OGMA reitera colaboração após investigação apontar falhas na manutenção do avião da Air Astana

Às várias questões colocadas pela Lusa, nomeadamente se já abriu um inquérito interno, a OGMA diz apenas que "está a colaborar com as autoridades aeronáuticas na investigação das causas do incidente" de domingo.

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NUNO VEIGA/LUSA

Depois de o organismo responsável pela investigação do incidente com o avião da Air Astana apontar possíveis falhas nas acções de manutenção, a OGMA — Indústria Aeronáutica de Portugal reiterou nesta quarta-feira que está a colaborar com as autoridades no apuramento das causas do que se passou.

Uma nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgada pela agência Lusa, diz que "as evidências recolhidas até ao momento (...), e ainda sujeito a confirmação em ensaios adicionais, sugerem a existência de falhas na configuração no sistema de controlo de pranchamento da aeronave, consistentes com eventuais perturbações desse sistema durante acções de manutenção".

A Lusa confrontou a OGMA com estes dados da investigação. E questionou a empresa que fez a manutenção do Embraer 190-100 se já abriu um inquérito interno, como é que reage a estas falhas apontadas pela investigação e se assume responsabilidades na manutenção da aeronave. O avião descolou no domingo de Alverca, depois de um mês em manutenção nas oficinas, e declarou logo a seguir emergência no ar.

Numa resposta escrita, a OGMA refere apenas que, no seguimento da nota divulgada pelo GPIAAF, "reafirma que está a colaborar com as autoridades aeronáuticas na investigação das causas do incidente". Outra das perguntas sem resposta prende-se com a hipótese de os comandos estarem trocados.

O GPIAAF indicou ainda que o Embraer "esteve fora de controlo por alguns instantes, em vários momentos", que todos os ocupantes da aeronave "ficaram física e emocionalmente abalados" e que um dos técnicos sofreu lesões numa perna.

Este organismo descreve que, logo após a descolagem, com condições meteorológicas adversas, "a tripulação sentiu" que o avião "não estava a corresponder adequadamente aos comandos, iniciando um movimento oscilatório das asas".

A tripulação, "usando todos os recursos de controlo da aeronave nos seus três eixos, tentou imediatamente contrariar os movimentos sem, no entanto, perceber a causa da instabilidade do voo e sem conseguir activar o piloto automático", acrescenta a nota do GPIAAF.

"Percebendo que estavam sem controlo efectivo da aeronave, [os elementos da tripulação] apenas minimizavam com muito esforço o movimento oscilatório da aeronave, tendo imposto cargas estruturais elevadas em algumas recuperações", explica a investigação.

A tripulação declarou "de imediato emergência enquanto tentava diagnosticar a causa das atitudes anormais da aeronave" e "lutava para obter o controlo da mesma, sem indicações de falhas nos sistemas" do avião, "apenas alertas insistentes de atitudes de voo anormais".

"A situação não melhorou e as trajectórias provocaram acelerações intensas, impondo esforços à tripulação e passageiros, e levando a que a aeronave ficasse fora do controlo por alguns instantes em vários momentos", relata a nota informativa do GPIAAF. A bordo seguiam um piloto, dois copilotos e três técnicos da companhia aérea do Cazaquistão.

Atendendo "à criticidade da situação, a tripulação solicitou por várias vezes indicação de rumo para amarar o avião no mar", mas não conseguiu manter os rumos desejados.

"A tripulação foi trabalhando em equipa"

A aeronave descolou às 13h31 de domingo da base militar de Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa, onde realizou trabalhos de manutenção programada nas instalações da OGMA e aterrou pelas 15h28 do mesmo dia em Beja.

O avião esteve algum tempo a sobrevoar a região a norte de Lisboa e o Alentejo, numa trajectória irregular, antes de ter sido tomada a decisão de o Embraer aterrar em Beja.

Durante o voo, o GPIAAF conta que "a tripulação foi trabalhando em equipa, discutindo opções e tentando comunicar com os técnicos no sentido de formularem hipóteses e planos de acção".

A tripulação decidiu então passar todo o sistema de comandos de voo para modo directo e "a situação melhorou significativamente", mas "sem restabelecer a operação normal e mantendo-se as dificuldades de controlo no eixo longitudinal da aeronave".

A tripulação constatou, então, que os  ailerons estavam com "um comportamento errático".

Ao ganharem algum controlo da situação, a aeronave rumou para este à procura de melhores condições meteorológicas e começou a seguir o plano traçado pelo serviço de controlo de tráfego aéreo, para uma aterragem de emergência num aeroporto com boas condições meteorológicas e físicas, fruto da dificuldade da aterragem com controlo reduzido da aeronave.

"Nesta fase, em que os pilotos já conseguiam manter altitude e o rumo, e tinham condições visuais, juntou-se à aeronave uma parelha de caças F-16 da Força Aérea Portuguesa que ajudaram no guiamento até ao aeroporto de Beja, entretanto eleito como a melhor opção para a aterragem de emergência", salienta o GPIAAF.

Depois de duas tentativas, a aeronave conseguiu aterrar em segurança em Beja.

O voo KC1388 tinha como destino final a base do operador no Cazaquistão, em Almaty, com escala para reabastecimento em Minsk na Bielorrússia.

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