Ministro japonês da Cibersegurança nunca usou um computador

Yoshitaka Sakurada pareceu ficar confuso quando lhe perguntaram se nas centrais nucleares do país se usam drives USB, o veículo que facilitou a destruição de grande parte do programa nuclear iraniano na década passada.

Foto
"Desde os meus 25 anos que dou instruções às minhas equipas e secretárias. Nunca usei um computador na vida" Reuters/Issei Kato

O ministro japonês responsável pela estratégia de segurança informática do Governo e pela organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio causou espanto ao declarar, no Parlamento, que nunca usou um computador na vida. Perante a incredulidade de alguns deputados, Yoshitaka Sakurada disse que tem no seu gabinete muitas pessoas com experiência nessa matéria.

"Desde os meus 25 anos que dou instruções às minhas equipas e secretárias. Nunca usei um computador na vida", disse o ministro em resposta a uma pergunta do deputado independente Masato Imai, segundo a agência de notícias Kyodo.

"Acho inacreditável que alguém responsável pela aplicação de medidas de segurança informática nunca tenha usado um computador", comentou Imai.

Em Outubro, no meio de uma remodelação governamental após a reeleição do primeiro-ministro, Shinzo Abe, como líder do Partido Democrático Liberal, Yoshitaka Sakurada foi nomeado ministro responsável pela organização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio em 2020 e ficou também com a responsabilidade de coordenar a estratégia de cibersegurança do Governo.

Uma das tarefas de Sakurada é garantir que o país está preparado para resistir a ataques informáticos durante a realização dos Jogos, num ano em que o Governo prevê receber 40 milhões de turistas e em que a preocupação com possíveis atentados terroristas é maior.

A resposta de Yoshitaka Sakurada, de 68 anos, indignou os deputados da oposição e motivou uma série de comentários nas redes sociais, uns a brincar com a situação, outros a levantar problemas mais sérios.

"Isto não é diferente dos legisladores federais nos Estados Unidos, que fazem leis sobre encriptação ou cibersegurança e não usam email e smartphones", disse a jornalista Kim Zetter, especialista em criminalidade informática e autora de um livro sobre o Stuxnet – o vírus desenvolvido pelos EUA e Israel que destruiu parte do programa nuclear iraniano e que é descrito como a primeira arma digital.

O Stuxnet alastrou-se no Irão por causa do uso de drives USB nas centrais nucleares – uma prática que o ministro japonês não esclareceu se existe no seu país, já que pareceu ficar confuso com a pergunta.

Esta não é a primeira vez que o novo ministro japonês causa polémica no país. Há dois anos, referiu-se às "mulheres de conforto" coreanas – forçadas pelo Japão a serem escravas sexuais antes e durante a II Guerra Mundial – como "prostitutas por ocupação", o que causou indignação na Coreia do Sul.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários