Enquanto rola o Bruno Circus Mediaticum, os trabalhadores estão em luta

Durante esta semana tivemos tribunais parcialmente encerrados, serviços públicos a funcionar meramente em serviços mínimos, mas pouco se sabe e pouco se mostra porque não interessa.

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RIta Queiroz/LUSA

Mas que raio se passa neste país, onde basta a bola rolar para nada mais importar?

Todos sabemos da gravidade do assunto que está na génese deste circo mediático criado em torno de Bruno de Carvalho, mas valerá tantas horas mediáticas? Nesta semana não se falou de outra coisa. Será culpado, não será culpado, ficará em preventiva ou não, será que merece, será que não. Aquilo que se pode aferir é o facto de, enquanto corre o circo mediático em torno de um dirigente da bola, os trabalhadores continuarem a empobrecer, trabalhando — e eles estão na rua.

Ignorados olimpicamente pelos media, trabalhadores de vários sectores levam a cabo greves e manifestações com o objectivo de alcançar melhores condições de vida, de salário e de condições laborais. Desde os precários da RTP, os funcionários judiciais e os trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal, incluindo até os estudantes, todos têm saído à rua por melhores e mais condições de vida.

Se o caro leitor ainda não ouviu nada acerca deste assunto é porque ele tem vindo a ser ignorado pelos meios de comunicação social, que arredaram a luta dos trabalhadores portugueses das suas grelhas noticiosas.

É da nossa vida que se trata.

Pouco importa se o presidente da bola fez ou não fez aquilo que dizem ter feito, a justiça encarregar-se-á de investigar, procurar, acusar ou não e condenar ou não. Deixemos para a justiça aquilo que é da justiça e não queiramos transformar a comunicação social numa procuradoria parola e popular. Antes, devemos tomar nas nossas mãos o futuro a que temos direito e não deixar que sejam outros a decidir por nós.

No Porto de Setúbal, os trabalhadores erguem-se agora contra uma forma de exploração altamente reaccionária, onde os patrões impõem um trabalho à jorna como nos tempos de antigamente. Cada turno que acabam é um despedimento que acontece, sendo contratados de imediato para o turno que se segue. Assim, ficam estes trabalhadores impossibilitados de lançar a mão a direitos que um contrato de trabalho, nomeadamente colectivo, lhe proporcionaria. Como expressão recentemente celebrizada, é uma questão civilizacional. Se cumprem trabalho efectivo, o contrato deveria ser efectivo. Mas o que importa é a bola.

Durante esta semana tivemos tribunais parcialmente encerrados, serviços públicos a funcionar meramente em serviços mínimos, mas pouco se sabe e pouco se mostra porque não interessa.

O que interessa é transmitir em loop os carros da GNR que levaram Bruno de Carvalho para o tribunal ou, então, dar voz a um coro de balbuciantes que, sem pudor, tecem teorias, presunções e até previsões do futuro, como nem a Maya seria capaz de prever.

Condena-se e depois julga-se. Julga-se e mesmo assim restam dúvidas.

E enquanto os muitos que gritam prisão preventiva para Bruno de Carvalho se estrebucham pela liberdade de banqueiros que tanto arrecadaram nos bolsos, assistimos, não como cidadãos, mas como espectadores da nossa própria vida, ao definhar da democracia.

O povo está na rua e, com câmaras ou sem elas, continuará a estar até termos o trabalho a que temos direito, a reforma a que temos direito. A vida a que temos direito.

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