Cipan aumenta investimento em Vila Franca de Xira com novo antibiótico

Depois de um período de incerteza sobre a sua estrutura accionista, a empresa agora controlada por espanhóis vai participar num novo antibiótico aprovado nos Estados Unidos.

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PBC PEDRO CUNHA

A Cipan - Companhia Industrial Produtora de Antibióticos vai fornecer em exclusivo a matéria-prima para um novo antibiótico que será lançado, já no primeiro trimestre de 2019, nos Estados Unidos. Aprovado em Outubro pelas autoridades norte-americanas, o “Nuzyra” tem por base a omadiciclina, que vai ser produzida na indústria portuguesa instalada há 55 anos na Vala do Carregado, norte do concelho de Vila Franca de Xira.

Para desenvolver esta produção, a Cipan vai investir cerca de seis milhões de euros numa unidade própria, um valor que se junta a outros oito milhões já investidos na fábrica nos últimos dois anos pelo grupo espanhol Suan Farma, que adquiriu a Cipan em 2016. A companhia portuguesa, especializada no fabrico e comercialização de ingredientes activos farmacêuticos, principalmente antibióticos, mas também outras matérias-primas, atravessa uma fase de crescimento. Registou em 2017 um volume de negócios de 19,2 milhões de euros, mais 7,6 milhões do que no ano anterior. E pretende atingir os 25 milhões já em 2018.

Héctor Ara, presidente do grupo Suan Farma, faz um balanço positivo desta aposta na aquisição da empresa portuguesa, frisando que tem muito know-how acumulado e que é uma das poucas no mundo que dispõe de condições para produzir, em simultâneo, compostos farmacêuticos por fermentação e por síntese química. Héctor Aras revelou ao PÚBLICO que é intenção da Suan Farma transferir o seu centro de investigação, actualmente em Barcelona, para as instalações da Cipan.

“Temos conseguido resultados sólidos que nos animam. A utilização da capacidade da Cipan hoje ainda é reduzida, está nos 20/30 por cento. Temos 70% de possibilidades de crescimento, utilizando a grande capacidade de produção que a Cipan tem. No mundo, menos de dez fábricas têm esta capacidade de fazer fermentação e síntese química. A Cipan é uma delas e isso é algo que vamos aproveitar”, observou Héctor Aras.  

O novo antibiótico, patenteado por uma empresa norte-americana, está em fase de avaliação pelas autoridades europeias e, prevê a Cipan, deverá entrar numa fase de comercialização alargada no início de 2020. Segundo Teresa Alves, directora-geral da Cipan, trata-se de um antibiótico com três grandes indicações, para combater infecções urinárias, pneumonias adquiridas na comunidade e infecções dermatológicas.

Teresa Alves adiantou ainda que nos planos da companhia portuguesa está, também, o retomar da produção de alguns antigos antibióticos, tendo em conta as dificuldades de fabrico que têm existido na China por questões ambientais, mas também o facto de ser cada vez mais notória a perda de eficácia de alguns dos antibióticos hoje em dia mais comuns.

Nestes últimos dois anos, a Cipan investiu oito milhões de euros na construção de uma nova estação de tratamento de águas e na modernização das instalações industriais. O número de funcionários quase duplicou no mesmo período, situando-se actualmente nos 174, dos quais 56 com formação superior.

Período conturbado

Fundada em 1960 por Sebastião Alves, a Companhia Industrial Produtora de Antibióticos iniciou a sua actividade em 1963 nas instalações da Vala do Carregado, na freguesia da Castanheira do Ribatejo. Com uma gestão inovadora cresceu rapidamente no mercado e, nas décadas de 80 e 90, chegou mesmo a desenvolver e instalar fábricas farmacêuticas em vários países de África e da Ásia, afirmando-se como líder mundial no fabrico de antibióticos da classe tetraciclina.

Com o novo milénio, acentuaram-se, no entanto, as dificuldades da empresa portuguesa para competir no mercado global. O grupo Atral-Cipan entrou numa fase de redução de produção e de quadros e, em 2014, consumou mesmo um processo de despedimento colectivo de 60 funcionários, alegando “fragilidades” financeiras. A Cipan funcionava num modelo de capital aberto, com a maioria das acções detidas pelo grupo Atral-Cipan. Em 2016, com os Laboratórios Atral e a Cipan já formalmente separados, a Companhia Industrial de Antibióticos despertou o interesse de grupos norte-americanos e espanhóis. Primeiro foi a Chartwel Pharmaceutical a lançar uma oferta de aquisição de 8,8% do capital, para juntar aos 2% que já detinha. A administração da Cipan opôs-se e não houve acordo.

Surgiu, então, o interesse do grupo espanhol Suan Farma, que lançou uma oferta pública de aquisição no final de 2016, conseguindo, assim, adquirir cerca de 87% do capital da Cipan. A Chartwel ainda tentou contrariar este processo, mas acabaria por vender os 4,76% que ainda detinha, em 2017, à Suan Farma. Controlando perto de 92%, o grupo espanhol optou por retirar a Cipan da bolsa portuguesa, iniciativa aprovada na assembleia-geral de Março último. No Verão, a SuanFarma ofereceu 0,329 euros por cada um dos cerca de dois milhões de títulos (8,22%), cujos detentores não se haviam pronunciado a favor da saída do mercado aberto.

O grupo Suan Farma foi criado em 1993 e dedica-se ao desenvolvimento, produção e comercialização de matéria-prima e de produto terminado para os sectores farmacêutico, biotecnológico, veterinário, nutricional e cosmético. Tem uma rede comercial espalhada por mais de 60 países e registou em 2017 um volume de negócios de 172 milhões de euros. 

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