Mónaco viola regras de contratação de menores

O português Ruben Vinagre é um dos exemplos de jogadores jovens recrutados pelo clube monegasco contornando a lei.

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Ruben Vinagre (no centro) é um dos jogadores referidos nos documentos revelados pela Football Leaks Reuters/LEHTIKUVA

A desgraça abateu-se definitivamente sobre o Mónaco após a saída do treinador português Leonardo Jardim. A equipa que conquistou a Liga francesa em 2016-17 está cada vez mais afundada na zona de despromoção e as más notícias não se ficam por aí. O seu presidente, o milionário russo Dmitri Ribolovlev, foi detido a semana passada em Monte Carlo por suspeitas de corrupção e o clube é agora acusado de contratar ilegalmente jogadores menores de idade.

O Mónaco terá oferecido recentemente dinheiro às famílias de dois jovens talentos de 12 e 14 anos para garantir o seu recrutamento, tentando contornar as regras da FIFA que estabelecem que um jogador só pode assinar um contrato profissional a partir dos 15 anos. A informação foi avançada esta terça-feira pelo site da revista alemã Der Spiegel, citando documentos resultantes de investigações com base no Football Leaks.

Em ambos os casos, o emblema monegasco terá oferecido 15 mil euros às famílias como bónus de um contrato oficioso. Ora esta prática é uma violação à lei que estabelece que um contrato com um menor “não dará lugar a nenhuma remuneração ou compensação, nem concederá nenhum benefício a favor de uma pessoa física ou jurídica que actue sobre e em nome de um menor”.

Para se esquivar aos regulamentos, os monegascos recorriam a escrituras privadas, não reconhecidas pela Federação Francesa de Futebol, e garantiam assim às famílias o pagamento de prémios após a assinatura do contrato. Ofereciam ainda outros benefícios ligados à educação, habitação e empregos.

O caso de Ruben Vinagre

Os documentos revelados pelo Football Leaks (investigação que tem divulgado contratos de jogadores e esquemas usados para fugir ao fisco no futebol) e analisados pela Mediapart, uma plataforma independente de jornalismo, referem que estas práticas já vêm do passado, tendo envolvido jogadores como Hannibal Mejbri (hoje com 15 anos), Adrien Bongiovanni (19 anos) e o português, formado nas escolas do Sporting, Ruben Vinagre (19 ano, actualmente ao serviço dos ingleses do Wolverhampton).

Jovens talentos de grande potencial que o Mónaco quis garantir cedo nas suas fileiras para os transferir mais tarde com enormes mais-valias. Tem sido esta a política do clube há vários anos.

Em resposta às acusações, os responsáveis do Mónaco defenderam que este tipo de “recrutamentos” tem um objectivo simples: “Fidelizar [os jovens] com a esperança de que eles se venham a juntar à nossa força de trabalho profissional.”

Outra questão levantada por estes documentos diz respeito às comissões destinadas aos intermediários que agenciam os jovens jogadores. Estes não têm legalmente direito a compensações pela transferência dos menores, mas mais uma vez as regras são contornadas.

Um dos exemplos denunciados diz exactamente respeito ao agente de Ruben Vinagre, Jorge Pires. Foi sugerido pelos responsáveis do Mónaco que este intermediário fosse pago através de um contrato de “scouting”. Uma prática corrente, segundo a Mediapart, para “pagar comissões que não respeitem as regras”.

Mas levantou-se ainda outra possibilidade para liquidar a “dívida” a Jorge Pires, como revelam alguns emails internos do clube agora divulgados. “Como ele [Ruben Vinagre] vai viver no Mónaco e não irá pagar impostos, poderá pagar ao agente”, propôs Daniel Bique, responsável jurídico do clube monegasco.

Outro método passará por cobrar estas comissões através de uma verba na transferência futura de um outro jogador, desde que seja representado pelo mesmo agente.

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