Prótoiro quer que Presidente defenda touradas, de que até gosta, de “ataques inconstitucionais”

Federação pediu audiência a Belém. Em 2015, antes da candidatura, Marcelo disse gostar das faenas, até com toiros de morte. Mesmo que não fosse aficionado, o Presidente teria de intervir, diz Prótoiro.

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Marcelo manifestou-se, em 2015, um aficcionadodas touradas LUSA/PAULO NOVAIS

A Prótoiro-Federação Portuguesa de Tauromaquia pediu uma audiência ao Presidente da República para lhe fazer um ponto da situação sobre “o que se passa pelo país” relativamente “aos ataques inconstitucionais de acesso dos portugueses à cultura”. Vai também pedir a Marcelo Rebelo de Sousa que se pronuncie publicamente sobre “estes ataques enquanto responsável pelo garante da Constituição”.

O pedido de audiência em Belém foi enviado a 7 de Novembro e ainda não obteve resposta.

“Queremos debater com o Presidente da República o envolvimento de alguns órgãos de Estado na restrição que está a ser feita aos direitos, liberdades e garantias de acesso aos cidadãos à cultura”, neste caso às touradas, afirmou ao PÚBLICO Hélder Milheiro, secretário-geral da Prótoiro.

Milheiro diz saber que Marcelo “é um aficionado das touradas” – “foi ele que o revelou publicamente há cerca de três anos” -, mas “o pedido é feito ao Presidente da República, independentemente de ele ser um aficionado ou não”.

“Penso que, face aos ataques que têm sido feitos, o Presidente já devia ter vindo a público, ter uma reacção em relação a estes ataques enquanto garante da Constituição”, acrescentou o secretário-geral da Prótoiro.

Em Fevereiro de 2015, ainda antes de anunciar a sua candidatura a Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, após participar na Tertúlia do Convento, iniciativa organizada pela Junta de Freguesia de Aveiras de Baixo, em Virtudes, concelho de Azambuja, assumiu-se um aficionado das touradas, nomeadamente dos espectáculos com toiros de morte.

“Já assisti diversas vezes a faenas sensacionais que terminaram com a morte do toiro, sobretudo em Espanha, e não me lembro de ter ficado indignado com o facto. Em Portugal há quase uma tradição contra isso desde o tempo do Marquês de Marialva”, afirmou na altura ao jornal O Mirante.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou mesmo “incompreensível” o facto de “haver pessoas e movimentos que se opõem à realização de touradas em Portugal”. Afirmando que não se via como um “homem das cavernas” ou um “troglodita”, como por vezes são classificados os aficionados pelos activistas antitouradas, o agora chefe de Estado deu o exemplo de Pablo Picasso, que “era um amante de toiros e tinha uma visão de esquerda”, ou do próprio Manuel Alegre, que além de ser político e poeta “é caçador e gosta de touradas”.

No início deste mês, a Prótoiro e a Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal reclamaram a demissão da ministra da Cultura, considerando que Graça Fonseca “insultou” os milhões de portugueses aficionados ao afirmar no Parlamento que a discriminação da tauromaquia “não é uma questão de gosto, mas de civilização”.

Nesta segunda-feira, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, afirmou à agência Lusa que olha "com pouca angústia" para a polémica em torno do IVA sobre a tauromaquia e que, enquanto titular da pasta, "não há fragilidade" sobre a matéria.

"Faz parte da forma como as polémicas se geram hoje em dia nas sociedades modernas. Olho para isso com pouca angústia. Não é um tema que me angustie, na perspectiva de hoje em dia vivermos todos muito das polémicas que duram uma semana, duas semanas, três semanas. Vamos ver. E com isto não estou a desvalorizar a questão nuclear", disse.

Para a ministra, a decisão final sobre o assunto cabe agora aos deputados da Assembleia da República. Perante uma divergência destas, garantiu, "o Parlamento será soberano. É o que o Parlamento decidir".

"Quem faz serviço público, no meu caso há vinte anos, é assim. Teremos sempre momentos em que há confrontos, ou há - uma palavra que prefiro - diferendo. (...) O papel que o membro do Governo desempenha é procurar encontrar formas de fazer a 'quadratura do círculo'. (...) Não há fragilidade. É a acção que o membro do Governo deve ter", concluiu Graça Fonseca.

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