Quem (não) quer ir para o Governo em 2019?

Só o PAN e o PEV ainda não demonstraram nenhum desejo de entrar num futuro Governo. Sinal dos tempos.

Já falta menos de um ano para as eleições legislativas que, de acordo com a lei portuguesa, se realizam entre o dia 14 de Setembro e o dia 14 de Outubro do ano correspondente ao termo da legislatura?. Os partidos posicionam-se, cada um com a sua estratégia, lançando pistas para aquela que pode vir a ser uma campanha animada.

A esta distância, já sabemos que o Bloco quer entrar para o Governo, coisa que o PCP também não põe de parte, desde que saiba “para quê e para quem”, e que o CDS já não está na luta por quem ganha, mas antes por quem consegue ter 116 deputados – o que significa ganhar e integrar o Governo. Sobre o PSD, sabemos que o seu líder acredita que pode ganhar as eleições, “basta querer”, mas sabemos também que apesar de Rui Rio ter assinado dois acordos com o Governo, o CDS é que “tem sido o parceiro natural” num futuro executivo, como aconteceu nos três mandatos de Rio na Câmara Municipal do Porto. Há ainda outra certeza: a de que Santana Lopes se vai bater por um resultado de dois dígitos e por dar um contributo para que o centro-direita e a direita assumam o poder... e o Governo.

Conclusão: o poder é sexy e 2019 é o ano em que todos querem ser poder. Em boa verdade, só o Partido Ecologista Os Verdes e o Pessoas-Animais-Natureza (que pode ser uma surpresa eleitoral) ainda não falaram em entrar para o Governo. Um sinal dos tempos da "geringonça".

Apesar dos ímpetos de querer integrar uma equipa governativa (ou talvez por causa deles), a luta eleitoral, em 2019, vai dar-se entre dois blocos: o da esquerda e o da direita. E aí começam as incógnitas que, a um ano das legislativas, são ainda muito mais do que as certezas.

Por que é que a esquerda diz que quer integrar um Governo? Não basta dizê-lo, é certo, mas o facto de os dois partidos à esquerda do PS insistirem que estão preparados para assumir responsabilidades políticas, quaisquer que elas sejam, quando até aqui nunca o quiseram fazer, é interessante.

Eu diria que influenciar o rumo da “geringonça” sem partilhar o ónus das críticas à governação é ter o melhor dos dois mundos. Aparentemente não é. O Bloco e o PCP querem dar o salto e entrar no arco da governação, mesmo sabendo que não o poderão fazer sozinhos. É como se dissessem aos respectivos eleitores: “votar em nós não é igual a votar no PS, porque desta vez estamos dispostos a ter uma voz nos Conselhos de Ministros”. Resta saber se os ganhos eleitorais são assim tão evidentes ou se o desejo de entrar no executivo é real. As sondagens não são totalmente elucidativas.

Como é que os eleitores da direita vão comportar-se perante a oferta partidária? Esta é outra incógnita. Em 2019, o mesmo espaço político vai ser disputado pelo PSD, pelo CDS e pela Aliança. Assunção Cristas tem tentado ocupar o vazio que Rui Rio vai deixando livre, mas ainda não é a líder do maior partido da oposição. O mesmo se pode dizer de Pedro Santana Lopes: é um protagonista com um valor por apurar, mas não lidera a oposição. Esse é o lugar de Rui Rio e deverá sê-lo ainda em Outubro de 2019, a menos que as coisas corram muito pior do que têm corrido até aqui.

É por isso que convém a Assunção Cristas dizer que o importante já não é quem ganha, mas quem consegue ter 116 deputados. Isso pode beneficiar o CDS, mas não é necessariamente bom para Rui Rio. A Rio convinha mostrar a força do PSD como único partido com capacidade real de liderar um Governo, além do PS. Só que o discurso que se ouve do lado dos sociais-democratas para anular esta estratégia parece tirado dos livros de auto-ajuda: “O PSD pode ganhar, basta querer.”

sex appeal do poder está em alta e nos discursos políticos sucedem-se palavras e expressões como "namoro", "casamento", "noivos" ou "juntar os trapinhos". Nunca, antes, o poder teve tanto a ver com o amor. Ou com a conveniência. 

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