, afirmou o técnico.

"Antes" e "agora"

Piedade, que já foi jogador, levanta ainda o problema que pode existir para as equipas que defendem à margem das leis do futebol americano: “Uma falta faz avançar a equipa para o local onde queria fazer o passe que foi incompleto. Há esse receio. É uma diferença de filosofia no futebol americano. Antes jogava-se mais a correr com a bola. Agora joga-se mais a correr para a frente para receber o passe”.

Tudo isto favorece o espectáculo que atrai milhões de americanos e outros tantos pelo mundo fora. No entanto, Amílcar Piedade acrescenta nuances à análise: “Como treinador e pessoalmente não acho que seja um jogo 54-51 com grande piada. Só achei piada pelo recorde de pontos. Gosto de ver um jogo em que as equipas defensivamente se impõem”.

Irá este tipo de resultado repetir-se? É difícil: o resultado é invulgar e Los Angeles Rams e Kansas City Chiefs estão a ser as duas melhores equipas e ataques desta edição da NFL. “Os jogos continuam nos 20 e tais pontos por equipa. Este foi o terceiro jogo na história da NFL, desde os anos 30, que colocou tantos pontos no marcador. O jogo que tem mais foi em 1966 com 113 pontos acumulados, em 2004 houve 106 e agora 105. Duvido que possamos ver algo idêntico como ontem”, referem os técnicos.

"Nova geração de treinadores"

A enorme tradição desportiva das universidades norte-americanas também ajuda a que estes jogadores sejam mais rápidos, ágeis e fortes do que os antecessores. Por outro lado, há uma “nova geração de treinadores” a chegar à modalidade.

André Amorim volta ao jogo histórico de Los Angeles: “Sean McVay dos Rams tem 32 anos, Andy Reid dos Chiefs tem 60. Foi por acaso a nova geração de treinadores que ganhou o jogo de ontem [segunda-feira]. Vem com ideias muito próprias, tornou o jogo mais dinâmico, explosivo, interessante. E o resultado é estes pontos que temos visto: mais parece um jogo de basquetebol”, afirmou.

A NFL está na recta final da fase regular, que termina em Dezembro. A partir de Janeiro de 2019, os finalistas estão de olhos postos na grande final do Super Bowl – a 3 de Fevereiro de 2019, em Atlanta, no estado da Geórgia – quando for disputada uma fase a eliminar com as 12 melhores equipas de todas as conferências da NFL.

Os emblemas com melhor classificação ou rácio de resultados seguem em frente para este playoff. Para além das duas equipas que proporcionaram um jogo histórico, os New Orleans Saints e New England Patriots são os outros candidatos ao título.

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