O unicórnio fácil

Acontece com os vinhos de Colares o que acontece com muitas coisas boas que são mais elogiadas do que consumidas.

Durante anos vivi aterrorizado que os vinhos de Colares iam esgotar. Tendo lido todos os elogios e todos os atestados de raridade, vindos de cada vez mais países apaixonados, depressa cheguei à conclusão que era uma questão de tempo até ser todo exportado.

Ia a correr para a Adega de Colares e para as lojas e restaurantes que ainda têm garrafas mais antigas. Depois de dez anos destas expedições açambarcadoras nunca me ocorreu, em vez de ir atrás das declarações de amor dos convertidos, reflectir sobre a minha própria experiência de comprador.

Achava sempre que tinha tido uma sorte dos diabos por conseguir comprar as colheitas que eu queria. O ser humano é, por defeito, autocongratulório. É preciso algum esforço para deixarmos de dar pancadinhas nas nossas próprias costas.

Só depois me ocorreu este facto: nunca tive qualquer dificuldade em comprar vinhos de Colares. É um unicorn wine, como dizem os americanos. Será um vinho condenado a desaparecer, como dizem os especialistas. Mas então porque é que há sempre vinho de Colares à venda, a preços sempre simpáticos, sobretudo na Adega onde se fazem os melhores, de marca Arenae?

A verdade é que acontece com os vinhos de Colares o que acontece com muitas coisas boas que são mais elogiadas do que consumidas. Quantos portugueses nunca experimentaram um Malvasia (branco) de Colares? Ou um dos Ramiscos (tinto) feito durante o mandato benemérito do jovem Francisco Figueiredo?

Ó que raio: em vez de elogiar o vinho de Colares, comprem-no e bebam-no.

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