PSD olha para as legislativas com mais pessimismo

Miguel Relvas, ex-ministro de Passos Coelho, avisa: "Rio já ajudou a destruir o PSD-Porto, agora não pode fazer o mesmo a nível nacional".

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Rui Rio assumiu a liderança do PSD em Fevereiro Daniel Rocha

Depois do silêncio durante o Verão e da polémica colagem à chamada taxa Robles, o líder do PSD mostrou-se mais assertivo contra o Governo quando se tornou conhecida a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2019. O caso das falsas presenças do secretário-geral do PSD no plenário da Assembleia da República viria a ensombrar a liderança de Rui Rio, que reduziu a falha a uma “questiúncula”, mas que provocou desgaste na imagem do líder. Não só os mas próximos reconhecem essa perda de capital político do antigo autarca do Porto como os críticos se mostram muito preocupados com o cenário das legislativas de 2019. Num ponto, os dois lados tendem a concordar: depois de dez meses de liderança de Rio o caminho do PSD para um resultado “honroso” parece mais estreito.

Miguel Relvas, ex-ministro de Passos Coelho e crítico da actual direcção, assume ter uma “preocupação muito grande” porque o PSD “está a tornar-se irrelevante”, afastada que foi uma coligação pré-eleitoral com o CDS. Já houve outros momentos em que os dois partidos concorreram a legislativas em separado mas o Governo “estava desgastado”. O antigo dirigente aponta vários erros de estratégia: a falta de afirmação do PSD como “alternativa” e a “entrega do centro político ao PS”.

Apesar de as sondagens apontarem para queda ligeira após as férias, não são esses números que impressionam Miguel Relvas. A saída de Pedro Santana Lopes terá efeito no centro-direita. “Não me deixo levar por sondagens. Não entro em depressão quando são más nem em euforia quando são boas. Uma cisão tem custos e a entrega do centro tem custos”, afirma, em declarações ao PÚBLICO.

O antigo braço-direito de Passos Coelho chega a ser demolidor para Rui Rio. “O pretenso líder regional ainda não se transformou em líder nacional”, aponta, lembrando que “os grandes líderes foram aqueles que souberam perceber os anseios do eleitorado” e que “não são os eleitores que têm de se adaptar ao líder do partido”. O agora colaborador na consultora Roland Berger deixa um aviso a Rio: “Já ajudou a destruir o PSD no Porto não pode fazer o mesmo a nível nacional.”

A perspectiva para as legislativas é, por isso, muito pouco animadora. Miguel Relvas quer acreditar que “o PSD nunca vai descer dos 25%”, mas mostra-se insatisfeito com essa meta e reitera as “saudades” que terá dos 29% de Manuela Ferreira Leite em 2009, quando José Sócrates perdeu a maioria absoluta. 

Outra fonte social-democrata, crítica da estratégia da direcção, usa outra fórmula para criticar a forma distante e pouco mobilizadora como Rio lidera o partido: “O PSD tem um presidente, mas precisa de um líder”.

O próprio Rui Rio reconheceu, no início de Outubro, numa entrevista à RTP, que o PSD ainda não estaria em condições de ganhar as eleições, se fossem hoje, e que essa sua leitura não decorre de sondagens mas sim da sua percepção. Nessa entrevista, ainda antes da polémica com o secretário-geral, Rio disse esperar que a situação se inverta até às eleições por causa do desgaste do Governo.

Agora há figuras do PSD, futuros candidatos à sucessão de Rio, que assumem uma perspectiva mais pessimista. Luís Montenegro, ex-líder parlamentar, mostra preocupação sobre o futuro do partido e admite que é possível que o PSD ainda vá a tempo de se afirmar como uma alternativa, mas considera que agora “é mais difícil do que há nove meses”. Aos microfones da TSF, há uma semana, Luís Montenegro adoptou um tom pessimista: “Se as eleições fossem hoje, não venceríamos e não teríamos um resultado honroso”.

O caso de José Silvano e a atitude de Rio ao desvalorizá-lo veio, de novo, agitar as águas no PSD, depois de umas semanas de acalmia e de algumas vozes sociais-democratas – como Miguel Poiares Maduro - terem vindo dar como certo que o líder do PSD chegará a candidato a primeiro-ministro em Outubro de 2019. Luís Montenegro já tinha desfeito a dúvida, no início de Outubro, ao assumir que não iria patrocinar o derrube da direcção antes das legislativas, mas agora define uma fasquia para a sobrevivência de Rio após as eleições: “Se a diferença para o PS for de mais de dez ou 15 pontos, é muito difícil sustentar [o líder] para um novo ciclo eleitoral".

Para Miguel Morgado, antigo assessor político de Passos Coelho, foram as “opções estratégias” desta direcção que levaram o partido à actual situação, nomeadamente a aproximação ao PS e o “repudiar de certos aspectos dos oito anos anteriores de uma maneira suicida”, combinando isso com a afirmação de uma “pureza ideológica” do PSD, que é “artificial”. “Disse em Fevereiro que as duas coisas iriam dificultar a presença do PSD na opinião pública”, reiterou o social-democrata, que tem em preparação um movimento de reflexão sobre a direita.

A direcção do PSD tem vindo a intensificar a mensagem de que as responsabilidades pelas dificuldades de comunicação se distribuem entre os jornalistas e os críticos internos. Essa tónica ficou clara na sexta-feira passada, quando o caso José Silvano já se arrastava há uma semana. Oito dias depois, o vice-presidente Salvador Malheiro voltou a sair em defesa do líder do PSD, para deixar uma mensagem de confiança. “O dr. Rui Rio sabe como ganhar as eleições. Sabe que o foco tem de ser aquelas pessoas que não vão votar”, disse na quinta-feira de manhã no Fórum da TSF sobre o PSD, no qual se inscreveu como ouvinte.

O dirigente queixou-se de não ter o partido todo “a remar para o mesmo lado” e defendeu que o líder “é carismático” e que faz “um trabalho de seriedade”. E lembrou o órgão criado por Rio, o Conselho Estratégico Nacional, que tem cerca de “duas mil pessoas a trabalhar”. As propostas já divulgadas – saúde, união monetária, política de natalidade – serão contributos para o futuro programa eleitoral. Como não têm eco no Parlamento acabaram por desaparecer do espaço mediático.

Depois de divulgado o OE, Rio parece ter encontrado argumentos para atacar o Governo. Falou em “orgia orçamental em ano de eleições”, num orçamento "sem futuro” e exige um “basta de impostos”. Anunciou, entretanto, o voto contra o OE, aliviando a bancada social-democrata que, durante meses, temeu a indicação de abstenção. Depois do processo orçamental, o PSD deverá preparar-se as eleições europeias. Mas sobre isso o líder ainda não deu sinais. 

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