PEV pede "reforço" e promete não "andar atrás de um ministério"

Ecologistas terminaram a sua convenção com cinco desafios para os próximos anos: mitigar as alterações climáticas, reduzir o uso do plástico, preservar a valorização da biodiversidade, melhorar a educação e combater as assimetrias regionais.

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Enric Vives-Rubio

O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) terminou neste domingo a sua convenção nacional a pedir "um reforço" em próximas eleições, e deu sinal de não querer entrar num eventual Governo, porque não vai "andar atrás de um ministério".

O "reforço no PEV" é para "ter mais influência" porque "o país ganhou" com os Verdes mais fortes nos últimos anos, afirmou a deputada e dirigente do partido Heloísa Apolónia no discurso de encerramento da convenção, em Lisboa, perante os convidados do PS, PCP e BE, partidos que também apoiam, desde 2015, o Governo minoritário dos socialistas.

"Queremos continuar libertos dos grandes interesses económicos", afirmou Heloísa Apolónia. "Precisamos de ter mais influência e o país ganha com os Verdes mais fortes. Mas não andamos aí em busca de um ministério a qualquer preço", salientou a dirigente dos Verdes aos delegados à convenção, motivando alguns risos na sala, uma semana depois de, no congresso do Bloco de Esquerda, a bloquista Mariana Mortágua ter admitido que o partido está pronto a integrar um governo.

Em vésperas de ano eleitoral, com europeias, legislativas e regionais na Madeira, em 2019, Heloísa Apolónia abriu a porta à reedição do entendimento com PCP, Intervenção Democrática e independentes na Coligação Democrática Unitária (CDU), afirmando serem eles os seus parceiros, apesar de, ao PÚBLICO, no sábado, não descartar a hipótese de o PEV concorrer sozinho.

"A parceria que encontramos é na CDU, com o PCP, a ID e inúmeros independentes, a força de transformação à esquerda onde partidos, que têm posições diferentes em várias matérias, mas que, em questões importantes de modelo de desenvolvimento, convergem e fazem dessa convergência a força da intervenção e da influência para a mudança", defendeu Heloísa Apolónia perante os delegados ecologistas e os convidados.

Na entrevista ao PÚBLICO, questionada sobre se não está no horizonte do partido discutir uma ida a eleições sozinho, a deputada respondeu que "essa questão nunca está fora de hipótese, porque em cada acto eleitoral a direcção nacional dos Verdes analisa qual é a forma em que vai concorrer". E acrescentou: "Dentro de um ano faremos essa reflexão em função das circunstâncias que estiveram criadas. Não descartamos nenhuma hipótese."

Na moção aprovada no congresso, a decisão da forma de participar nas eleições é remetida para o conselho nacional, o principal órgão dos Verdes entre convenções.

Para Heloísa Apolónia, "reforçar os Verdes é dar mais força a muitas lutas que precisam de ser travadas", de modo a "conseguir um país mais sustentável, mais harmonioso, mais coeso, mais justo".

Medidas "arrancadas a ferros" ao PS e ao Governo

Aos delegados, e em frente à delegação de convidados, incluindo Governo, parceiros de maioria de esquerda, o PSD, o CDS, e da Presidência da República, a parlamentar do PEV prometeu ainda que o partido tudo fará para que os portugueses não se esqueçam da "brutalidade" das políticas de direita, entre 2011 e 2015.

E também criticou o PS, o primeiro-ministro e o executivo, representado pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, pelos entendimentos à direita na questão da descentralização de competências para as autarquias. António Costa foi criticado por ter dito, numa entrevista, ser necessário escolher entre aumentos na função pública ou novas contratações na administração pública.

Algumas das medidas positivas dos últimos três anos do governo minoritário do PS com apoio da esquerda foram conseguidas à força, "arrancado a ferros", afirmou ainda a deputada, dando os exemplos dos passes sociais nos transportes sem condição de recursos ou das medidas para "estancar a área de eucalipto".

Na convenção, os Verdes definiram vários "eixos de intervenção" para os próximos anos, embora Heloísa Apolónia tenha destacado "cinco desafios" - mitigar as alterações climáticas, reduzir o uso do plástico, preservar a valorização da biodiversidade, melhorar a educação e combater as assimetrias regionais.

E na educação, os Verdes afirmaram não aceitar nem o "desrespeito pelos professores" nem a "inconcebível teimosia do Governo de não querer contar todo o tempo de serviço e outras carreiras na mesma situação" para efeitos de progressão na carreira, após o período de congelamento. "É inadmissível", clamou.

E para dizer que "vale a pena lutar", Heloísa Apolónia deu o exemplo de duas "lutas" do PEV: o encerramento, em 2024, da Central Nuclear de Almaraz, em Espanha, e a suspensão da prospecção de petróleo ao largo de Aljezur, distrito de Faro.

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