A revolta dos "coletes amarelos" ameaça bloquear Paris no sábado

A origem do protesto é o aumento do preço dos combustíveis, em nome da transição para energias mais ecológicas. Mas é um levantamento da França que não votou em Macron que está em curso.

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"Macron, demissão", escrevram no sofá os manifestantes dos "coletes amarelos" em Fos-sur-Mer, onde bloquearam depósito de combustível Jean-Paul Pelissier/REUTERS
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Macron esteve esta segunda-feira na Bélgica: só falará quando "for adequado" JULIEN WARNAND/EPA
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Manifestante nos Campos Elíseos, em Paris, no último sábado Charles Platiau/REUTERS

O movimento de protesto “Coletes Amarelos”, contra a nova taxa de combustível para financiar a transição energética em França, que ainda esta segunda-feira bloqueava grandes depósitos de combustível em vários locais do país, está já a convocar novos bloqueios para dia 24 – desta vez com o objectivo de obrigar Paris a parar. O Governo garante que não vai voltar atrás e o Presidente Emmanuel Macron diz que só “responderá quando for adequado” e não quer recuar.

Este movimento de protesto, espalhado pelo território francês, não tem líderes nacionais. Mas tem nas suas fileiras figuras ligadas a partidos nacionalistas e de extrema-direita. Exemplo disso é o autor de um dos apelos para o bloqueio de Paris: Frank Buhler é delegado do partido Debout la France, de Nicolas Dupont-Aignan, no Departamento de Tarn-et-Garonne (na região de Toulouse), e já foi membro do partido de Marine Le Pen. Lançou o apelo para o bloqueio a Paris no sábado num vídeo publicado na sua página no Facebook, Patriosphère Infos, que esta tarde tinha mais de 14,5 mil partilhas e 185 mil visualizações.

O outro apelo vem de Éric Drouet, um motorista de Melun que esteve na origem da convocação da manifestação do último sábado, em que foram feitas 400 detenções e uma pessoa morreu – uma manifestante que bloqueava uma estrada foi atropelada por uma condutora que tentava levar a filha ao médico e que se assustou quando os “coletes amarelos” começaram a bater no seu carro. Há notícia ainda de 400 feridos, uma agressão com motivação islamofóbica e outra de cariz homofóbica, relatam os media franceses.

Os sindicatos mantêm-se longe destas mobilizações.

Calcula-se que, no sábado, 290 mil pessoas tenham saído à rua em França, bloqueando estradas contra o aumento das taxas sobre os combustíveis fósseis que levarão à subida do preço da gasolina e do diesel. O Governo espera arrecadar 37.700 milhões de euros com esta subida em 2019, mas curiosamente, “só 7200 milhões serão canalizados para transição ecológica”, para financiar formas de energia menos poluentes, escreveram no Le Monde de sexta-feira Emmanuel Combet e Jean-Charles Hourcad, autores do livro Fiscalité carbone et finance climat, un contrat social pour notre temps (Les Petits Matins, 2017). 

“Para os cofres do Estado irão 17 mil milhões de euros, 12.300 milhões para a administração local e 1,2 mil milhões para as infra-estruturas de transportes”, dizem os investigadores, que analisam as duas suspeitas sobre as quais assentam o protesto dos “coletes amarelos". A primeira é, precisamente, qual será o uso dado ao dinheiro. O outro, “tem a ver com a injustiça de uma taxa que vai afectar mais as camadas mais desfavorecidas do que mais ricas, mais os que vivem no campo que os que vivem nas cidades”, argumentam.

Para além da taxa

Uma sondagem do instituto IFOP para o Journal du Dimanche, divulgada no sábado, diz que 62% dos franceses preferem que, nos próximos anos, o Governo dê prioridade “a políticas que aumentem o seu poder compra e não avance tão rapidamente na transição energética”. A sondagem foi feita telefonicamente, nos dias 16 e 17 Novembro, apanhando o dia do protesto dos “coletes amarelos”.

Mas é ideia comum dos sondados que este movimento vai muito mais além do que o seu propósito original – 89% partilham esta ideia. O que não é admirar, pois no sábado um grupo de manifestantes “coletes amarelos” dirigiu-se para o Palácio do Eliseu exigindo a demissão do Presidente Macron.

A França que se levantou para protestar contra a taxa dos combustíveis e pedir a demissão de Macron não é a França urbana, que gosta de se mostrar ligada ao mundo. É a outra França, das pequenas cidades na orla das grandes metrópoles, que não é servida por boas redes de transportes – e onde as pessoas dependem do automóvel para ir para o emprego ou para se movimentarem.

Se tivermos como referente a segunda volta das presidenciais de 2017, esta é mais a França que se sente desprezada e perdedora (a França da líder de extrema-direita Marine Le Pen) – com a globalização, os caminhos da economia e da sociedade. Até agora, Macron não teve grandes respostas para esta parte do país – e insiste em não fazer como os seus antecessores, que face a pressões fortes, recuaram nas suas medidas.

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