Os super-heróis não morrem

Stan Lee ficará para sempre por ter sonhado mais alto, mais rápido e mais forte que os homens, e sonhar foi o seu verdadeiro superpoder. Os super-heróis não morrem, e Stan Lee também não.

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Reuters/Mario Anzuoni

Se o termo super-herói data da 1917 e se os anos 30 e 40 do século passado correspondem à proliferação destes personagens míticos, não acreditemos em coincidências: os super-heróis são o fruto das duas grandes guerras na esperança e imaginação de quem os criou, mas também na imaginação das crianças, da chegada triunfal de alguém verdadeiramente superior para nos salvar do mal que ameaça o mundo.

Os super-heróis remontam a um mundo distinto, a preto e branco, como nos filmes, de um lado o bem, do outro o mal, cabendo aos super-heróis triunfar sobre o mal no fim de cada banda desenhada, no fim de cada livro aos quadradinhos.

Stan Lee foi o responsável pela criação do meu super-herói favorito, o advogado cego Matt Murdock, mais conhecido por Demolidor. Talvez pela sua vertente mais humana, mais comum, marcada pela tragédia de Elektra, a tragédia da morte e perda que nos afecta a todos, não pude deixar de me identificar com este personagem de Stan Lee, uma criança de um bairro desfavorecido de Nova Iorque, fruto de uma sociedade violenta e desigual numa altura em que as bandas desenhadas ainda davam os primeiros passos no sentido de humanizar os seus super-heróis.

Mas Stan Lee não se limitou à criação do Demolidor, contando no seu currículo com criações tão geniais como famosas, desde o Homem-Aranha ao Hulk, passando pelos X-Men, Quarteto Fantástico ou Thor.

Filho de judeus romenos, ao nascer em Nova Iorque, Stan Lee acaba por ser o arquétipo da vitória dos seus pais contra um anti-semitismo crescente na América do período entre as guerras, como se os pais de Stan Lee fossem eles próprios super-heróis, e Stan Lee o seu superpoder.

O resto da sua vida foi dedicada a exercer esse poder, o poder da imaginação e do sonho, abrindo as portas do céu e do futuro, estabelecendo a ligação entre manipulação genética e superpoderes, como se cada um de nós, comuns mortais, pudesse ser um super-herói, e podemos, já estivemos mais longe.

Os super-heróis não morrem, ficam para sempre nas nossas mentes e corações pela sua coragem, feitos, vitórias e conquistas. Stan Lee ficará para sempre por ter sonhado mais alto, mais rápido e mais forte que os homens, e sonhar foi o seu verdadeiro superpoder. Os super-heróis não morrem, e Stan Lee também não.

Obrigado por tudo e até sempre.

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