Portugal quer usar fundos europeus para pagar Web Summit

A conferência irá receber cerca de 11 milhões de euros anuais ao longo da próxima década.

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António Costa e Paddy Cosgrave Miguel Manso

O Governo quer usar fundos europeus para custear parte dos cerca de 11 milhões de euros anuais que serão entregues à Web Summit como contrapartida pela permanência da conferência em Lisboa até 2028.

Nesta quinta-feira, foi publicada no Diário da República a resolução do Conselho de Ministros que autoriza uma despesa de oito milhões de euros por ano para os compromissos financeiros assumidos com a empresa organizadora da Web Summit, a irlandesa Connected Intelligence Limited (também conhecida por CI). A estes montantes vão ainda somar-se três milhões anuais provenientes do Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, que foi criado com as receitas geradas pela taxa turística, que no ano passado permitiu ao município um encaixe de 18,5 milhões de euros.

Os pagamentos anuais de oito milhões de euros (que serão actualizados, a partir do segundo ano, de acordo com a taxa de inflação) vão ser assegurados, em partes iguais, pelo Turismo de Portugal e pelo IAPMEI, uma agência estatal de apoio a empresas. É uma divisão que ilustra a forma como as entidades públicas têm encarado a Web Summit: um evento destinado tanto a impulsionar as startups em Portugal, como a despertar a atenção de turistas. 

A resolução do Conselho de Ministros refere que as verbas deverão “preferencialmente” ter origem “em reembolsáveis de fundos europeus”.

“A permanência da Web Summit em Portugal por mais dez anos, após uma candidatura com sucesso da cidade de Lisboa em concorrência com as principais capitais europeias, é essencial à afirmação desta estratégia de longo prazo, enquanto factor de atracção de investimento em áreas de elevado valor tecnológico, de desenvolvimento de um ambiente propício à inovação e de promoção da imagem global do nosso país como destino sofisticado e inovador”, lê-se na resolução.

Quanto vale a Web Summit?

O impacto económico da Web Summit no que diz respeito a receitas com serviços como transportes e restauração foi, no ano passado, estimado pelo Governo em cerca de 300 milhões de euros (o PÚBLICO questionou recentemente o Ministério da Economia sobre estes dados e sobre os detalhes do compromisso financeiro com o evento, mas não obteve resposta). 

Já o impacto na criação e sucesso de startups em Portugal é mais difícil de medir. Por um lado, são precisos anos para se perceber se as novas empresas têm sucesso. Por outro, algumas optam por transferir as sedes para outros países quando obtêm capital de risco estrangeiro, especialmente nos casos de investimentos mais elevados. Contudo, o evento tem sido visto pelo sector como tendo ajudado a aumentar a visibilidade de Portugal nos circuitos do empreendedorismo.

A organização da Web Summit anunciou em Outubro, nas vésperas da terceira edição em Lisboa, que ficaria em Portugal por mais dez anos. O fundador do evento, Paddy Cosgrave, disse que outras cidades tinham apresentado candidaturas e oferecido mais dinheiro. Porém, na decisão de Cosgrave pesou a promessa de ampliação da Feira Internacional de Lisboa, o espaço que acolhe anualmente as startups que vão ao evento, bem como vários palcos secundários para palestras e debates. 

Cosgrave tem tido também um bom acolhimento por parte do poder político desde que aterrou em Lisboa para anunciar a primeira Web Summit em Portugal, ainda no tempo do anterior Governo. Este ano, e como já é habitual, António Costa e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, estiveram na cerimónia de abertura do evento, na qual o autarca agradeceu a Cosgrave: “Quinhentos anos depois, Lisboa torna-se agora a capital do mundo, graças a si". O Presidente da República esteve na sessão de encerramento

A resolução do Conselho de Ministros determina ainda que a relação com a Web Summit continuará a ser gerida pelo Ministério da Economia, que, desde a recente remodelação governamental, é encabeçado pelo ministro Pedro Siza Vieira.

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